foto by Ruh Dias |
Sempre fui um rascunho de mim.
Não, isso não é verdade. Vou começar de novo.
Sempre tentei escrever uma versão final de mim. Muitos rascunhos produzi, e dentro de mim existem pilhas e pilhas de bolinhas de papel, amassados porque continham palavras erradas e frases mal construídas. Não joguei nenhum dos rascunhos fora, pois faz parte de mim tê-los ao meu redor.
Estão todos aqui, e são como lembretes da minha incapacidade diante da imensidão do que posso ser, ou não ser.
Existiu um momento, tênue e frágil - que não consigo identificar exatamente qual foi - que algumas palavras que utilizei tiveram ressonância dentro de mim. Como se eu me olhasse em um espelho e ficasse agudamente consciente de aquela imagem sou eu. Foi um pensamento completo ou foram pedacinhos de uma frase completa? Não sei dizer.
Não sei dizer como estes momentos de ressonância acontecem, e é melhor que seja assim: se eu soubesse a fórmula secreta destas descobertas, eu me sentiria tentada a forçá-las a acontecer, e não sabendo como é, elas acontecem como deve ser: de forma livre, espontânea. Corajosa.
Bom, de qualquer forma, estou aqui. Muito prazer.
Je suis quois - ni plus, ni moins. (Eu sou o que sou - nem mais, nem menos).
Ando praticando ser eu mesma. São momentos delicados e pequenininhos, onde exerço o direito de ser assim mesmo, cheia de defeitos e com uma porção de coisas pela metade. É um encontro, e encontros me assustam mais do que os desencontros.
Por mais que os desencontros me coloquem diante da agudeza da minha necessidade, os encontros me trazem o vazio doído do depois. O que será que vem depois do encontro? Pela lógica do mundo, depois de achar vem o perder, e perder arranca tecos do meu coração.
O depois vem carregado de angústia, a angústia da espera.
E eu, automaticamente, espero pela tragédia.
Fui construída a partir delas. As atraio como abelha.
Elas me caem bem, afinal de contas.
Je suis quois - perplexe at silencieuse. (Eu sou o que sou - perplexa e silenciosa)
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