Finalmente, cheguei ao fim da leitura da trilogia "Executores" de Brandon Sanderson, encerrada com "Calamidade". Sanderson fez um bom trabalho?
Caso você queira ler as resenhas dos volumes anteriores, clique abaixo:
Se você chegou até aqui, vou partir do princípio que já está familiarizado com as premissas da trilogia e, também, que leu os volumes anteriores.
Agora que Prof sucumbiu à escuridão de seus poderes como Épico, David assumiu a liderança do grupo de Executores. Eles decidem invadir o laboratório de Falcão Paladino para conseguir armamentos e, além disso, alguma ferramenta ou invenção que possa derrotar Prof. Ao serem descobertos, Falcão Paladino e David negociam um acordo de trégua, onde a equipe dos Executores ganha motivadores feitos dos próprios poderes de Prof. Em troca, David promete dar a Falcão Paladino uma amostra do DNA de Prof.
Assim, eles descobrem que Prof está na antiga cidade de Atlanta, agora renomeada como Ildithia. Uma das grandes sacadas de Sanderson nesta trilogia são as cidades que ele inventou para cada volume, todas elas muito criativas e originais. Ildithia é uma cidade feita de sal, que se desmancha e se remonta a cada semana, sempre se movendo, sempre em transição. No entanto, o caráter mutante de Ildithia dificulta o planejamento e as operações dos Executores, que não conseguem estabelecer um quartel-general apropriado.
Em Ildithia, Prof está lutando pelo poder da cidade contra Larápio, um Épico que rouba os poderes de outros Épicos e os assimila. Embora Larápio seja um dos Épicos mais poderosos que existem, ele é preguiçoso e parece não ter a ambição característica dos Épicos. Fugindo de Prof, Larápio se junta aos Executores, sob a condição de que não oferecerá ajuda tampouco se envolverá nos interesses da equipe.
Ao longo deste volume, Brandon Sanderson trouxe de volta a figura do pai de David e toda a carga emocional de sua morte. Acredito que tenha sido uma tentativa de aprofundar a personagem de David que, até então, estava mais focada em cenas de ação e no amor adolescente com Megan. O esforço foi válido pois, de fato, as lembranças dos valores de seu pai e de seus ideais para os Épicos trouxe uma camada mais interessante ao enredo.
Contudo, a sensação que tive foi que Sanderson se perdeu diante dos diversos elementos que inseriu na trama. O autor tentou dar um arco para Megan, que resolve aceitar seus poderes de Épica e, diante desta aceitação, tem seus poderes multiplicados. Mas, mesmo assim, Megan soou linear, como se não tivesse evoluído de fato. Fora isso, os poderes de Megan abarcam invadir dimensões paralelas e acho que Sanderson foi sofrível em fazer as intersecções entre as dimensões, o que deixou a narrativa confusa. As aparições de Tormenta de Fogo, que é a Megan de outra dimensão, são dispensáveis e irrelevantes para a construção da trama.
Há muitas cenas de ação. A princípio, gostei do ritmo do livro mas, aos poucos, o enredo foi ficando bagunçado. Temos a sensação de clímax e, algumas páginas depois, um segundo clímax aparece, tornando o primeiro obsoleto. E aí vem um terceiro. Depois disso, a inserção de uma sequência boba com uma Épica chama Evasão (que me pareceu uma cópia pouco criativa do Homem Formiga da Marvel). Finalmente, quando O Clímax da estória surge, o leitor já está cansado e desorientado.
Infelizmente, este é um erro que vi Sanderson cometer na Segunda Era de Mistborn também. O autor é muito criativo e, às vezes, tenho a sensação de que nem ele e nem seus editores sabem administrar tanto conteúdo.
Por fim, fiquei um pouco frustrada com a figura de Calamidade. Um mistério desde o primeiro volume, gostei quando descobrimos que Calamidade, na verdade, era um Épico que observava a Terra do espaço sideral e fiquei muito curiosa para ler os desdobramentos desta idéia. Porém, quanfo finalmente o mistério foi revelado, achei decepcionante. Por outro lado, gostei do pequeno flerte que Sanderson fez com a ficção-científica e acho que ele tem um potencial a ser explorado neste gênero.
Agora falando sobre a trilogia como um todo, apesar de alguns detalhes aqui e ali, foi uma leitura muito agradável. Sanderson conseguiu construir super-heróis e super-vilões que fogem dos clichês e do previsível, além de ter criado atmosferas e cenários bastante originais. Sanderson continua sendo, na minha opinião, o melhor escritor de fantasia da atualidade, mas anda pisando na bola. Estamos de olho.
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