12GLCGM | Os Lança-Chamas, de Rachel Kushner


O Desafio 12 Grandes Livros com Grandes Mulheres (12GLCGM) é uma homenagem às protagonistas femininas que deixaram sua marca no mundo literário, transformando a imagem da mulher, trazendo uma mensagem de empoderamento e força e promovendo reflexões. O Desafio surgiu desta lista com algumas adaptações. No post de hoje, teremos "Os Lança-Chamas" de Rachel Kushner.

Rachel Kushner foi influenciada pela mãe, que trabalhava em uma livraria específica de conteúdo feminista nos anos 70. Aos 16 anos, ela começou a estudar Política Econômica com ênfase na América Latina e morou na Itália, onde completou seu segundo bacharelado em Artes. Todas estas referências biográficas são possíveis de perceber em "Os Lança-Chamas", publicado em 2013. 

A estória se passa no final da década de 70 e a protagonista é Reno. Ela se muda para Nova Iorque com o objetivo de estudar Arte. Sem conhecer ninguém na nova cidade, Reno contenta-se em frequentar um bar perto de seu apartamento, onde observa um grupo de amigos bastante refinados e barulhentos. Neste bar, ela mantém contato com a bartender mas, ainda assim, é um relacionamento bastante superficial e pouco recompensador.

Não sabemos muito sobre o passado de Reno e alguns capítulos são contados do ponto-de-vista de Sandro Valera. Os saltos no tempo não respeitam um padrão e isso pode confundir alguns leitores.

Em um dia que estava se sentindo particularmente solitária, Reno faz amizade com um casal que está bebendo no bar. Eles mal registram sua presença, não lhe fazem perguntas pessoais tampouco se interessam por ela, o que não demove Reno de sua intenção de conhecê-los melhor. Através deste casal, Reno conhece Ronnie - um burguês renegado pelos pais e artista frustrado - e eles passam a noite juntos. Ronnie também não cria nenhum vínculo com Reno e a garota parece não se incomodar por essa existência "fantasma" dela.

Tempos depois, Reno conhece e se apaixona por Sandro Valera. Valera é o herdeiro de um império automobilístico italiano e, através dele, Reno redescobre sua paixão por velocidade e motocicletas - algo que fez parte de sua adolescência, mas ficou esquecido mediante suas tentativas de se estabelecer em Nova Iorque. Sandro não apóia Reno em seus projetos de reunir arte, performance e motociclismo, mas Reno não se importa com isso e continua atuante do mesmo jeito. Ela logo recebe atenção pela sua coragem e é convidada pela Valera para participar de uma corrida na Itália. 

Em paralelo, Reno vai conhecendo todas as pessoas do círculo de Sandro e descobre que Ronnie é seu melhor amigo. Ronnie finge que nunca viu Reno antes e esta simulação continua até o término do seu relacionamento com Sandro. Os amigos deles são todos ricos e artistas e vivem em uma atmosfera forçada, pretensiosa, vazia e sem objetivos. E é aqui que acho que Kushner perdeu a mão ao escrever uma estória que caminhava para ser empoderadora: os diálogos entre estes amigos beiram o insuportável, não agregam nenhum conteúdo à estória e deixam a narrativa maçante. Quase desisti da leitura várias vezes por causa da aparição destes amigos artistas.

Em vários momentos, surgem uma série de acontecimentos machistas com Reno: abuso, mansplaining (quando as mulheres são interrompidas por homens, em momentos importantes para ela, sob a acusação velada de não serem inteligentes nem espertas o bastante para falar do assunto que estão tratando), gaslighting (quando informações ou sentimentos das mulheres são ridicularizados ou distorcidos para favorecer os homens) e, sobretudo, misoginia. Mas o grande problema deste livro é que estes elementos não se transformam em potencial de retaliação para Reno, que parece assistir a tudo de fora, apática e submissa, e não toma nenhuma ação efetiva contra tudo isso. Passei o livro todo esperando uma resposta de Reno, alguma evolução em seu arco que justificasse que a obra fizesse parte desta lista mas, infelizmente, não encontrei.

De qualquer forma, embora Reno não merecesse fazer parte deste desafio, o cenário que Kushner desenha ao seu redor serve como fonte de reflexão. Kushner consegue transmitir o ambiente sufocante ao redor das mulheres e provê contextos políticos bem interessantes sobre a Itália e a função das mulheres naquele país. Não foi uma leitura de todo satisfatória e terminei a leitura frustrada mas, já que o livro fazia parte do desafio, mantive a intenção de fazer a sua resenha.

Não é uma leitura que recomendo, embora a escrita de Kushner seja profunda, complexa e bem construída. Pena que ela tenha sofrido do mesmo excesso de pretensão que suas personagens artistas.

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