Já Li #162 - Mulheres Difíceis, de Roxane Gay

 


Aqui pelo Perplexidade e Silêncio já tivemos várias coletâneas de contos, mas acho que "Mulheres Difíceis", de Roxane Gay, foi um dos mais difíceis que já li. Na resenha deste post, falarei um pouco sobre os vinte e um contos que compõem essa antologia, e também sobre a história da própria escritora.

Roxane Gay escreve desde que era adolescente, colocando no papel as experiências autobiográficas com violência doméstica na infância. Ela também veio de um lugar de privilégio, pois sua família tinha uma condição socioeconômica que lhe permitiu acesso à faculdade e a uma "mesada" por vários anos, e posteriormente Roxane também utilizou essa vivência em seus contos.

Publicado em 2017, "Mulheres Difíceis" é uma coletânea com vinte e um contos, onde as mulheres são as protagonistas. Há uma grande diversidade de mulheres ao longo dos contos (idade, profissão, classe social, aparência física, orientação sexual, etc) e o ponto comum entre todos é o abuso. Todas elas experienciam algum tipo de abuso, seja dentro ou fora de casa, e reagem de formas diferentes a ele. 

Embora o título desta coleção seja "Mulheres Difíceis", eu não classificaria nenhuma dessas mulheres como difícil, mas é a forma como a sociedade as enxerga. As protagonistas são apaixonadas, complexas, únicas, fascinantes (no bom e no mau sentido), todas essas características que não são valorizadas m mulheres, criadas para serem domesticadas e dóceis. Algumas estão no auge do amor ou sofrendo a dor da perda; outras se motivam pela necessidade de conquista sexual, realização, até mesmo degradação, enquanto outras querem ternura e companheirismo. Algumas são ferozmente protetoras, enquanto outras egoístas; alguns são feridas pelo mundo ao seu redor, enquanto outras estão prontas para dar o melhor que recebem. 
Acredito que essa o maior mérito dessa obra, pois ela mostra todo o range de possibilidades que uma mulher encerra em si, indo muito além dos papéis de gênero estabelecidos ao longo do tempo.

Por outro lado, achei vários contos repetitivos e pensei que Roxane deveria ter diversificado mais as narrativas. Grande parte dos contos foca em sexo como uma ferramenta de autodestruição, e/ou a protagonista se apaixona por sua melhor amiga e tem uma relação secreta com ela. Muitos contos tem os dois elementos na mesma história. Essa repetição deixou a leitura bem menos interessante, e também acho que foi um desperdício de página. Roxane poderia ter abordado os mesmos temas sob uma perspectiva diferente.

Outra coisa que me incomodou foi o fato de todos os personagens masculinos serem, basicamente, o mesmo. Os homens são todos inúteis, preguiçosos, violentos, abusivos, estupradores, trapaceiros e, no entanto, as mulheres só existem em relação a eles. O que me leva a outro ponto negativo da coletânea: em nenhuma história a mulher é definida de forma alguma fora do âmbito doméstico, elas não têm interesses, nem pensamentos além do homem e da família.

Por isso, no geral, ponderando os prós e os contras, acabou que este livro não é uma leitura que recomendo. Se você busca uma coletânea de contos que fale sobre a mulher de um jeito mais interessante, recomendo Vida Querida, de Alice Munro.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 2/5

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