Comecei a ler "Mentes Sombrias" de Alexandra Bracken entusiasmada. Afinal, era uma distopia que ainda não conhecia e eu tinha lido boas resenhas sobre ela. Mas, no final das contas, foi uma baita decepção e tive que me esforçar para não desistir da leitura. Neste post explico porquê.
Publicado em 2012, a protagonista deste livro é Ruby, Quando Ruby acordou no seu décimo aniversário, algo nela havia mudado. Algo alarmante o suficiente para fazer seus pais trancá-la na garagem e chamar a polícia. Algo que a leva a Thurmond, um brutal "campo de reabilitação" do governo. Ela pode ter sobrevivido à doença misteriosa que matou a maioria das crianças da América, mas ela e os outros surgiram com algo muito pior: habilidades assustadoras que eles não podem controlar.
Cada criança é catalogada com uma cor, sendo as mais inofensivas classificadas como Verdes e as mais mortais, Vermelhas. Ruby observa que, com o tempo, as Vermelhas são assassinadas em Thurmond e ela não entende porquê. A princípio, ela foi considerada uma Verde, mas ao longo da estória sabemos que Ruby manipulou os pensamentos do guarda que a avaliou. Também aprendemos, conforme a leitura evolui, que Ruby pode apagar a memória das pessoas e que fez isso inadvertidamente com seus pais antes de ser levada a Thurmond.
Agora com dezesseis anos, Ruby é um dos perigosos caraterizados como Laranjas. Ela escapa de Thurmond e está fugindo, desesperada para encontrar o refúgio que resta para crianças como ela, chamado East River, agora ao lado de Liam, Bolota e Suzumi (fugitivos de outro campo de concentração).
Tive tantos problemas com este livro que mal sei pode onde começar.
A premissa: milhões de crianças no mundo todo começam a morrer por causa de uma doença muito mal explicada chamada NAIA e, aquelas que não morrem, tornam-se superpoderosas. Em um determinado ponto do enredo, fica impossível continuar comprando a idéia de que nenhuma criança superpoderosa revida, de que não há ninguém no mundo que as ajude, que toda a violência que elas sofrem são passivamente aceitas pelos pais, e que todas as crianças trancafiadas e esfomeadas são patéticas. Mesmo Ruby é completamente apática, e o fato dela conseguir escapar de Thurmond parece uma baita piada de mau gosto da autora. Nenhuma destas premissas me convenceram, a despeito da minha pré-disposição de "engolir o sapo" e continuar lendo.
O governo: se um escritor se dispõe a criar uma distopia, é preciso pensar profunda e friamente nas consequências da sua premissa. Nenhum governo aceitaria matar todas as crianças do mundo, e há um motivo econômico para isso: quem vai trabalhar quando toda a população envelhecer? como a economia vai continuar girando? como o próprio governo vai se sustentar sem uma geração futura que não vai trabalhar nem pagar impostos? Quanto mais eu pensava nisso, mais ridícula a estória se tornava. E acho que, em algum momento, Bracken se deu conta do tamanho furo da sua narrativa, mas já era tarde demais.
Vilões em excesso e sem personalidade: Há dezenas de vilões diferentes neste enredo e nenhum deles, absolutamente nenhum, é marcante. Existem os guardas dos campos de concentração (obviamente cruéis e impessoais), há as pessoas da Liga dos Jovens (que quer roubar as crianças superpoderosas sabe-se lá porquê ou para quê, pois suas intenções nunca são clarificadas por Bracken), há o presidente, o filho do presidente e os caçadores de recompensa. Todos eles perseguem Ruby e seus amigos pelos quatro cantos dos Estados Unidos, em cenas de ação mal escritas e com nenhum embasamento interessante. Em suma: um baita pé no saco.
Ruby: A protagonista é insuportável. Num dado momento, eu só queria que um dos quinze vilões a encontrasse a estória acabasse de uma vez. Quando ela se apaixona por Liam, então, tudo só piora, porque Bracken também falhou miseravelmente em construir o relacionamento entre os dois.
Os poderes: Mal explicados, sub utilizados, praticamente inúteis ao longo do desenvolvimento do enredo. As cenas de ação, que tinham um enorme potencial para que os poderes aparecessem e impressionassem, não entregam nada disso também.
O final: Não é difícil perceber que, quando cheguei ao final da estória, eu já estava tão entediada e tão indignada que o impacto emocional que ele deveria ter não funcionou. Há uma carga dramática nele que o restante do livro não criou e não sustenta, aliado ao fato de que simplesmente não dei a mínima se Ruby seria feliz ou não.
A sensação que tive, quando finalizei a leitura, é de que Bracken não sabia o que estava fazendo. Não é um romance YA, não é uma distopia, não é ficção-especulativa e nem um livro sobre roadtrip. Parece um amontoado de idéias mal lapidadas e personagens pouco construídos, os elementos amarrados de forma relapsa para aproveitar o sucesso de Hunger Games na época da publicação. Ou seja, uma perda de tempo.
1 Comments
Oi!
ResponderExcluirEssa série está na minha lista de desejados há um tempinho e a sua resenha jogou um balde de água fria no que eu esperava dessa série. Gostei de conhecer o outro lado da saga e imagino a sua decepção com ela após os pontos que você abordou.
Enfim, uma pena que o enredo teve vários furos. Obrigada por nos alertar!
Abraçou,
Andy -StarBooks