Já Li #157 - Às de Espadas, de Faridah Àbíké-Íyímídé

 

No post de hoje, trouxe o livro da escritora britânica-nigeriana Faridah Àbíké-Íyímídé chamado Às de Espadas, leitura que me chamou a atenção pela representatividade de raça e orientação sexual. Mas será que a história é boa mesmo? É sobre isso que vou falar na resenha abaixo.

Faridah Àbíké-Íyímídé começou sua carreira como escritora no ano passado, e este é seu primeiro livro publicado - o que talvez explique alguns pontos fracos de seu estilo de escrita que falarei mais adiante. Há muito de si mesma na personagem principal da história, Chiamaka, como a origem britânica e nigeriana, o background educacional e algumas características pessoais.

"Às de Espadas" é uma mistura de Gossip Girl com o filme Corra!. Classificado como YA, o livro tem dois protagonistas, ambos no último ano do Ensino Médio e se preparando para entrar nas melhores faculdades disponíveis: Chiamaka Adebayo e Devon Richards. Eles são os únicos alunos negros de uma super renomada escola particular chamada Niveus Private Academy, e vem de classes sociais opostas. Chiamaka vem de uma família mais rica e, ao longo dos anos na Niveus, foi se tornando a aluna mais reconhecida e popular. Devon vem de uma classe social pobre, conta com bolsa na Niveus e sua mãe tem três empregos para bancar o restante da mensalidade, e trafica drogas de vez em quando para ajudar com as despesas. 
Quando eles chegam no último ano da escola, ambos recebem títulos de destaque (agora não me recordo os nomes, mas é algo bem ao estilo americano, Líder de Turma, Presidente da Turma, coisas do tipo). Chiamaka não se surpreende pois vê esta nomeação como fruto de seu trabalho. Já Devon não entende o que está acontecendo, uma vez que é um aluno invisível e mediano, e um alerta de que há algo errado acende dentro dele. Não muito tempo depois, a escola começa a ser invadida com mensagens expondo os segredos dos dois a todos, segredos como encobrimento de assassinato e relacionamentos homoafetivos.

Quando estes segredos começam a vir a tona, tanto Chiamaka quanto Devon começam a sofrer consequências em suas vidas. No caso de Chiamaka, as consequências são mais relacionadas ao seu futuro acadêmico e profissional, pois seu histórico escolar fica "manchado" com os conflitos gerados pelas mensagens. Para Devon, afeta seus dois principais relacionamentos - Jack, seu único amigo na Niveus, e André, seu namorado. Depois de um tempo, Chiamaka acaba perdendo também o relacionamento com Jamie, seu melhor amigo e por quem é apaixonada há muito tempo. 

Eu não gostei do livro. Não odiei - Faridah tem ideias boas, a representatividade é extremamente importante, a história tem um suspense legal - mas as falhas de plot e de estilo me desanimaram. Explico.
Primeiro, a motivação do grupo Às de Espadas. Se o objetivo de Faridah é abrir um espaço de discussão sobre o racismo, eu tenho muitas dúvidas que ela fez isso da forma correta. A narrativa mostra uma sociedade branca determinada e organizada pura e exclusivamente para machucar, prejudicar e às vezes matar os negros, começando na escola Niveus e terminando nos canais de mídia. Eu não consegui engolir que, por exemplo, Jamie estabelece uma relação de anos com Chiamaka apenas para machucá-la, chegando a extremos de transar com ela e dizer que a ama, apenas para cumprir um plano maléfico. E isso sem falar em todas as outras pessoas ao redor de Chiamaka e Devon, e todos os esforços, energia e dinheiro investidos apenas por racismo. Gente, veja bem, não duvido que isso aconteça, aconteceu ou possa acontecer, mas como história, como enredo de livro, ficou pobre e mal costurado.

Devon poderia ter sido um personagem tão bom, mas Faridah resolveu depositar nele todos os estereótipos, como negro e como gay. Se foi de propósito ou não, não sei, só acho que funcionou muito mal. A parte que ele descobre que o pai morreu na cadeia quase me fez desistir da leitura, não adicionava em nada na narrativa a não ser reforçar os estereótipos. A mãe dele, que pensei que seria desenvolvida, ou mesmo a relação com ela, também caiu num vão de falta de significado.

O desenvolvimento do suspense - quem enviava as mensagens, quem era o Às de Espadas, quais segredos seriam compartilhados, o motivo por trás disso tudo - estava até interessante, embora a tremenda e proposital semelhança com Gossip Girl me incomodasse muito. Até a parte da investigação do computador 17 da livraria eu estava até gostando, mas dali em diante achei que Faridah se perdeu. Ela tentou trazer uma grandiosidade para a trama que não foi bem construída. De repente, temos assassinatos de negros nas décadas passadas da Niveus, um canal de TV que está acobertando todos os crimes, a falsa morte da menina que Jamie atropela no início do livro... muitos pontos mal conectados.

No fim, achei que Faridah perdeu a chance de trazer assuntos extremamente importantes para uma discussão séria e real. Eu aplaudo sua tentativa de inserir representatividade em YA, mas acredito que ela ainda não tinha a maturidade profissional necessária para carregar uma história pesada como essa. E, por esse motivo, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 2/5

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