Um romance histórico que passa por diversas épocas, começando no início da Segunda Guerra Mundial e terminando no período pós-pandemia. "O Vento Sabe Meu Nome", de Isabel Allende, poderia ser classificado como um clássico contemporâneo.
Publicado em 2023, "O Vento Sabe Meu Nome" reveza alguns protagonistas. Em 1938, Samuel Adler é separado de seus pais aos seis anos de idade, no evento histórico conhecido como A Noite dos Cristais, que ocorreu no dia 9 de novembro, e que deu origem "oficial" ao movimento antissemita e ao nazismo.
Publicado em 2023, "O Vento Sabe Meu Nome" reveza alguns protagonistas. Em 1938, Samuel Adler é separado de seus pais aos seis anos de idade, no evento histórico conhecido como A Noite dos Cristais, que ocorreu no dia 9 de novembro, e que deu origem "oficial" ao movimento antissemita e ao nazismo.
Nos anos 1980, Letícia foge de El Salvador com o pai, logo após o massacre de El Mozote.
Em 2019, Anita Díaz é uma menina mexicana de sete anos de idade, com deficiência visual, que foi separada de sua mãe Marisol na fronteira do México, depois de terem passado pela Geladeira, prática comum no governo Trump da época.
E, por fim, Selena Durán, descendente de Letícia, cuja família foi assassinada no massacre de El Mozote, que aconteceu nos anos 80 em El Salvador. Selena é advogada e tenta encontrar a mãe de Anita.
É ficção histórica com a história ainda em construção, e Allende traça uma linha direta desde as atrocidades do Holocausto, passando pelos massacres e ditaduras conduzidos pela CIA na América Latina no final do século XX, até à administração Trump, através da devastação e desespero que criaram aos direitos humanos.
O paralelo entre as histórias é claro, e Allende não hesita em mostrar que o governo americano caminha para os mesmos passos percorridos por Hitler. De um jeito lírico e poético, Allende deixa claro que a História se repete, e ressalta que os eventos que acontecem com os salvadorenhos e com os mexicanos não recebem a visibilidade, tampouco a importância, que deveriam. Através dos personagens, o leitor se conecta com essas narrativas em um nível mais pessoal e íntimo, que acredito possuir muita força.
E eu preciso ressaltar que, quando este livro foi publicado em 2023, cerca de mil crianças mexicanas ainda estavam separadas de suas famílias na fronteira do México com os Estados Unidos. Você escuta falar sobre isso na internet ou no noticiário? Pois é.
Aqui Allende nos lembra que a arte tem poder - deve ter poder - e tem uma responsabilidade em lembrar a sociedade o que realmente importa.
Além da excelente crítica social da obra, o leitor vai encontrar um enredo com energia de clássico. Aos poucos, vamos percebendo que as histórias dos personagens se cruzam, o que pode ser um pouco confuso no início do livro. Começamos em 1938, depois vamos para os anos 50 e os anos 80, e só depois chegamos em Anita e Selena. Demora alguns capítulos até que os enredos comecem a se conectar de fato, o que me deixou um pouquinho perdida, mas não menos interessada. No final, quando tudo se amarra, terminamos na pós-pandemia, o que é uma conclusão fantástica para uma ficção histórica contemporânea. Apenas aplausos para Allende.
No geral, o livro também é sobre família, e traz momentos de ternura agridoce em meio a uma paisagem de crueldade e desespero. Allende claramente se preocupa muito com seus personagens, e esse amor transparece em suas representações deles, tornando-os ainda mais queridos para nós e, embora muitas vezes difícil, este é um livro difícil de largar. É um retrato impressionante de vidas deslocadas e sofridas que podem encontrar consolo umas nas outras.
O final é muito bonito. Todas as pontas soltas se conectam e Allende consegue entregar um fechamento acolhedor e alegre para os enredos, deixando no coração do leitor um pouco de esperança de que as coisas serão melhores - não apenas para os protagonistas da obra, mas também para nós. Recomendo muito a leitura.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
E, por fim, Selena Durán, descendente de Letícia, cuja família foi assassinada no massacre de El Mozote, que aconteceu nos anos 80 em El Salvador. Selena é advogada e tenta encontrar a mãe de Anita.
É ficção histórica com a história ainda em construção, e Allende traça uma linha direta desde as atrocidades do Holocausto, passando pelos massacres e ditaduras conduzidos pela CIA na América Latina no final do século XX, até à administração Trump, através da devastação e desespero que criaram aos direitos humanos.
O paralelo entre as histórias é claro, e Allende não hesita em mostrar que o governo americano caminha para os mesmos passos percorridos por Hitler. De um jeito lírico e poético, Allende deixa claro que a História se repete, e ressalta que os eventos que acontecem com os salvadorenhos e com os mexicanos não recebem a visibilidade, tampouco a importância, que deveriam. Através dos personagens, o leitor se conecta com essas narrativas em um nível mais pessoal e íntimo, que acredito possuir muita força.
E eu preciso ressaltar que, quando este livro foi publicado em 2023, cerca de mil crianças mexicanas ainda estavam separadas de suas famílias na fronteira do México com os Estados Unidos. Você escuta falar sobre isso na internet ou no noticiário? Pois é.
Aqui Allende nos lembra que a arte tem poder - deve ter poder - e tem uma responsabilidade em lembrar a sociedade o que realmente importa.
Além da excelente crítica social da obra, o leitor vai encontrar um enredo com energia de clássico. Aos poucos, vamos percebendo que as histórias dos personagens se cruzam, o que pode ser um pouco confuso no início do livro. Começamos em 1938, depois vamos para os anos 50 e os anos 80, e só depois chegamos em Anita e Selena. Demora alguns capítulos até que os enredos comecem a se conectar de fato, o que me deixou um pouquinho perdida, mas não menos interessada. No final, quando tudo se amarra, terminamos na pós-pandemia, o que é uma conclusão fantástica para uma ficção histórica contemporânea. Apenas aplausos para Allende.
No geral, o livro também é sobre família, e traz momentos de ternura agridoce em meio a uma paisagem de crueldade e desespero. Allende claramente se preocupa muito com seus personagens, e esse amor transparece em suas representações deles, tornando-os ainda mais queridos para nós e, embora muitas vezes difícil, este é um livro difícil de largar. É um retrato impressionante de vidas deslocadas e sofridas que podem encontrar consolo umas nas outras.
O final é muito bonito. Todas as pontas soltas se conectam e Allende consegue entregar um fechamento acolhedor e alegre para os enredos, deixando no coração do leitor um pouco de esperança de que as coisas serão melhores - não apenas para os protagonistas da obra, mas também para nós. Recomendo muito a leitura.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
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