Já Li #96 - Tau Zero, de Poul Anderson


Poul Anderson é um dos meus autores preferidos de ficção-científica, embora não seja muito conhecido do grande público e não seja tão popular como Arthur C. Clarke, por exemplo. Na resenha de hoje, escolhi falar sobre seu livro "Tau Zero".

Filho de pai engenheiro e formado em Física, Poul Anderson escolheu, desde cedo, seguir carreira como escritor. Não à toa, seus livros são classificados como hard sci-fi e, por isso, o leitor pode esperar por bastante teoria e, até, algumas fórmulas matemáticas no meio do caminho. Além disso, Poul Anderson não costuma focar em um protagonista, mas sim, em grupos de pessoas e, a partir desse grupo, explorar desdobramentos políticos e sociais da aplicação da tecnologia.

Tau Zero foi publicado em 1970, a partir do desenvolvimento de um conto que Poul escreveu alguns anos antes, e imediatamente ganhou o Prêmio Hugo Award

A real protagonista da estória é a nave espacial Leonora Christine. Na vida real, Leonora Christine foi uma condessa da Dinamarca, país onde Poul Anderson morou durante um determinado período de sua vida. No livro, a nave abriga 25 homens e 25 mulheres que estão em uma missão espacial, a de chegar à estrela Beta Virginis e verifcar se, por ali, há algum planeta que possa ser colonizado pelos humanos.

Uma das partes mais importantes do enredo é compreender como a nave funciona. Por isso, em diversos momentos da narrativa, Poul relembra os leitores de que a Leonora Christine não viaja na velocidade da luz e, por isso, está sujeita à teoria da relatividade e da dilatação do tempo. Explicando muito a grosso modo - afinal, sou psicóloga, não física - o tempo se move mais devagar quando a gravidade é mais pesada.
Assim, a missão duraria cinco anos para os tripulantes na nave mas, na Terra, teriam se passado 33 anos até eles retornarem - se retornassem, pois o objetivo da missão é que eles permaneçam em algum planeta perto de Beta Virginis.

A narrativa também fala de muitos eventos que acontecem no Universo, o que para mim foi muito interessante, já que sou fascinada pelo assunto.

O leitor, no entanto, não deve esperar muito aprofundamento nas personagens, o que parece ser uma das principais características de hard sci-fi. O livro começa com dois tripulantes - Charles Reymont e Ingrid Lindgren - estabelecendo uma relação duradoura para os próximos cinco anos de missão, pois eles não gostam muito de pessoas e preferem já chegar à nave com seus pares resolvidos. Afinal, espera-se da tripulação que eles copulem e tenham filhos no próximo planeta.
Mas, ainda assim, as aparições de ambos são superficiais. Outras personagens tem seus momentos na narrativa, mas são breves e não chegam a aprofundar nenhum conflito individual. Poul Anderson trata mais do sentimento coletivo de desânimo, depressão, falta de propósito e tédio.
Reymont é a personagem que mais aparece ao longo do livro, pois ele age como um comandante/policial que mantém a "sociedade" da nave nos eixos.

No meio do caminho para Beta Virginis, a nave se choca com uma supernova e a tripulação se vê diante de uma complicada mudança de planos. Bom, sendo bem sincera, eu não vou conseguir explicar o que aconteceu, só entendi que estava relacionado às partículas de tau, que dão nome ao livro. Várias fórmulas matemáticas depois, a tripulação descobre que eles estão à deriva no Universo.
E, não bastasse isso, por causa da dilatação do tempo, já se passaram mais de cem milhões de anos desde que eles deixaram a Terra e eles, na realidade, estão indo em direção ao fim do Universo em si.

Eu achei linda a forma como Poul escreveu o fim de tudo. Não consigo imaginar de outro jeito. E o fato de haverem apenas 50 seres humanos participando do término do Universo foi algo muito poético e profundo, que eu gostei muito. Mas, se você não quer spoilers, sugiro interromper a leitura aqui. Mais lindo ainda foi a expedição presenciar o recomeço do Universo, o novo Big Bang e o ressurgimento de tudo.
Minha única ressalva é quanto ao final. Achei feliz e resolvido demais, um desfecho simples que não condiz com a complexidade do restante do livro. Fiquei um pouco frustrada, sobretudo pelo fato de Poul ter adicionado uma doçura ao relacionamento de Reymont e Ingrid que não é condizente com as suas personalidades.

De forma geral, é uma leitura que eu recomendo para quem já gosta de ficção-científica, mas definitivamente não é uma leitura para iniciantes no gênero.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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