Já Li #146 - Delírio, de Lauren Oliver

 

A resenha de hoje é o primeiro volume da trilogia Delírio, livro este que tem o mesmo nome, de autora norte-americana Lauren Oliver. Nesta ficção-especulativa, Lauren brinca com a idéia de que o amor foi considerado uma doença contagiosa e a sociedade busca a cura desse mal. Mas será que esse livro provocou em mim a amor deliria nervosa? Spoiler alert: não. 

Publicado em 2011, o livro "Delírio", que dá origem à trilogia de mesmo nome, acontece num futuro distante onde o amor foi declarado uma doença (chamada amor deliria nervosa) altamente contagiosa que, como tal, precisa ser erradicada. Assim, quando alguém completa 18 anos de idade, a pessoa passa por um procedimento cirúrgico onde um pedacinho do seu cérebro é arrancado, impedindo que a pessoa sinta emoções de forma geral, e não somente o amor. 
Lauren explora um pouco as consequências de uma sociedade assim. Por exemplo, os casamentos são arranjados na ocasião do aniversário de 18 anos e o casal permanece juntos pelo resto da vida. Todos se sentem satisfeitos com os empregos e famílias que possuem, já que não são capazes de sentir frustração ou raiva. A sociedade já está bastante evoluída e ninguém precisa buscar soluções ou inovações, que vem da insatisfação ou da vontade de criar. 

A protagonista do livro é Lena, apelido de Magdalena, que perto do se aniversário de 18 anos conhece Alex. Lena, até então obediente, tímida e conservadora, se apaixona por ele, que é um jovem revolucionário que vive à margem da sociedade e fugiu da cura. Ao conhecê-lo, Lena também descobre a verdade sobre o destino de sua mãe, que até então ela pensava que havia morrido quando ela era criança, e passa a perceber as inúmeras falhas e problemas da sociedade em que vive.

A primeira coisa que me incomodou nesse livro é que ele é qualificado como uma distopia, o que é uma enorme ofensa às distopias de verdade do mundo literário. É, no máximo, e com alguma generosidade da minha parte, um romance ruim de ficção-especulativa. Falta muita profundidade nas premissas da história e há alguns componentes políticos que não fazem o menor sentido com o tom geral da obra, e parece que Lauren só os adicionou a pedido de um editor determinado a vender mais uma distopia YA. O livro todo me soou como um longo episódio da novela Malhação, só que no futuro.
E não são só os elementos políticos que ficaram jogados, como também a estrutura do governo. Seria necessário um nível de violência, controle e crueldade muito maiores - muito! - para que o cenário imaginado por Lauren fizesse sentido. 
Por fim, Lauren não explora o outro lado da moeda, que é como as crianças crescem sem sentirem-se amadas e/ou aceitas. Sendo psicóloga, isso teria um enorme efeito nelas e, consequentemente, na sociedade, e isso deveria ser endereçado para trazer o embasamento que faltou.

Outra coisa que não gostei foi Alex. Veja bem, se um macho vai me fazer contrair uma doença contagiosa extremamente fatal que vai fazer com que eu e toda minha família corram risco de serem presos ou mortos, esse macho tem que ser O Cara. Ele teria que ser escrito de uma forma que, ao ler, eu pensasse que Lena estava certíssima em se meter nessa fria. Mas o Alex é tão clichê, mas tão clichê, que eu sequer consegui construir uma clara idéia de quem ele era na minha cabeça. Parece que Lauren pegou um checklist "como escrever um romance YA" e foi cumprindo cada requisito. Muito chato, sem inspiração e longe de ser apaixonante.

A impressão que tive foi que Lauren teve a idéia, apresentou para uma editora, teve o livro aprovado e daí tentou forjar uma história que fosse comercialmente interessante. Falta alma na narrativa, falta vida, e até o estilo de escrita dela é entediante e linear. Também fiquei com a impressão de que Lauren não tinha pensado na idéia direito e, conforme escrevia, foi improvisando.
E, por tudo isso, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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