A resenha de hoje é sobre um livro que acabou me surpreendendo positivamente. Comecei a ler "Relato de um Náufrago" de Gabriel García Márquez para estudar espanhol. Porém, a narrativa foi tão envolvente que a obra acabou vindo parar aqui no blog.
Márquez já apareceu por aqui no Desafio Livros pelo Mundo | Cem Anos de Solidão.
Além de escritor, ele também foi político e ativista na Colômbia. Sua formação em Ciências Políticas, abandonada pouco antes do fim, o levou a ser jornalista e a escrita veio depois, em segundo plano, e demorou um pouco até tornar-se sua ocupação principal. Com isso, não é uma surpresa perceber vários assuntos sociais e políticos em seus livros, que conferiram a ele projeção internacional, principalmente nos anos 70. Ele morreu recentemente, em 2014, com 87 anos.
Este livro foi originalmente publicado em quinze partes, numa coluna de um jornal colombiano, ao longo do ano de 1955. Quando estes artigos foram compilados em uma edição única, o livro recebeu o título de "Relato de um Náufrago que esteve à deriva numa balsa salva-vidas por 10 dias sem alimento ou água, foi proclamado um herói nacional, beijado por rainhas de beleza, feito rico com a publicidade, e então rejeitado pelo governo e esquecido para sempre."
Conta a história real de Luis Alejandro Velasco, que foi o único sobrevivente do naufrágio de um navio colombiano chamado Caldas que se dirigia a Cartagena. A princípio, o próprio Velasco assinou a autoria dos artigos no jornal, mas depois Márquez veio à público explicar que fora ele quem escreveu a jornada do náufrago, enquanto Velasco relatava detalhadamente tudo o que aconteceu nos dez dias em que ficou à deriva em alto-mar.
A princípio, Velasco não conta toda a verdade à imprensa. Logo que é resgatado em uma ilha da Colômbia, ele rapidamente ganha notoriedade nacional, não só por ter sido o único sobrevivente da tragédia como também porque ele já tinha sido dado como morto, inclusive pela família, que chegou a realizar um funeral para ele. Muitos jornais e redes de televisão o procuram para dar entrevistas, mas somente quando Márquez o procura é que Velasco conta exatamente o que aconteceu.
O navio, que era um destróier (ou seja, um navio de guerra que tem como objetivo escoltar outros navios maiores) estava cheio de contrabando. Toda tripulação do navio era da marinha colombiana, o que fazia com que o contrabando fosse ainda mais errado. O peso de várias geladeiras e máquinas de lavar fez com que o navio tombasse quando o mar ficou agitado.
O governo colombiano da época quis abafar a história, já que a verdade seria embaraçosa para a Marinha. No entanto, Márquez ficou ainda mais interessado em publicar a história, e daí surgiu os artigos no jornal e o posterior livro.
A narrativa se concentra apenas nos dez dias que Velasco sobreviveu no alto-mar, com uma pequena contextualização do que aconteceu um dia antes do incidente. Márquez fez um ótimo trabalho aqui porque, verdade seja dita, não acontece quase nada com Velasco neste período. Ainda assim, Márquez consegue entregar um livro que prende a atenção. A luta pela sobrevivência de Velasco não é romatizada: não há momentos de epifania, nem de descoberta de si mesmo, nem nada poético deste tipo. Trata exatamente do que o título diz: um náufrago que consegue sobreviver, ganha relativa popularidade por um tempo e depois é esquecido.
Em alguns momentos, a leitura deste livro me fez pensar em Ernest Hemingway.
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