Tempos atrás, em um post para a sessão Sugestão de Leitura, falei um pouco sobre A Crônica do Matador do Rei, de Patrick Rothfuss. Lá, comentei sobre uma personagem maravilhosa, chamada Auri, que é excêntrica e profundamente encantadora. Patrick logo percebeu a legião de fãs que estavam curiosos por ler algo dedicado somente a ela e, então, escreveu "A Música do Silêncio" (The Slow Regard of the Silent Things, no original).
A legião de fãs de Auri é tamanha que a internet está cheia de fan arts incríveis feitas para ela, como esta que ilustra a capa deste post, onde ela está ao lado de Kvothe, o protagonista de "A Crônica do Matador do Rei".
"A Música do Silêncio", portanto, é um split-off da trilogia "A Crônica do Matador do Rei"e é um livro para iniciados. O autor deixa isso claro logo no início do livro, quando recomenda aos leitores que, antes de embarcarem nesta estória, tenham lido algum livro da trilogia antes. Eu concordo com esta orientação do Rothfuss porque, realmente, é preciso saber o restante da estória para entender este livro. De fato, é preciso ter conhecimento prévio da personagem principal e da estória de fundo para entender este livro e, mais ainda, para compreender sua beleza e profundidade.
Auri vive nos Subterrâneos da Universidade que forma os Arcanos. Ninguém sabe como, por que ou quando ela foi expulsa da Universidade, pois ela não fala com quase ninguém - com exceção de um professor e de Kvothe. Além disso, ninguém tampouco sabe porque ela mora nos Subterrâneos, completamente sozinha e isolada do mundo exterior. Por isso, Auri é uma personagem extremamente misteriosa e que mostra que não precisamos saber da história ou do passado de alguém para criarmos vínculos com esta pessoa.
Nos poucos e ocasionais encontros que tem com Kvothe, ela sempre leva um presente para ele, assim como ganha algo dele em troca. Seus diálogos são curtos e cheios de simbolismos e poesias, pois Kvothe logo percebe que está diante de uma garota completamente diferente das outras. Auri é melancólica, silenciosa e cheia de segredos.
Neste livro, Patrick Rothfuss escreveu um recorte da vida de Auri, no intervalo de uma semana. Aparentemente, é o intervalo entre o último e o próximo encontro com Kvothe, embora o nome dele nunca seja mencionado diretamente na narrativa. Nós, os fãs, não precisamos: notamos a presença subliminar dele. Por outro lado, os nomes de todas as outras coisas dos Subterrâneos são falados, pois Auri descobre o nome verdadeiro de todos os objetos, caminhos, espaços e pequenos animais que fazem parte de seu mundo escondido. Esta questão do "nome verdadeiro" também só é compreendida por quem leu "A Crônica do Matador do Rei".
Auri é a única personagem do livro, disputando a atenção do leitor apenas com estas coisas que ela encontra e nomeia pelo caminho. Não há ação, conflito, clímax nem nada que estrutura um livro comum. É um livro completamente diferente do que estamos acostumados e Rothfuss alerta para isso também, logo no início. Portanto, o leitor não deve esperar uma narrativa linear com começo, meio e fim, assim como também não pode esperar que o passado de Auri será revelado.
A sensação de quando li este livro foi a de que Rothfuss me permitiu passar um tempo ao lado de Auri. Faço parte do fã-clube dela e, ao ler os outros livros dele, tive vontade que ela aparecesse mais e mostrasse mais de si e de sua personalidade. Este livro é a oportunidade para isso, como se fosse um passeio ou um período de férias ao lado dela, fazendo o que ela faz, vendo o que ela vê e esperando o que ela espera. É um livro bastante subjetivo, cheio de dimensões mais psicológicas para serem exploradas e menos elementos fantásticos. Mas é lindo, exatamente por ser estranho e diferente - exatamente como a Auri.
Tenho orgulho de fazer parte deste fandom e Patrick Rothfuss continua tendo um grande pedaço do meu coração de leitora.
2 Comments
Oi, moça!
ResponderExcluirAi, você bem sabe o quanto eu ainda quero ler essa série e sempre que você fala da Auri tenho vontade de conhecê-la. O que mais gostei nesse livro é que não há linearidade, conflito, ação etc. As Ondas é exatamente assim e, nossa, adorei a leitura, porque é aquele tipo de leitura que te faz mergulhar no sentido das palavras e não te faz pensar de forma muito exaustiva, é algo tão leve que é impossível não ficar relaxada.
Espero conhecer a Auri em breve <3
Love, Nina.
Oi linda!
ExcluirSim, tenho certeza de que você gostaria deste livro e entenderia a profundidade dele.
Bjs!