Qualquer estória que seja ambientada em um cenário pós-apocalíptico chama minha atenção e, por isso, quando me indicaram "A Estrada", de Cormac McCarthy, me interessei na hora pela leitura. Este post é minha opinião sobre ele.
Em uma estória pós-apocalíptica, o foco da narrativa acontece em algum momento após o colapso da Terra como a conhecemos. No caso de "A Estrada", o autor não deixa claro o que aconteceu no planeta; o leitor tem apenas algumas pistas de alguns acontecimentos como, por exemplo, pessoas que foram queimadas vivas e o asfalto das estradas que derreteu e submergiu carros e casas. Não fica claro se o apocalipse aconteceu por causa de um colapso climático, nem quando o evento aconteceu.
"A Estrada" é um recorte: não sabemos o que acontece antes dos eventos que iniciam a estória e também não sabemos o que acontece depois, pois - cuidado com o spoiler - o livro termina com um final aberto.
Escrito em 2006, o livro narra a estória de um pai e de um filho, cujos nomes não são mencionados, em uma viagem por estradas devastadas e desoladas, buscando por alimento, proteção e mantimentos. Pouco tempo depois do início do relato, a mãe do garoto, esposa do homem, comete suicídio, grávida, pois não queria gerar um filho no mundo pós-apocalíptico. O autor também não fornece muitas informações sobre o passado da família, concentrando todo o enredo no presente.
Pai e filho se dirigem para o mar, onde o homem acredita que encontrará mais pessoas que sobreviveram ao apocalipse, na esperança de que possam encontrar uma moradia fixa e comida frequente. O inverno é pesado e chove dia e noite, o que agrava as doenças de ambos. Eles guardam todos os seus pertences em um carrinho de mercado, que o pai empurra com dificuldade no chão pedregoso e na neve fofa.
Ao longo da estrada, eles se deparam com situações inóspitas como, por exemplo, um porão cheio de pessoas morrendo de fome que serão comidas pelos donos da casa, já que o canibalismo tornou-se frequente depois do apocalipse. O menino, assustado, conta com a proteção e o reasseguramento do pai, cada vez mais debilitado e cada vez menos disposto a dar falsas esperanças ao filho.
Meu principal problema com o livro foi o ritmo da escrita de McCarthy. Ele constrói frases muito curtas, interrompidas depois de poucas palavras, e continuadas na próxima frase como se fossem uma sentença só. (Mais ou menos como se fosse. Assim. Escrito assim.) Ao longo da leitura, isso foi se tornando cansativo, pois não ajudava no fluxo do raciocínio.
Além disso, os diálogos entre pai e filho são esparsos e breves, o que, na prática, faz sentido pois estão ambos morrendo de fome mas, na estória, torna-se muito superficial e carecendo de emoção.
Somando a isso o fato de não termos maiores informações sobre o apocalipse e nenhum background das personagens, não gostei do estilo do livro. O fato de ele ser um recorte no tempo, em si, eu gostei, mas achei que este recorte foi muito seco e raso e que McCarthy poderia ter desenvolvido mais alguns conceitos e eventos da estória. Não me vinculei nem ao pai e nem ao filho e, consequentemente, não me emocionei com o desenrolar dos acontecimentos.
Por fim, as descrições do mundo pós-apocalíptico foram resumidas às paisagens - sempre cinzentas, chuvosas e enlameadas - mas houve pouco aprofundamento nos novos costumes, na nova sociedade, na nova organização do mundo após o colapso. Depois de algumas páginas, também ficou maçante ler que pai e filho dormiam no chão úmido e gelado escondidos na floresta.
As premissas do livro eram muito promissoras, mas sua execução me decepcionou. Por isso, não é uma leitura que recomendo.
Caso você queira saber quais são os outros subtipos da ficção-científica, além do pós-apocalíptico, clique aqui.
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