O Livro ou a Série? | Pequenas Grandes Mentiras, de Liane Moriarty


Uma série que reúne Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Laura Dern e Meryl Streep jamais poderia passar desapercebida por mim. Assim que acabei de assistir as duas temporadas de "Pequenas Grandes Mentiras" da HBO, corri para ler o livro de Liane Moriarty e, neste post, falarei sobre os dois formatos.

O livro, publicado em 2014, foca em três protagonistas: Jane, uma mãe solteira que acaba de se mudar para Pirriwee (Sidney, Australia) com seu filho Ziggy; Madeleine, que tem dois filhos de seu segundo casamento e é obrigada a conviver com seu ex-marido e a nova esposa dele; e Celeste, que é vítima de violência doméstica de seu milionário marido, Perry. 
As histórias destas três mulheres se entrelaça por causa da pré-escola onde seus filhos estudam e os dramas com outras mães do colégio, sobretudo Renata, cuja filha Amabelle tem sofrido bullying e acusa Ziggy.
O livro alterna o ponto-de-vista para cada uma das protagonistas e é entremeado com depoimentos a polícia de Pirriwee sobre um assassinato que aconteceu no Dia das Perguntas. Conforme o enredo avança, o mistério sobre o assassinato vai aumentando, até que a narrativa chega ao ponto do evento e o leitor descobre o que aconteceu de verdade como, por exemplo, quem morreu, como o assassinato se deu, quem matou, e assim por diante.
O grande trunfo do livro é que Moriarty fez um ótimo trabalho ao mostrar como uma mesma história é vista e contada de muitos jeitos diferentes, dependendo de quem a presenciou e de quem a relata. As mães do colégio de Pirriwee são particularmente predispostas a sempre escolher a versão mais cruel e polêmica.

A série segue basicamente a mesma estrutura do livro e as tramas principais de cada protagonista se mantém. Há várias diferenças entre a série e o livro (Tom e o relacionamento com Jane, o terceiro filho de Madeline, o primo de Perry Saxon Banks, etc) mas separei aqui as que mais me chamaram a atenção:

O lugar: na série, em vez da história se passar na Austrália, o local é a Califórnia. Na prática, isso não faz muita diferença em termos de cenários e locações, mas achei legal ressaltar esta mudança mesmo assim.
O nível sócio-econômico de Madeleine: na série, Madeleine (Reese Whiterspoon) mantém seu emprego de meio-período em Marketing num teatro local, mas é nítido que ela é muito mais rica do que no livro, onde seu nível é mais próximo de Jane do que de Celeste. 
Madeleine não trai o marido: na série, um dos principais conflitos existentes é quando Madeleine trai seu segundo marido, Ed. Esta mudança foi feita por solicitação da própria Reese Whiterspoon, que é também produtora da série, por querer ressaltar que todo mundo tem um segredo ou uma mentira a ser descoberta, até mesmo a "perfeita" Madeleine.
O estupro de Jane:  Na tela, Jane (Shailene Woodley) luta com o trauma do estupro que levou ao nascimento de seu filho Ziggy, mas o livro se concentra mais no impacto que o ataque teve sobre sua auto-estima. Ficamos sabendo que Jane era "voluptuosa" antes de ser agredida, mas desenvolveu um distúrbio alimentar. Na série, não ouvimos nenhuma palavra trocada durante o flashback de Jane - o que faz sentido, já que seria muito mais difícil ocultar a identidade de Perry se ele tivesse diálogo. Em vez disso, o foco está na violência do ato e no medo de Jane de que seu agressor possa matá-la.
Quase gostei da Bonnie do livro: Embora você possa definitivamente argumentar que ela não precisava de uma razão melhor do que vê-lo bater em sua esposa, o livro relata a história de Bonnie de uma maneira convincente. Nas páginas finais do livro, Nathan explica que Bonnie tinha um pai abusivo, então ver Perry atacar acionou uma raiva sem precedentes nela.
A presença de Renata: Até o clímax, Renata é uma vilã unidimensional na página, e embora ela seja tão cruel com Jane e Ziggy na série, ela também é humanizada por ter seu próprio arco e sua própria vida em casa. É difícil imaginar Laura Dern se inscrevendo para um papel tão limitado quanto a Renata do livro, então essa é decididamente uma mudança para melhor.

O livro ou a série? Definitivamente, a série. 
Acho que Moriarty teve grandes ideias em seu livro. Gosto de como ela mostrou que as pessoas tendem a esperar pelo pior das outras, ao mesmo tempo que tem sempre uma ótima justificativa para seus próprios erros. Também gostei como, progressivamente, ela mostra a violência doméstica sofrida por Celeste e as dificuldades da personagem de aceitar e de resolver sua situação. Porém, ao terminar a leitura, eu senti que faltava algo.
Esse "algo" a série entregou com maestria. A produção da HBO tem mais drama e muito mais suspense, sobretudo no que diz respeito à identidade do estuprador de Jane. Além disso, as atrizes são maravilhosas, para dizer o mínimo, e todas elas deram muito mais profundidade e emoção às suas personagens. Elas deram vida ao que Moriarty concebeu e elevaram o enredo do livro de uma maneira brilhante.
Por isso, eu recomendo muitíssimo que vejam a série, mas não acho que há necessidade de ler o livro.

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