O livro ou o filme? | Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer

Já fazia algum tempo que eu pensava em falar sobre "Na Natureza Selvagem", principalmente por ter adorado o filme, de mesmo nome, lançado em 2007. Naquele mesmo ano, li o livro que deu origem ao longa, escrito por Jon Krakauer em 1996. Vinte anos depois de publicada e dez anos depois de filmada, a estória ainda reverbera em mim.

O livro fala da estória real de Christopher McCandless, que adotou o codinome de Alexander Supertramp. Christopher nasceu em berço de ouro e, a exemplo de Holden Caulfield, adquiriu um desprezo crescente pela elite e mergulhou nas leituras de Jack London e Thoreau. (clique nos links para saber mais sobre estes escritores). Assim que terminou a graduação, Christopher sacou os 24 mil dólares que tinha na conta bancária e sumiu pelo mundo, sem avisar a família, para viver uma aventura selvagem e solitária, assim como seus escritores favoritos fizeram. (Nota: também quero.)
Esta aventura durou dois anos, de 1990 a 1992, e Jon Krakauer resolveu escrever um livro não-ficcional sobre ela, entitulado "Na Natureza Selvagem", a partir de um diário que Christopher manteve ao longo de sua aventura. Jon especializou-se em escrever relatos de pessoas que buscam aventuras extremas, com um tom jornalístico misturado ao literário, o que rende uma leitura muito interessante.
Christopher, então, decide por queimar o dinheiro que tinha e viver apenas de uma limitada porção de arroz e de um guia de plantas comestíveis, onde ele aprende sobre quais plantas pode comer e quais deve evitar. Ele também decide dirigir-se para o Alasca, onde passa a morar no carro que ilustra a capa do livro e que atualmente é um ponto turístico. 

No filme, Emile Hirsch interpreta Christopher e ele faz isso de forma impecável. Ao longo da estória, Christopher fica cada vez mais magro e abatido, além de ter suas certezas filosóficas colocadas em dúvida, e Hirsch interpreta estas mudanças da personagem de uma forma brilhante. 
Além disso, o enredo do filme teve foco nas pessoas que Christopher encontra pelo caminho e, neste ponto, a estória me lembrou "On The Road", de Jack Kerouac. A narrativa se transforma numa road trip, onde as pessoas que aparecem pelo caminho são encantadoras e importantes, dando relevância para a jornada de Christopher e também trazendo profundidade para o tema. Afinal, por mais legal que seja ver uma pessoa com coragem o suficiente para deixar tudo para trás e sumir no mundo, chega um ponto da estória que fica cansativo lidar apenas com as ruminações de Christopher sobre a sociedade.
No filme, o final ~ cuidado com possíveis spoilers ~ é dramatizado, ou seja, baseou-se numa suposição da época sobre o fim de Christopher. No livro, até por seu caráter mais jornalístico, Jon Krakauer traz uma série de hipóteses que, inclusive, foram refutadas posteriormente. 

O livro ou o filme? O filme.

Leitora que sou de Thoreau e Jack London, a estória me pegou de jeito, seja no livro ou no filme. A vontade de sair pelo mundo em uma aventura na natureza, lidando com questões de sobrevivência e contemplação, sempre existiu em mim, e existe até hoje. Por isso, admiro muito Christopher e fico contente que tenham falado sobre a vida dele.
O livro é mais "seco e frio", preocupando-se a cada parágrafo com a veracidade dos relatos, as fontes históricas de cada data, citações da família atordoada com o desaparecimento de Christopher e informações geográficas e climáticas. Acho legal que Jon tenha tido este cuidado, afinal, ele está falando de uma pessoal real, cujos familiares ainda estão vivos e poderiam causar problemas.
No filme, no entanto, a estória de Christopher foi romantizada, e por isso a prefiro. O filme se concentra nos sentimentos e pensamentos dele, bem como nas pessoas que ele conhece, além de mostrar paisagens tão maravilhosas que fica impossível não entender os motivos dele a fazer algo tão extremo. A conexão com Christopher fica imensamente maior no filme e nos dá vontade de ir junto com ele, e não tive esta mesma sensação quando li o livro.
A trilha sonora de Eddie Vedder só corrobora com a atmosfeta poética e filosófica do enredo, com músicas feitas especialmente para o longa, cujas letras não deixam nada a dever para Jack London e Thoreau.
É uma ótima escolha para quem gosta de questionar a sociedade e nosso estilo de vida. Recomendo!


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