6 Livros do Feminismo | 1/6 A Mulher Eunuco, de Germaine Greer


Recentemente, li um guia chamado O Livro do Feminismo (série "As Grandes Idéias de Todos os Tempos" #14 da Editora Globo Livros) e ele foi tremendamente inspirador. O guia traz obras e mulheres inspiradores desde o séc XV até os dias atuais e aprendi muitíssimo com ele. Por isso, separei seis obras que contribuíram para a história e a evolução do Feminismo ao longo dos anos que eu faço questão que você conheça. Hoje, falarei de "A Mulher Eunuco" de Germaine Greer.

Quem é Germaine Greer?
Germaine Greer é uma das principais vozes da Segunda Onda do Movimento Feminista, que aconteceu nas décadas de 60 e 70. Até o momento, ela tem mais de vinte obras publicadas. Suas obras são marcadas por referências bibliográficas e, não à toa, ela chegou a acumular 150 prateleiras de livros, que foram vendidos para a Universidade de Melborne em 2013 por três milhões de dólares.
Considerada uma feminista radical, seu objetivo principal não é a igualdade de gêneros, e sim, a abolição completa das estruturas de patriarcalismo em níveis profundos da estrutura da sociedade como política e economia. Greer, assim como as demais feministas radicais, acredita que os homens (como classe) usam sistemas sociais e outros métodos de controle para manter as mulheres (e homens não dominantes) reprimidas. As feministas radicais procuram abolir o patriarcado desafiando as normas e instituições sociais existentes e acreditam que a eliminação do patriarcado libertará todos de uma sociedade injusta.
Germaine Greer tem uma história repleta de polêmicas. É conhecida por seus discursos intempestivos, por opiniões controversas e por inúmeros conflitos com personalidades da tevê, do mundo artístico e da política. Nos dias de hoje, ela ficou mais conhecida pela sua impopular opinião de que "mulheres trans não são mulheres", opinião esta que teve o apoio de J. K. Rowling. 

"A Mulher Eunuco" (1970)
O livro é uma análise feminista escrita com uma mistura de pesquisas polêmicas e acadêmicas. Nas seções intituladas "Corpo", "Alma", "Amor" e "Ódio", Greer examina as definições históricas da percepção do "eu" das mulheres e usa uma premissa de limitações impostas para criticar as sociedades de consumo modernas, a "normalidade" feminina e a forma masculina de estereótipos. Citando: "O mundo perdeu sua alma e eu meu sexo". Em seções como "Família", Greer traz a história da formação e constituição das famílias ao longo da História, demonstrando como os núcleos familiares foram mitigando cada vez mais a essência das mulheres.
Ela também acredita veemente que "todos os homens odeiam as mulheres." 
Assim, a conclusão geral de "A Mulher Eunuco" é de que as mulheres, assim como os eunucos, são castradas o tempo todo, separadas de suas reais identidades, desejos e sexualidade.

Minha opinião
Tive dificuldades de me engajar na leitura por causa do estilo de escrita de Greer. Ela é debochada e impulsiva, o que não é ruim em si (muito pelo contrário, adoro) mas isso faz com que ela não tenha uma linha de raciocínio assertiva sobre os assuntos. Senti que ela dava muitas voltas ou repetia muito as idéias antes de chegar à conclusão. 
Além disso, Greer fez eu me sentir estúpida, como se eu não fosse merecedora de ser mulher. Por exemplo: dentro de sua lógica feminista radical, as mulheres deveriam querer ter relações sexuais no período menstrual, sem qualquer tipo de nojo ou constrangimento pois ambos (nojo e constrangimento) são produtos da sociedade patriarcal. Lembro de fechar o livro, entre indignada e incomodada, mas afinal cheguei à conclusão de que não sou obrigada a passar por isso, cara Germaine Greer. Meu corpo, minhas regras, não é mesmo?
Estes meus sentimentos ambíguos perduraram ao longo de toda a leitura. Me senti de novo assim quando ela fala de casamento e família, me dando a impressão de que uma mulher só é mulher se diz "não" a estes modelos. Ela também me deu a impressão de que só serei uma mulher completa e plena se eu abdicar do amor romântico e da monogamia. 
Ou seja, no final da leitura, estava me sentindo péssima. Não me senti inspirada, nem com vontade de mudar o status quo e muito menos empoderada. E é aí que acho que Greer falha miseravelmente com a minha geração, a geração na Terceira Onda do feminismo (go, Anos 90, go!), porque o discurso dela parece um pouco descabido, meio fora do tom e, na maior parte das vezes, utópico. 

Contudo, o peso de Greer fez sentido quando abordou a violência contra a mulher (abuso, estupro) e o sistema de saúde vigente. Também gostei bastante quando ela mostra que a mulher foi ensinada a não gostar de si mesma, assim como a competir com outras mulheres, como bem demonstra as teorias de Síndrome da Impostora que vemos hoje em dia. Estes dois assuntos, especialmente, falaram bastante comigo e me vi refletindo sobre uma série de comportamentos, pensamentos e sentimentos que acumulei ao longo da vida, olhando-os por um ângulo diferente e entendendo que eu também sou fruto da minha época e da sociedade onde vivo.
Assim, por mais que eu goste de ver a mim mesma como uma mulher crítica e bem informada, tenho muito o que aprender e também muito o que ensinar. 

Greer ficou com raiva quando escreveu este livro. Ocasionalmente, ao longo de seu livro, ela parece "muito zangada", que é outra maneira de invalidar algo que alguém diz. Eu me encontrava tendo problemas para seguir as palavras dela às vezes porque a raiva dela era tão aparente que eu pensava: "Se ela não estivesse com tanta raiva, talvez seu argumento fosse melhor." Isso é injusto. É permitido que Greer fique com raiva e, honestamente, todos ainda deveríamos estar com raiva, especialmente à luz de nossa administração atual e desses atos de ódio contra as mulheres.

Assim, concluindo, Greer é radical, sim, mas há vários aspectos deste seu radicalismo que tem um lugar e papel no mundo atual, enquanto outros aspectos merecem ser rediscutidos e reavaliados. Minha recomendação é: leia e tire suas próprias conclusões, e depois passe aqui para discutirmos o assunto. Tenho certeza que haverá muita reflexão. 
Afinal de contas, o que busco é exatamente isso, um espaço para reflexão, livre de julgamentos, para que eu possa crescer como bem entender.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

1 Comments

  1. Adoro suas resenhas. Certeiras, sem rodeios e sem medo de dizer o que pensou e sentiu com cada leitura!

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