O Desafio 12 Grandes Livros com Grandes Mulheres (12GLCGM) é uma homenagem às protagonistas femininas que deixaram sua marca no mundo literário, transformando a imagem da mulher, trazendo uma mensagem de empoderamento e força e promovendo reflexões. O Desafio surgiu desta lista com algumas adaptações. No post de hoje, falarei sobre "Estado de Graça", de Ann Patchett.
Patchett começou sua carreira de jornalista escrevendo artigos comportamentais para a revista adolescente Seventeen. Cansada da superficialidade exigida pelo seu editor, pediu demissão e resolveu dedicar-se à carreira de escritora. Em 2011, ela publicou "Estado de Graça", que lhe garantiu uma série de prêmios literários e a destacou ao grande público.
A protagonista do livro é Marina Singh, personagem que justifica a presença deste livro no Desafio. Ela trabalha para uma grande empresa farmacêutica chamada Vogel, que é responsável por conduzir uma pesquisa em campo na Amazônia. Tal pesquisa, conduzida pela Dra. Annick Swenson - que também justifica a participação no Desafio - tem o objetivo de produzir uma droga que permita que as mulheres engravidem até os 80 anos de idade.
O livro começa quando Marina e seu chefe (e também namorado) Sr. Fox recebem um telegrama de Swenson informando que Anders, colega de laboratório de Marina, morreu na Amazônia enquanto acompanhava a pesquisa. Anders havia sido enviado para lá pois a Vogel não acreditava que Swenson estivesse, de fato, mantendo-se fiel aos objetivos da pesquisa, já que a doutora não mandava notícias, nem relatórios, não tinha telefone nem computadores e, tampouco, um endereço fixo onde pudesse ser encontrada. Anders tinha a missão de encontrar Swenson e verificar os resultados da pesquisa.
A Vogel, então, resolve enviar Marina para a Amazônia, tanto para continuar o trabalho que Anders não terminou como para checar se ele estava, realmente, morto. Sua esposa, Karen, achou o telegrama muito suspeito e levantou a questão de que, talvez, Swenson estivesse mentindo ou omitindo algo. Assim, Marina embarca para Manaus, onde aguardaria em um hotel até que Swenson resolvesse aparecer na cidade para comprar mantimentos. Depois de um mês, Swenson aparece na cidade e, assim, Marina pode prosseguir com ela para a floresta.
Swenson mora em uma parte muito afastada da Amazônia, floresta adentro, ao longo do Rio Negro. Apenas os habitantes locais são capazes de encontrá-la, pois não há nenhuma referência ou indicação de onde a tribo fica. A tribo, chamada lakashi, é composta de idosas com mais de 70 anos que continuam engravidando. As mulheres desta tribo consomem uma casca de árvore, aparentemente responsável por esta longevidade, e Swenson pesquisa como transformar a casca da árvore em uma droga mundial. A doutora mora com os lakashi há quase dez anos, sem nenhum tipo de comunicação ou relacionamento com o mundo fora da tribo.
Swenson é uma personagem muito marcante. Primeiro, ela possui um estilo de comunicação assertivo ao extremo, à beira da agressividade. Depois, ela não tem nenhuma paciência para questões mundanas e não se incomoda nem um pouco com sua ausência de traquejo social. Ela é orientada para resultados, não para pessoas, e deixa isso claro desde o início. Além disso, ela exerce poder e autoridade em todas as pessoas ao seu redor - inclusive os lakashi, que nem sequer entendem quem ela é ou o que ela faz - e este poder permite que ela faça o que quiser, se exclua do mundo e mantenha-se misteriosa e impenetrável. Ela é uma personagem que, lá pelo meio do livro, estamos odiando mas, de repente, passamos a amar e admirar - exatamente o mesmo efeito que ela tem nas personagens do livro.
Sua principal motivação com a pesquisa é dar opções para as mulheres. Quando uma mulher quer ser mãe, ela sente-se obrigada a apressar os passos para tal por conta da limitação da idade - afinal, logo virá a menopausa, o que força as mulheres a decidirem muito cedo se querem ser mães ou não. Swenson acredita que as mulheres devem ter poder de escolha sobre a maternidade tanto quanto os homens, que são reprodutivos até a terceira idade. Ela acredita que isto modificaria completamente a estrutura da sociedade.
Marina, ao chegar na tribo, adapta-se facilmente àquele estilo de vida selvagem e primitivo. Sem frescuras, sem demandas, sem anseios, Marina molda-se ao novo ambiente e não hesita em deixar para trás sua vida anterior. Porém, aos poucos, ela esquece de se aprofundar sobre Anders, pois começa a ficar motivada pela pesquisa e pelos seus resultados. Marina é uma ótima personagem feminina, forte e determinada, e não tem medo de enfrentar Swenson. A dinâmica do relacionamento delas evolui ao longo do enredo, o que também é interessante.
Patchett concebeu muito bem o cenário da Amazônia. Cheguei a pesquisar se a tribo lakashi realmente existia, pois suas descrições pareceram bem reais e fundamentadas. Também gostei da forma imparcial que ela falou sobre a floresta, Manaus e Brasil.
A estória é bastante interessante e envolvente, pois várias tramas se desenrolam em paralelo ao longo da leitura: a busca por Anders, os costumes dos lakashi, a vida interior de Marina, a pesquisa de Swenson e a dúvida se Marina voltará ou não para os Estados Unidos. O desfecho da estória é muito bonito e é uma leitura que eu recomendo. E, além disso, é sempre um prazer ler sobre mulheres cientistas e pioneiras.
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