Já Li #104 - O Homem de São Petersburgo, de Ken Follett


A resenha de hoje traz um romance cheio de suspense, espionagem e referências históricas ao movimento sufragista na Inglaterra. Em "O Homem de São Petersburgo", Ken Follett constrói uma narrativa que mistura tudo isso com um baita drama familiar.

Ken Follett é mundialmente conhecido pelos seus romances históricos e, com o tempo, começou a inserir pitadas de thriller em seus enredos. Os thrillers são caracterizados e definidos pelo "humor" que provocam, dando aos leitores sentimentos marcados de suspense, excitação, surpresa, antecipação e ansiedade.

"O Homem de São Petersburgo" foi publicado pela primeira vez em 1982. O cenário histórico de fundo são os momentos anteriores à Primeira Guerra Mundial, que aconteceu entre os anos de 1914 e 1918. Aqui, a Inglaterra tem que ganhar o apoio da Rússia para avançar com sua marinha e se defender de um possível ataque da Alemanha. Como resultado, o sobrinho do czar Nicholas, o príncipe Alexei, foi enviado a Londres para negociar com o governo inglês, através do porta-voz lorde Stephen Walden. 

Stephen Walden é casado com Lydia, uma aristocrata russa. O jovem príncipe Alexei é seu sobrinho. Quando o príncipe Alexei chegou a Londres, sua presença despertou o interesse não apenas do establishment, mas também o de Feliks, um anarquista.
Feliks, também russo, decidiu assassinar o príncipe Alexei para que as negociações anglo-russas entrassem em colapso. Tendo falhado uma vez em atirar no príncipe russo, Feliks procura métodos alternativos de concluir seu plano.

Logo no inicio da narrativa, Follett apresenta quatro pontos-de-vista políticos diferentes, representados por suas personagens principais. Walder é um aristocrata burguês e conservador que se vê obrigado a aliar-se a Winston Churchill para que a Inglaterra não seja massacrada na guerra. Churchill é aqui descrito como um político "moderno" e com visões reacionárias. Feliks representa a anarquia, que essencialmente se opõe aos dois e, por fim, há Charlotte Walden, que merece um parágrafo só seu.

Em seu baile de quinze anos, Charlotte presencia uma cena que irá marcar todas as suas próximas decisões: uma menina pára em frente ao rei e à rainha e, em vez da habitual mesura, grita ofensas aos dois e proclama que as mulheres devem votar. Charlotte não entende muito bem o que isso significa e os pais se recusam a explicar-lhe. Depois, ela percebe que há pessoas passando fome e frio nas ruas e, para pior, que uma antiga criada foi expulsa de sua casa por ter engravidado do jardineiro e, agora, estava quase morrendo de inanição. Mais uma vez, os pais de Charlotte tentam protegê-la da realidade do mundo, e a garota decide descobrir as coisas por conta própria.
É assim que ela entra no movimento sufragista, no qual as mulheres organizavam piquetes, manifestações e intervenções para chamar a atenção ao seu direito de votar. Em uma das reuniões do movimento, ela é inspirada pela figura de Emmeline Pankhurst. Emmeline realmente existiu (1858 - 1928) e é conhecida como a ativista política mais proeminente da época. Eu simplesmente amei quando ela apareceu na cena.
Se você quiser saber mais sobre o sufrágio, leia este post:

Porém, embora minha leitura tenha começado bem, aos poucos o livro foi me perdendo.
Feliks tenta diversas armadilhas para assassinar Alexei e todas falham. Até aí, Follett escreveu estes fracassos de um jeito interessante, que nos fazem torcer por Feliks. Só que todos os momentos que poderiam causar suspense ou surpresa no leitor simplesmente não causam o efeito que deveriam. Vou dar alguns exemplos abaixo e, se você não quiser spoilers, sugiro não continuar no post.

Walden e a polícia sempre descobrem qual é o plano de Feliks. Ou eles são inacreditavelmente bons no que fazem ou os planos de Feliks são muito óbvios. Não há uma dinâmica de perseguição e fuga, ou momentos em que a polícia se engana, ou mesmo truques do Feliks para driblar a polícia. Tudo acontece de forma muito linear, simples, sem nada do que um bom thriller se propõe.
Feliks descobre que Charlotte é sua filha, de um caso que teve com Lydia quando ambos ainda moravam na Rússia. Follett também não conseguiu dar o peso certo para esta descoberta e, quando enfim Feliks percebe quem Charlotte é, o leitor já tinha percebido fazia muito tempo.
Depois de dezenove anos separados, Feliks e Lydia se reencontram. Pensei que ia acontecer um tremendo drama envolvendo os dois e Walden mas, de novo, nada surpreendente acontece. Pior: Walden aceita esta relação com tanta indiferença que estraga toda a plot.
E, por fim, quando Feliks finalmente consegue encontrar Alexei, a cena falha de emoção. Assim como a polícia, Walden e Lydia, o leitor também prevê cada acontecimento muito antes de lê-lo.

Alexei parecia uma ótima personagem a ser explorada, mas acaba sendo apenas um coadjuvante quase dispensável ao enredo. Charlotte prometia tornar-se uma protagonista feminina incrível, mas não entrega muita coisa do meio para o final e seu flerte com o sufragismo não evolui para lugar nenhum. Lydia foi mal construída e acaba sendo uma senhora mal amada que passa a vida lembrando de como o sexo com o ex era bom. 
Por isso, minha leitura de Follett foi bastante frustrada.  Não é um livro ruim, mas também não recomendaria sua leitura.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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