6 Livros do Feminismo | 3/6 Mística Feminina, de Betty Friedan


Recentemente, li um guia chamado O Livro do Feminismo (série "As Grandes Idéias de Todos os Tempos" #14 da Editora Globo Livros) e ele foi tremendamente inspirador. O guia traz obras e mulheres inspiradores desde o séc XV até os dias atuais e aprendi muitíssimo com ele. Por isso, separei seis obras que contribuíram para a história e a evolução do Feminismo ao longo dos anos que eu faço questão que você conheça. Hoje, falarei de "Mística Feminina" de Betty Friedan.

Quem foi Betty Friedan?
Betty Friedan foi uma das principais vozes da Segunda Onda do movimento feminista, que começou nos Estados Unidos na década de 60. Ela ajudou a fundar a NOW (National Organization for Women) junto com outras 27 mulheres, que escreveram manifestos, projetos de lei e artigos jornalísticos evidenciando as principais desigualdades de gênero no país e, também, as injustiças (sociais, políticas, econômicas) que as mulheres sofriam na época. A NOW também organizava protestos e greves e, por isso, foi alvo de muitas polêmicas, principalmente quando começou a apoiar o casamento lésbico.
Betty foi escolhida como uma das principais porta-vozes da fundação, por seu estilo de comunicação forte e assertivo. Ao longo do tempo, ela foi se distanciando das feministas mais radicais do movimento (como Germaine Greer, sobre quem já escrevi neste post) e se aproximando de questões provocadas pelo Marxismo. Seu foco maior era mostrar para a população que a mulher não tinha as mesmas oportunidades de carreira que os homens, fruto da tal "mística feminina" que perpetuava que a mulher nascera para ser mãe e dona-de-casa.

Mística Feminina (1963)
Este livro começou como uma pesquisa que Friedan conduziu na Smith College na reunião de quinze anos de formatura da sua turma. Com os resultados, ela logo percebeu um padrão de comportamento nas jovens da época: a sociedade via como uma evolução o fato de as mulheres ingressarem na universidade mas, na prática, elas largavam o curso para casar e ter filhos ou não tinham nenhuma pretensão de terminar a graduação e estavam ali "passando o tempo".
Friedan começou a refletir sobre isso e inventou o termo "mística feminina", que é usado até os dias de hoje. Seu livro propõe que pensemos a respeito dos seguintes pontos:

O conceito enraizado na sociedade de que a mulher precisa se satisfazer com o papel de dona-de-casa e, sobretudo, de mãe, o último como a grande e principal aspiração de vida;
Este conceito fez as mulheres começaram a sentir uma angústia e uma inquietação "sem nome", acompanhada de uma forte culpa ("Tenho uma bela casa, marido e filhos, o que está errado comigo que, ainda assim, não me sinto realizada?"). (O que me pensar em "Mrs. Dalloway" de Virgínia Woolf).
Uma vez que a mídia era dominada pelos homens na época, revistas, filmes, jornais e todos os meios de comunicação reforçavam e insistiam que as mulheres se realizassem dentro do papel de dona-de-casa e mãe, acentuando a depressão daquelas que não queriam isso para si. O mesmo aconteceu com a Psicologia de Freud e algumas teorias sociológicas da década.
Outro efeito colateral da "mística feminina" é que a mulher tentava viver através de seus filhos, fazendo com que os filhos perdessem o próprio senso de identidade.
Friedan termina seu livro promovendo a educação e um trabalho significativo fora do lar como o método final pelo qual as mulheres podem evitar ficar presas na "mística feminina", exigindo uma reflexão drástica do que significa ser mulher.

Agora, sobre o livro em si, tive bastante dificuldade de manter minha atenção ao longo dele. Friedan é extremamente repetitiva e eu quase desisti da leitura por causa disso. Lá pela metade do livro, ela ainda não tinha apresentado nenhuma idéia nova, ou seja, ela ficou 120 páginas falando a mesma coisa. Além disso, os argumentos de Friedan são bastante limitados a uma amostra específica da população - mulheres americanas, entre 18 e 35 anos, brancas, de classe média, nos anos 60. 
Por causa destes pontos acima, achei que Friedan perdeu uma grande oportunidade de transformar sua pesquisa na Smith College em uma tese mais racional, abrangente e sólida. Para a época em que o livro foi publicado, o jeitão dela funcionou, mas hoje em dia soa ultrapassado, raso e tedioso. 

Outra coisa que me incomodou no livro foi a discussão superficial sobre os papéis sociais. Desempenhar um determinado papel de "mulher" ou "homem" em vez de ser você mesmo é um problema humano comum, e não algo especificamente feminino. Mas Friedan não aborda o problema dos papéis sociais de forma ampla e profunda, apenas ataca um papel desempenhado por um grupo de pessoas (bastante específico, como mencionei acima) em um curto período de tempo.

Concluindo, não é uma leitura que recomendo, mesmo sabendo de todo o valor histórico que este livro tem no movimento feminista. Desculpa aí, Betty.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

0 Comments