Já Li #115 - A Improvável Jornada de Harold Fry, de Rachel Joyce

Na resenha de hoje, falarei sobre a delicada história de "A Improvável Jornada de Harold Fry", escrita por Rachel Joyce e que me deu vontade de sair andando por aí, encontrando respostas dentro de mim.

A história de Harold Fry começou a ser escrita por Rachel Joyce como um conto para a rádio, na época em que seu pai estava com câncer. Infelizmente, ele não viveu tempo suficiente para ver o conto ser transformado em romance, que foi publicado em 2012.

Harold Fry, 65 anos, aparava o gramado de sua casa em Kingsbridge, na costa sul de Devon, quando recebeu uma carta. Uma colega de vinte anos atrás, Queenie Hennessy, está com câncer em um hispital em Berwick-upon-Tweed. Harold escreve uma breve carta em resposta e, quando se dirige à caixa de correio para postá-la, ele decide andar um pouco mais, até a próxima caixa de correio, e para a próxima, e para apróxima, até que decide que vai caminhar até lá. Ele telefona para o hospital de uma cabine telefônica e deixa uma mensagem: ele está indo e Queenie deve permanecer viva enquanto ele faz a jornada. Uma garota no posto de gasolina o inspira, dizendo "Se você tem fé, pode fazer qualquer coisa". Assim, sem bagagem, sem celular e sem tênis apropriados, Harold começa uma caminhada de quase mil quilômetros (vejam o mapa abaixo).

O começo do livro explora a parte prática desta jornada, ou seja, onde Harold vai dormir a cada parada ao longo do caminho, de onde vem seu dinheiro, qual é o trajeto que pretende fazer, onde dorme e onde se alimenta. Também sabemos, ainda de forma breve e superficial, qual é a reação de sua esposa Maureen, que permaneceu em casa esperando Harold retornar da caixa de correios no fim da rua.

A beleza da narrativa se apresenta aos poucos, espelhando o ritmo no qual as coisas acontecem com Harold. Assim, ao longo da caminhada, tanto o leitor quanto o próprio Harold vão ponderando sobre os principais aspectos de sua vida, principalmente seu filho e seu casamento.
A verdade sobre seu filho vai aparecendo bem devagar no enredo por causa da dificuldade de Harold de entrar em contato com suas próprias emoções. O mesmo acontece com Maureen que, vendo-se sozinha em casa, sente remorso por ter se distanciado de Harold ao longo dos anos. A distância física entre eles dá espaço para Harold respirar, ao mesmo tempo que permite que Maureen sinta saudades do marido, e ambos começam a se reconectar entre telefonemas e telegramas.

Fiquei emocionada quando Harold começa a resgatar sua vontade de estar vivo. Ele recebe as gentilezas de estranhos ao longo da jornada e, a cada cidade que passa, seu coração se abre mais e mais, pronto para receber as boas surpresas que a vida ainda tem a lhe oferecer, no auge dos seus 65 anos de idade. E, quilômetros dali, Maureen escuta suas histórias e percebe que também precisa ampliar seus horizontes, por Harold e por si mesma.
Quando a narrativa começou a ficar monótona, Rachel Joyce adiciona um conflito interessante, que é a fama de Harold na Inglaterra. Um dos estranhos que ele encontra no caminho é um jornalista que faz uma matéria sobre sua jornada e assim, rapidamente, sua história chega a todos os lugares, transformando Harold em uma celebridade e atraindo peregrinos que não necessariamente entendem porque ele está fazendo aquilo.

Aliás, Rachel Joyce se preocupa em reiterar, várias vezes, que Harold realmente acredita que Queenie vai permanecer viva se ele continuar caminhando e, por isso, ele não pode "roubar o jogo" e ir de trem ou de carona, por exemplo. A escritora também reforça que Harold e Queenie não tiveram um relacionamento amoroso. Eu achei estes lembretes constantes cansativos porque, no final das contas, para mim o que importava era o wanderlust de Harold, e não o destino final dele. 

Se o leitor decidir acompanhar a jornada de Harold para ver o que vai acontecer com Queenie, vai se frustrar, porque a história não é sobre isso.  Esta é realmente uma história de amor. É sobre amor aos cônjuges, amor aos filhos, amor aos pais, vizinhos, amigos que fizeram sacrifícios e estranhos gentis. É também sobre o amor à natureza e à liberdade.
Por causa desse amor todo, é uma leitura que eu recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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