O que me deixa feliz é tudo que é pequeno e simples. Não encontro o que me deixa feliz em qualquer lugar, nem em qualquer momento, pois preciso ver com os olhos de dentro - e eles, vez ou outra, estão distraídos olhando para o lado de lá, o canto escuro atrás do pensamento. Mas, quando eles estão despertos e atentos, encontram tudo aquilo que preciso.
Uma folha seca para pisar e ouvir o estalo. Uma flor que se enrosca no meu cabelo quando passo ao lado. Um galhozinho seco que decide despencar bem em cima do meu ombro esquerdo. Um passarinho que passa pulando no meio do terreno seco.
O vento que despenteia o penteado, que sobe o vestido acima do joelho, que bagunça a disposição das borboletas, que leva embora as tristezas. O vento que mexe a água, que faz lindos desenhos na superfície do lago, que leva embora nuvens de chuva e traz muitas outras, tão bonitas quanto as anteriores.
O que me deixa feliz são os pequenos milagres do dia: quando encontro o rumo para o pensamento perdido, quando o sentimento entra no eixo e segue seu caminho, quando a pergunta não-respondida perde a força e quando as incertezas do futuro não agitam meus pesadelos.
São estes os momentos em que me percebo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão o que sempre fui. Quando me vejo sendo fiel à minha luta, quando caminho para longe das angústias. O que me deixa feliz é andar ao longo do vale, sem temer nem desejar as profundezas, sem ouvir meu nome sendo chamado pelos mistérios.
O que me deixa feliz é um pôr-do-sol me esperando laranja, um buquê de flores sendo carregado na rua, um sorriso inesperado diante do imprevisto, uma surpresa boa da vida.
E se a felicidade fosse tangível, seria um lindo balão cor-de-fogo, rasgando os céus impondo vontades - e explodindo de repente!, deixando atrás de si saudade e a ânsia de encontrar um outro balão pelos céus. Talvez encontremos um novo balão rápido, talvez não: o que me deixa feliz é não desistir nunca de encontrar balões bonitos no céu.
O que me deixa feliz é espalhar como é ser feliz por aí.
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