Embora eu não seja muito fã de histórias de amor, o universo do circo é algo que sempre me fascinou e, por causa disso, me interessei pela obra "Água para Elefantes" de Sara Gruen. Este post será um debate sobre o livro e o filme, protagonizado pela linda Reese Witherspoon.
Sara Gruen é conhecida pelo seu engajamento com as causas a favor dos animais. Ao se deparar com relatos de maus tratos que os animais sofriam nos circos, Sara se inspirou e começou uma imersão neste mundo. Ela visitou diversos zoológicos e circos pelos Estados Unidos, onde fez sua pesquisa para compôr Rosie, a elefanta protagonista de "Água para Elefantes".
Publicado em 2006, o livro é narrado por Jacob Jankowski. Agora com 93 anos de idade (ou seria 90? como ele mesmo diz, "90 ou 93, não faz mais diferença") e morando em um asilo, Jacob relembra sua juventude, por ocasião da chegada de um circo que agita os idosos do asilo, todos bastante entusiasmados para ver as atrações do espetáculo. Apesar da idade avançada, Jacob se mantém cheio de lucidez e energia, o que lhe confere uma personalidade carismática e interessante. Me apeguei a ele logo no início da leitura.
Assim, o livro intercala momentos do presente com flashbacks.
Aos 23 anos, Jacob estudava veterinária em uma renomada universidade dos Estados Unidos quando um acidente de carro o deixou orfão. A morte súbita dos seus pais também o deixou sem casa e sem dinheiro e, assim, Jacob largou a faculdade e resolveu subir no primeiro trem que viu pela frente, sem rumo e sem objetivos na vida. O trem era, na realidade, um circo, o "Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra". Sem ter para onde ir, Jacob decide permanecer no trem e encontrar algum emprego no espetáculo, pelo menos enquanto decidia o que fazer com seu futuro.
A estrela do circo é Marlena, que faz o número mais impressionante do espetáculo em cima de cavalos. Ela é casada com August, o "diretor eqüestre" do show e o responsável por todos os animais do circo. Um dos principais cavalos de Marlena está gravemente doente e a notícia que um veterinário está a bordo do trem logo chega aos ouvidos de August. Assim, Jacob se vê diante da ingrata missão de sacrificar um cavalo e de dizer ao dono do circo, Tio Al, que ele terá que arranjar um novo animal para Marlena. Além disso, Jacob presencia a dor e a tristeza de Marlena, que é muito apegada ao cavalo e sente profundamente sua perda.
O filme, lançado em 2011 e dirigido por Francis Lawrence (também responsável por "Constantine", "Jogos Vorazes", "Eu Sou a Lenda" e "Operação Red Sparrow"), tem Reese Witherspoon no papel de Marlena e Robert Pattinson como Jacob.
O roteiro do filme está bastante fiel ao livro. A única mudança importante que foi feita é que, no filme, fundiram as personagens de August e Tio Al em um personagem só, também chamado August. Assim, no filme, ele não é diretor eqüestre, e sim, dono do circo, mas é casado com Marlena. Interpretado por Christopher Waltz, esta personagem ficou incrível. Outra pequena alteração foi que, no filme, Jacob conta suas lembranças ao dono do circo perto do asilo, o que é um baita spoiler. No livro, este encontro só acontece no último capítulo.
O livro ou o filme? O livro.
Quando terminei a leitura, a sensação que tive é que a estória era sobre abuso, e não sobre amor como pode parecer à primeira vista. Embora exista todo o arco romântico entre Jacob e Marlena, o tema principal do livro é o abuso que Marlena sofre em seu casamento com August, além dos abusos que os animais sofrem pelos maus tratos também de August. Jacob aparece como um contraponto à agressividade e instabilidade de August, já que é um perfeito herói romântico: doce, corajoso, protetor e leal, não apenas com Marlena, mas também com os animais do circo - principalmente Rosie, a elefanta - e com os amigos que faz no trem, ao longo da sua jornada.
No filme, por outro lado, achei que o destaque maior foi no caso de amor proibido entre Marlena e Jacob, o que acho que tirou um pouco da profundidade e da relevância dos temas que Sara Gruen trouxe para a estória. Além disso, Reese e Robert não me convenceram como casal, embora Reese tenha feito uma ótima interpretação de Marlena.
Outro ponto a favor do livro é Jacob. No filme, ele perdeu muito de seu carisma e de sua personalidade enquanto que, no livro, ele é muito agradável de ler, sobretudo quando está velhinho.
Minha única ressalva é em relação à Marlena. Vítima de abuso físico, emocional e psicológico, renegada pela família, apaixonada por outra pessoa e estrela de um circo em decadência, achei que Sara Gruen deixou a desejar ao contar a estória do ponto-de-vista de Jacob. Marlena foi mal aproveitada e, em alguns momentos, mal desenvolvida, afinal, uma mulher que enfrenta tantas dificuldades deveria ter mais espaço na trama. Fora isso, achei Marlena forte demais: ela supera os obstáculos sem grandes esforços, logo se apoia em Jacob e não comete nenhum erro. Achei que Sara pecou ao escrevê-la perfeita demais, criando uma visão idealista e utópica de uma mulher vítima de abuso. Sara perdeu a oportunidade de construir uma personagem que fosse inspiradora para leitoras que se vêem diante de situações similares.
Marlena, apesar de todo o seu potencial, apenas aparece como uma Manic Pixie Dream Girl. Um desperdício.
De forma geral, gostei dos dois, do livro e do filme. Ambos me entreteram, embora de maneiras diferentes.
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