Todas as coisas ao nosso redor são sentidas através de um adjetivo. Precisamos dele para dar significado ao mundo, como uma caixa de enfeites que vão sendo pendurados para decorar a vida . A pessoa bonita do outro lado da rua só chama a atenção em meio ao caos porque é bonita, e não apenas uma pessoa. Uma pessoa é só mais uma, e ninguém quer ser mais um. É uma caminhada em busca do melhor adjetivo, daquele que melhor interprete o meu sentimento e o meu significado.
Então, rapidamente, sem perceber, adjetivos viram rótulos.
Os adjetivos são mutáveis: muito bonita, pouco bonita, mais ou menos bonita, lindíssima. Mas os rótulos, estes não: eles são estáticos, pesados, carregados pelos cantos como uma maleta cheia de pedras. O braço dolorido de carregar o peso por aí.
Introvertida. Carente. Divorciada. Tatuada. Antissocial. Fechada. Estranha. Autêntica. Difícil.
Eles, os rótulos, se tornam o que você é, em tempo integral, mesmo quando não estamos sendo. Eles te nomeiam para o mundo, sem que o mundo se dê ao trabalho de te traduzir ou de te compreender. O rótulo te insere em um grupo, e ali você definha.
Não há elasticidade: é uma garrafa fechada em cima da estante mais alta.
Mas a pior parte é: quando nós mesmos nos rotulamos. Aquele maldito defeito, aquele que "sustenta o edifício inteiro", que transformamos em nosso cartão de visitas. E começamos a acreditar que somos somente aquilo.
Como se não houvesse ampliação. Como se não existissem possibilidades.
Deveria ser pecado nos rotularmos. Ou deixarmos que nos rotulem, consentirmos, permitirmos.
Os adjetivos existem, logo abaixo do rótulo, dançando e implorando para serem ouvidos e aproveitados.
É uma pena que, na maior parte do tempo, estejamos tão surdos. Tão alheios.
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