Desafio Livros pelo Mundo | Austrália: Fôlego, de Tim Winton


O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura produzida fora do eixo EUA-Inglaterra, para que os leitores conheçam outras culturas e histórias. Vinte países já passaram pelo desafio e, hoje, é a vez da Austrália com "Fôlego", de Tim Winton.


Tim Winton, além de romances, também escreve contos e estórias para o público infantil. Australiano, ele começou a escrever ainda na universidade e ganhou um prêmio pelo seu primeiro livro, o que o incentivou a continuar na carreira. Ele costuma dizer que começa seus livros pensando "onde" a estória será contada e, depois, pensa no resto e, por isso, grande parte das suas obras se passa na Austrália.

"Fôlego" é a vigésima obra de Winton e seu oitavo romance, publicado em 2008. A estória se passa em uma cidadezinha da Austrália chamada Sawyer, perto da fictícia Angelus, uma cidade maior que aparece em vários de seus livros. Como Winton gosta de pensar na locação de suas obras, Sawyer é quase uma personagem, pois tem um enorme destaque na trama. Por isso, o leitor pode esperar muitas descrições de paisagens e ambientes e, sobretudo, uma presença marcante do oceano.

O livro é narrado em primeira pessoa por Bruce Pike, um paramédico de meia-idade, divorciado, que relembra suas aventuras da adolescência com o melhor amigo Loonie. Aqui, vem a minha primeira ressalva sobre o livro.
O primeiro trecho da estória mostra Bruce socorrendo uma suposta vítima de suicídio, ao lado de sua nova companheira paramédica que, claramente, não gosta dele. Bruce demonstra ter muita experiência no ramo pois, em questão de minutos e com poucas pistas, consegue identificar que não foi suicídio, e sim, assassinato. 

Diversos capítulos depois, Winton retoma vagamente o presente de Bruce, mas eu já nem me lembrava mais o que ele fazia ou quem era ele. Por isso, acho que o escritor cometeu um erro. Acredito que Winton devesse ter escrito uma plot paralela para Bruce, com eventos e conflitos do seu presente, entremeado-os com o passado e as reminiscências. Do jeito que os flashbacks foram feitos, eles ficaram largados no enredo e praticamente inúteis.

Na infância e adolescência, Bruce relata que sentia vergonha dos seus pais, que eram muito tacanhos e conservadores, uma característica da população de Angelus, onde as pessoas parecem se conformar com pouco e não possuem grandes ambições. Por isso, quando ele conhece Loonie, ele enxerga no amigo uma oportunidade de sentir-se vivo. Loonie, ao contrário de Bruce, é extrovertido e desobediente, e a família dele não parece se importar com os riscos que ele corre, o que fascina Bruce, cansado de seus pais sufocantes e rígidos.

Aqui, tenho outra ressalva com o livro. As aventuras de Bruce e Loonie no litoral de Sawyer parecem um enorme episódio de uma série de surfe daquele canal OFF (aquele canal da TV a cabo que só passa surfistas, skatistas, paraquedistas e pessoas que tem profissões muito mais legais que as nossas). Ou seja, é uma leitura muito chata. Os eventos giram ao redor de Bruce e Loonie conseguirem pegar uma onda, ou fugir de um tubarão, ou encontrar um lugar onde possam guardar as pranchas de surfe. 

O único momento de maior profundidade da trama é quando Loonie insiste que eles brinquem de asfixia, pois ele gosta da sensação proveniente do desmaio. Ao salvar Loonie da asfixia, Bruce percebe que quer ser paramédico quando crescer. Mas mesmo este momento é breve e pouco desenvolvido, e logo a narrativa retoma o surfe. Além disso, acredito que Winton também tenha pecado ao focar nas cenas de ação e não nas personagens, pois não me vinculei a ninguém. Falta sentimento e emoção.

Mas, pensando que o objetivo deste Desafio Livros pelo Mundo é conhecer um pouco da cultura e dos costumes de outros países, o livro cumpre essa missão. É fácil compreender a atmosfera do litoral australiano dos anos 70 e Winton sobre retratar bem o período. Além disso, na narrativa aparecem comidas (canguru assado, por exemplo) e atitudes que demonstram bem o país. 

Ainda assim, não é uma leitura que recomendo.  
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