Já Li #88 - A Livraria Mágica de Paris, de Nina George


"A Livraria Mágica de Paris" de Nina George é um livro para quem gosta de livros. Um livreiro apaixonado por literatura mas desesperançoso com a vida resolve largar tudo e se aventurar pelas lindas paisagens de Provence.

Nina George, escritora alemã, ficou conhecida do grande público com este livro, mas ela tem uma bibliografia de mais de 25 obras, entre elas mistérios (sob o pseudônimo de Nina Kramer) e documentários sobre amor e erotismo (como Anne West). 

O protagonista de "A Livraria Mágica de Paris" é Jean Perdu. Agora com 50 anos, Jean passou os últimos 21 anos da sua vida lamentando o amor perdido de Manon. Apenas os livros lhe trouxeram algum tipo de consolo durante este período e, por isso, ele reformou um barco e abriu a Farmácia Literária. Sua livraria, ancorada à beira do Rio Sena, logo se tornou famosa em Paris pela abordagem diferente que Jean dá à literatura. Primeiro, ele não separa os livros por gênero como se vê tradicionalmente, e sim, pela "doença" que aquele livro pode curar: saudade de casa, amor perdido, tédio existencial, e assim por diante. Além disso, Jean é muito sincero e, quando um cliente entra em sua Farmácia Literária, ele recomenda o que aquela pessoa precisa ler, e não necessariamente o que ela quer ler.

Jean vive num prédio antigo entre madames fofoqueiras e gatos, mas a mudança de Catherine - recém-divorciada - lhe desperta emoções até então escondidas. Em paralelo, ele descobre que Manon não o abandonou há 21 anos e, sim, que morreu de câncer. Estes eventos o motivam a reativar o motor do barco e sair numa aventura até a cidade onde Manon morava, na região de Provence na França.

Li algumas resenhas desfavoráveis para este livro, então acho que cabe uma observação: o leitor não deve esperar conflitos ou ação ao longo do enredo, pois a narrativa trata-se da jornada, e não do destino final de Jean. Sua obsessão por Manon pode parecer exagerada para alguns, mas é preciso se colocar na mente de Jean e entender sua forma de enxergar o mundo para que as coisas façam sentido. As cidades e as pessoas que ele encontra ao longo do rio são a parte principal do enredo.

Uma destas pessoas é o escritor Max Jordan. Ele acaba de lançar um livro que ficou mundialmente conhecido mas, cansado da fama e preocupado por não conseguir engatar um segundo sucesso, ele decide acompanhar Jean em sua viagem com o Farmácia Literária. Max é um perfeito antagonista para Jean: jovem, extrovertido, impulsivo e cheio de vida. A dinâmica entre eles evolui ao longo da estória e adorei as partes em que Max ganha destaque.

Minha ressalva é em relação a Manon. Toda a jornada de Jean gira ao redor dela e acho que Nina George pecou ao desenvolvê-la. Há pouca informação sobre Manon e, o que aparece, chega em forma de memórias de Jean ou registros em seu diário. Mesmo o mistério envolvendo o término de seu relacionamento é desvendado logo no começo do livro, e acho que Nina perdeu uma oportunidade de deixar o leitor mais curioso com o suspense. Como não me conectei a Manon, houve momentos que eu não consegui "comprar" a idéia de que ele não a tivesse superado depois de 21 anos.

"A Livraria Mágica de Paris" é, em sua essência, um livro sobre o amor, seja pelos livros, pelas pessoas queridas, amor pela França ou por uma amante do passado. A principal motivação que rege as personagens da estória é o amor, em suas diversas formas e com suas peculiaridades. E mesmo quando Nina George fala de ausências, ela está falando da ausência do amor. O que me cativou em seu escrita foi o jeito poético e delicado que ela narra sentimentos sombrios e crises existenciais.

Por isso, embora seja uma leitura que eu recomendo, acredito que ela não vá agradar alguns tipos de leitor. Eu, pessoalmente, terminei o livro com um sorriso no rosto e uma vontade enorme de sair velejando pelo rio Sena.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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