Sugestão de Leitura | Eleanor Oliphant Está Muito Bem, de Gail Honeyman


A sugestão de leitura de hoje é sobre um livro que mexeu tanto comigo, mas tanto, que foi até difícil de manter o ritmo da leitura. E cada capítulo valeu muito a pena. Hoje é dia de "Eleanor Oliphant Está Muito Bem" de Gail Honeyman.

Escocesa, este livro foi o primeiro de Gail Honeyman, que já começou a carreira de escritora com o pé direito. Embora seja formada em Poesia Francesa, ela logo começou a se dedicar aos romances enquanto trabalhava como Administradora na editora Faber Academy. 

Primeiro, preciso falar sobre a protagonista Eleanor Oliphant. Ela é diferente de tudo o que eu já li - e vocês sabem que já li muito. O traço mais marcante de Eleanor é sua personalidade excêntrica. Ela não tem referências apropriadas de interações sociais e, por isso, se comporta de uma forma muito diferente no trabalho, na fila do mercado, no ônibus, na rua. Eleanor é literal (não entende sarcasmo, piadas, indiretas, metáforas, ironias), fala o que pensa sem filtros, utiliza um vocabulário rebuscado que parece saído de Jane Eyre, é extremamente prática e não tem sentimentos muito complexos. 
Além disso, Eleanor tem dificuldade de entender as nuances de uma interação social ou de um relacionamento, o que gera momentos cômicos no enredo.
Sua personalidade se destaca, inclusive, sobre sua aparência física. Ao longo da leitura, aos poucos, Gail nos conta que Eleanor tem um lado do rosto coberto de cicatrizes e as mãos deformadas por conta de um incêndio. Narrado em primeira pessoa, Eleanor mal percebe que as pessoas sentem repúdio por sua aparência e, quando percebe, não dá a mínima.

Aos 29 anos, Eleanor percebe que trabalha há dez anos como administradora em uma empresa de Design Gráfico. Seus colegas de trabalho não poupam piadas maldosas, mas ela parece não se importar. O que realmente importa a Eleanor é que ela mantenha sua rotina em dia: comer pizzas da Tezco às sextas-feiras, tomar vodka no final de semana, dormir o máximo possível e recomeçar o ciclo. Porém, ao participar de um evento beneficiente da empresa, ela vê o show de uma banda e se apaixona perdidamente pelo vocalista John.
Eleanor começa então a idealizar toda uma vida ao lado de John, num amor platônico que fica entre o bizarro e o adolescente. Por causa dele, ela se rende à tecnologia e compra um notebook com acesso a internet, onde pode "stalkeá-lo" nas redes sociais.
Em paralelo, ela conhece Raymond, que trabalha no TI da empresa e a ajuda com seu computador quebrado. Raymond serve como comparação a Eleanor - largado, sujo, inculto - que endeusa ainda mais John - lindo, artista, refinado. 

Raymond é uma personagem deliciosa e é um excelente contraponto a Eleanor. Ele é doce, tranquilo, desorganizado e não se importa nem com a aparência dela e muito menos com sua personalidade. Raymond aceita as excentricidades de Eleanor prontamente e, com muita paciência e insistência, consegue estabelecer com ela um vínculo de amizade. E a amizade deles é linda e especial. 

O grande trunfo de Gail na narrativa é que ela não entrega tudo de uma vez, o que faz sentido com Eleanor. Uma vez que é ela quem narra a estória, e sendo uma pessoa tão fechada como é, é claro que ela não contaria sua vida a Raymond facilmente. Conforme ela se abre a Raymond, ela se abre ao leitor, o que dá um tom de suspense/mistério incrível à leitura.

Dois momentos foram particularmente angustiantes para mim.
Um deles é a descrição de um final de semana de solidão de Eleanor e sua tentativa de suicídio. Gail criou um capítulo denso, complexo, profundo e difícil que, para mim, deixou uma marca (positiva). Outro são as interações de Eleanor com a mãe, que liga todas as quartas-feiras para denegri-la e ofendê-la.
Assim, embora o livro, de forma geral, tenha um certo tom cômico e irreverente, no fundo trata de assuntos pesadíssimos e sérios. 

No final da estória, há uma plot twist relacionada ao passado de Eleanor. A plot twist vem de forma inesperada (eu sei que isso é uma redundância, mas deu para entender o que eu quis dizer, né?) e é realmente surpreendente. A única ressalva que tenho é que acho que Gail deixou essa reviravolta muito para o final, e quase não dá tempo de digerir o evento antes do término da leitura.

Devorei o livro em 3-4 dias e, sem dúvida, é uma leitura que recomendo. Também ficarei de olho nos próximos livros de Gail, pois ela é uma excelente escritora.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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