Já Li #119 - O Urso e o Rouxinol, de Katherine Arden


Com ares de conto-de-fadas à moda antiga, a resenha de hoje é sobre "O Urso e o Rouxinol", um livro de Katherine Arden que, confesso, me fisgou com sua linda capa e com a promessa de uma aventura fantástica.

Katherine Arden, norte-americana, passou um ano em Moscou quando terminou o colégio. As influências desta sua viagens são bastante perceptíveis em sua trilogia entitulada Winternight, cujo primeiro volume é o livro desta resenha. 
O cenário da trilogia é uma pequena vila na Rússia medieval onde a protagonista Vasya recebe um presente, pois só ela é capaz de ver as criaturas mágicas que habitam a vila. As criaturas mágicas foram inspiradas no folclore russo, sobretudo os elfos que administram as casas e a vida doméstica das famílias. (por exemplo: os domovoy, que protegem as casas de insetos e animais, além de perigos como incêndios e vazamentos; os leshy, espíritos da floresta que sequestram qualquer pessoa que eles achem que vão fazer mal à natureza.). 

O primeiro volume de Winternight"O Urso e o Rouxinol" foi publicado em 2017. 
O romance começa com uma introdução à casa de Pyotr Vladimirovich. Sua esposa, Marina Ivanovna, filha do Grande Príncipe de Moscou, Ivan I, e seus quatro filhos, Kolya, Sasha, Olga e Alyosha, estão amontoados em volta do forno da cozinha, ouvindo histórias contadas pela governanta Dunya. 
Depois que as crianças dormem, Marina segue para o quarto, onde ela informa ao marido que está novamente grávida. Isso coloca um problema para a família, porque não se espera que Marina sobreviva a outra gravidez. No entanto, ela está determinada a cuidar do nascimento do seu quinto filho, porque pode sentir que essa filha terá poderes especiais. Para tristeza de sua família, ela realmente morre no parto, e sua filha se chama Vasilisa, apelidada de Vasya.

À medida que Vasya cresce, ela começa a passar mais tempo na floresta. Um dia, ela encontra uma árvore incomum e, ao pé desta árvore, está um homem com um único olho. Antes que ele possa se interessar por ela, outro homem chega, avisando Vasya para sair e instruindo o homem de um olho só a voltar a dormir porque ainda é inverno. Vasya se perde na floresta e é encontrada por seu irmão mais velho Sasha, que está com a equipe de busca procurando por ela. Quando Sasha e Vasya retornam para casa, Sasha avisa seu pai que Vasya precisa de uma mãe para cuidar e criá-la.
Pyotr viaja a Moscou e tenta encontrar maridos para suas filhas e uma esposa para si, e acaba retornando para casa com uma nova esposa, Anna, que acredita que os tais espíritos da casa e da floresta sejam, na verdade, demônios.
Daí em diante, a história de Arden ganha uma temática de folclore versus catolicismo, pois Anna exige que haja um padre sendo por perto para "afastar os demônios". Com isso, o catolicismo chega à vila, espalhando medo em seus habitantes e fazendo-os renunciarem às suas crenças antigas. Pensando só nesse aspecto, me lembrou um pouco a mensagem transmitida por "Deuses Americanos" de Neil Gaiman.

Foi nesse ponto que perdi um pouco do interesse pela leitura. Até então, eu estava adorando a história, sobretudo por causa dos componentes mágicos do folclore russo mas, num dado momento da narrativa, senti que Arden se perdeu e a o ritmo das coisas ficou lento e bagunçado.
Tive dificuldade em me concentrar nessa história, não porque era ruim, mas porque eu não estava conseguindo acompanhar os eventos mágicos envolvendo o talismã dado a Vasya e a "ameaça do inverno". Fiquei com a sensação de que eu tinha perdido alguma coisa importante, porque a história não estava fazendo sentido. E, na minha opinião, se o escritor não foi capaz de me manter interessada na leitura, eu não tenho que fazer esforços adicionais ou reler metade do livro só para retomar a narrativa.

Também não gostei de ler sobre o estupro marital que ocorre várias vezes ao longo do romance (sim, eles acontecem entre Pyotr e Anna) e eu odiei Arden tê-los deixados sutis e "irrevelantes". Isso me tirou da história e me deixou bastante desconfortável, especialmente porque a vítima chora enquanto ocorre e, eventualmente, isso resulta em uma gravidez. Além disso, o padre de 30 anos de idade que aparece na vila a pedido de Anna apresenta sérias tendências pedofílicas quando se apaixona por Vasya de 15 anos de idade. E então, ele culpa Vasya por seus pensamentos pervertidos! Isso foi absolutamente nojento. 

Mas, apesar de todas as minhas reclamações até agora, a principal razão pela qual não gostei desse romance foi porque 3/4 do livro são exposições. Aprendi tantos detalhes desnecessários sobre a infância de Vasya e os antecedentes de sua madrasta que não fizeram nada para melhorar minha experiência de leitura. De fato, a maior parte do enredo ocorre apenas na última parte da história e, quando cheguei lá, eu não me importava mais. Sinto muito, mas simplesmente não recomendo este livro.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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