Alguns livros nos transportam direto para alguma época específica de nossas vidas e, no caso de "Uma Dobra no Tempo" de Madeleine L'Engle, esta época é a infância. A resenha de hoje é sobre ele, uma obra para a público infantil que tem muito a dizer para os adultos.
Madeleine L'Engle, nascida dos anos 20, era considerada muito tímida e "estúpida" pelos seus professores. Começou a registrar seus pensamentos em diários e só teve uma obra sua aprovada e publicada depois dos 40 anos de idade. Madeleine teve três filhos - dois biológicos e um adotado - e eles lhe inspiravam a escrever estórias para o público infantil.

Meg tem treze anos e é vista como encrenqueira e teimosa, pois tem uma personalidade forte. Seus pais, ambos cientistas, incentivam seu comportamento crítico e não concordam com o tratamento que a garota recebe na escola. Além de Meg, eles tem um casal de gêmeos (que mal aparecem na narrativa) e Charles Wallace, um menino de cinco anos que é capaz de ler a mente das pessoas e tem um QI acima da média. O pai deles, um físico renomado chamado Alexander, está desaparecido há cerca de um ano, mas a mãe deles, Katherine, não parece tão preocupada, e as crianças começam a desconfiar que os pais estão guardando um segredo.
Um dia, eles recebem a visita da excêntrica vizinha Sra. Quequeé. Ela deixa escapar algo sobre um tesserato e, diante da reação de Katherine, as crianças confirmam suas suspeitas e decidem ir atrás do pai. Com a companhia de Calvin, um amigo de escola, eles vão até a casa da Sra. Queequé, onde conhecem a Sra. Qual e a Sra. Quem - ambas igualmente excêntricas. O tesserato gera uma dobra no tempo e, através desta obra, todos eles viajam pelo Universo para encontrar e resgatar Alexander.
Uma das partes mais interessantes da estória é quando o grupo chega ao planeta de Camazotz. Madeleine, então, mistura fantasia com distopia e cria um mundo onde todas as pessoas fazem tudo igual, todos os dias, do mesmo jeito e no mesmo horário. Não há sentimentos de nenhum tipo - nem positivos nem negativos, apenas um estado perene de apatia e aceitação - nem raciocínio crítico, tampouco diversidade. Sem dúvida, ainda mais nos dias de hoje, este enredo gera muito debate e reflexão e trouxe uma profundidade maior à estória.
Fora isso, Madeleine se valeu da clássica luta entre o Bem e o Mal, o que resulta alguns momentos bem criativos e outros, no entanto, que são clichês. As três crianças e as três Sras. precisam impedir que a Escuridão tome conta da Terra e evitem o que aconteceu em Camazotz e, para isso, precisam do tesserato e da ajuda de Alexander. As cenas de ação decorrentes deste conflito são legais, mas nada que tire o fôlego do leitor.
A parte fantástica fica predominantemente nas mãos das Sras, que são personagens muito interessantes. A Sra. Queequé tem 2.379.152.497 anos, 8 meses e 3 dias de idade, e é considerada a "mais nova" das três. Elas mudam de forma física conforme o planeta onde estão e deixam subentendido que cumprem missões de luta contra a Escuridão por todo o Universo. A Sra. Qual tem dificuldades de manifestar-se de forma corpórea e é, na maior parte do livro, uma luz piscante. Cada uma delas tem suas particularidades e personalidade, o que deixa a leitura mais atraente.
A sensação que tive ao ler este livro é de que ele foi "corrido". Madeleine poderia ter elaborado mais descrições, desenvolvimentos, aprofundamentos e conflitos ao longo da narrativa, tornando-o mais completo. Além disso, sua linguagem é simples, direta e explicativa, própria para o público infantil - e é preciso ter este público em mente ao longo da leitura, para não cairmos no erro de achar seu estilo muito simplista. Mas nada disso tira o mérito da obra, que é marcante, original e cheia de conteúdo para ser explorado.
É uma leitura que recomendo.
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