Foto por Near the Lighthouse |
O cabelo dela balançava ao vento, cobrindo seu rosto enquanto ela olhava para trás - enquanto ela olhava para mim. Ela andava na areia fria, sob a chuva fina, o mar enorme, e ela andava para cada vez mais longe de mim. O braço estendido, me chamando, e eu ali parado: apenas olhando. Em seus olhos, que costumavam ser doces e alegres, havia uma tristeza tão profunda quanto o tempo.
E eu sabia que aquela tristeza aumentaria a cada segundo que passasse sem eu me levantar, sem eu acompanhá-la. Eu sentia o abandono se alargando dentro dela - e me senti tão impotente.
Acumulei, ao longo da minha vida, uma série de justificativas: idade, inexperiência, frieza, desapego e indiferença. Me utilizei delas sempre que algo maior do que eu aparecia e, naquele momento, ela era enorme, ela e seu mundo todo. Tudo isso apenas escondia a minha verdade: me acho tão pequeno.
E o medo de fracassar me impede de seguir em frente - todo aquele lindo universo indo embora e eu aqui, deixando uma tragédia acontecer. Foi aí, então, que uma chama pareceu se acender dentro de mim, vinda de espaços que não sabia que existiam por aqui, e percebi - me espera! gritei com toda força que eu tinha, me espera!. E comecei a caminhar.
Me espera que eu prometo te alcançar. Por você, aperto o passo, acerto o compasso, tomo coragem. Só me espera que eu estou chegando. Porque te amo.
Foto por Near the Lighthouse |
***
Ouço sinos. Ensurdecedores. Não sei de onde eles vem - aqui na praia não há sinos, há? O som aumenta, o som de um medo que brota do ponto mais profundo de mim. Todo o meu corpo se mobiliza e, quando percebo, já estou indo embora.
Para onde? Não faço a menor idéia.
Pelo canto do olho, não percebo se ele está vindo atrás de mim. Me sinto sozinha na areia fria, sob a chuva fina, o mar enorme, e andava para cada vez mais longe. E cada segundo que passava e ele não vinha, durava o tempo que dura a eternidade: e doía.
Em seus olhos, que costumavam ser curiosos e grandes, havia somente medo. Medo disfarçado de justificativas repetidas um milhão de vezes ao longo da vida e que tentavam esconder a verdade dele - que eu sabia melhor do que a minha própria. Ele se sentia tão pequeno.
Mas o amor deve ter sido inventado para nos deixar maiores: que o medo, que as dificuldades, que o mundo, que os "e se". Maiores do que nós mesmos um dia imaginamos que poderíamos ser.
(Estendo minha mão. E ele não vem.)
Mas o amor deve ter sido inventado porque, vez ou outra, precisamos que alguém nos lembre que não somos o que pensamos ser: somos melhores do que isso.
Resolvi, então, diminuir o passo, acertar o compasso, entender o outro lado. Ando mais devagar, sentindo a areia e o mar, e aí meu coração sorri: ele está vindo.
Ele não desistiu de mim.
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