Reza a crença popular que as continuações - de livros ou de filmes - nunca são tão boas quanto os primeiros volumes. No entanto, a série Mapmakers, da escritora S. E. Grove me surpreendeu, pois seu segundo volume, "O Amuleto de Ouro", superou o primeiro, "O Mapa de Vidro" - que já era bom. Este post explica os motivos.
Caso você prefira saber, antes, sobre o primeiro volume, clique aqui.
Vou contextualizar brevemente a estória. A estória gira ao redor de Sophia Tims, filha de dois exploradores aventureiros que se perderam na última expedição e nunca mais voltaram para casa. Depois deste desaparecimento, Sophia foi criada por seu tio Shadrack, um cartógrafo experiente e dedicado. Eles vivem em um mundo que sofreu a Grande Ruptura, explicada no prólogo do livro: em um determinado momento da História, o Tempo se fragmentou pelo mundo e, como consequência disso, cada país/região ficou em uma timeline diferente. Ou seja, há lugares que estão na Idade Média, outros lugares estão na década de 30, outros estão ainda na Pré-História, e assim por diante. Desta forma, os exploradores não apenas viajam entre lugares, como também viajam entre as diferentes Eras do planeta, tentando descobrir o que gerou esta Ruptura do Tempo.
Nesta continuação, Sophia Tims ainda não encontrou seus pais. Reunindo algumas pistas que ela conseguiu no volume anterior, finalmente ela tem uma trilha concreta em busca deles. Ela precisaria da ajuda de seu tio Shadrack para desbravar estas pistas, porém, ele está cada vez mais distante e frio, tomado pelos seus trabalhos para o Ministério. Um dia, o Primeiro Ministro é assassinado e Shadrack é responsabilizado injustamente pelo crime, e é preso. No entando, Sophia não presencia tais acontecimentos, pois decide atravessar o mundo sozinha, em um navio cargueiro, para seguir as pistas de seus pais desaparecidos.
Quem ganha destaque na trama, com a ausência de Sophia, é Theo. No primeiro volume, ele era um garoto órfão das Terras Baldias, sujo e miserável, e teve um papel coadjuvante. Extremamente carismático e com um grande potencial de tornar-se herói, S.E. Grove finalmente deu-lhe o merecido destaque e, neste segundo volume, ele ganha o papel de protagonista ao lado de Sophia. É ele quem se encarrega de reunir as provas para inocentar Shadrack pois o mandante do crime era seu antigo dono, um traficante de humanos.
Em paralelo, através de capítulos alternados, sabemos que Sophia conseguiu chegar ao outro lado do mundo, com a ajuda de duas criaturas mágicas, e prossegue no rastro de seus pais. Para encontrá-los, ela precisa, antes, achar a cidade perdida de Ausentínia, que foi engolida pela Era das Trevas.
Na perspectiva de Theo, a trama é de espionagem e suspense. Ele tem uma excelente capacidade de se camuflar e de ser furtivo e, através desta capacidade, ele consegue juntar os pedaços sobre o crime do assassinato do Primeiro Ministro. S. E. Grove mostra as camadas políticas que existem em sua estória, através da criação de um Parlamento e de três Partidos. Ela também dá uma amostra de quais seriam as desavenças políticas em um mundo onde várias Eras existem ao mesmo tempo, o que torna o enredo mais profundo e mais interessante.
Na perspectiva de Sophia, a trama é mais emocional. Em sua busca pelos pais, ela se depara com uma doença de uma Era passada chama lapena, que é uma espécie de depressão alucinatória. As pessoas detectadas com lapena são banidas da sociedade e Sophia, triste pela perda dos pais, tem medo que tenha contraído a doença. Além disso, ela se depara com três personagens que também lidam com suas próprias perdas e luto, cada uma à sua maneira.
Um aspecto que me incomodou no primeiro volume, "O Mapa de Vidro", foi a grande quantidade de elementos mágicos jogados na trama, de forma um tanto caótica e sobreposta. S. E. Grove tem idéias incríveis e muito originais, mas acredito que ela tenha pecado pelo excesso. Neste segundo volume, a sensação que tive foi que a escritora resolveu simplificar e "enxugar" alguns destes elementos e, por isso, a leitura fluiu melhor e o entendimento da estória foi mais agradável.
Isso, aliado ao destaque dado a Theo, me fizeram gostar mais deste livro do que o anterior.
O único aspecto negativo da leitura foi uma subplot relacionada ao desaparecimento dos pais de Sophia. Alguns capítulos são flashbacks de Mina, a mãe, escrevendo em seu diário de viagem o que aconteceu a eles. Várias personagens e situações são inseridas, aparentemente, de forma aleatória à estória, o que não me agradou. Espero que S. E. Grove feche este arco no próximo e último volume da série Mapmakers.
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