A resenha de hoje é um livro sobre viagens no tempo, mas que aborda o tema de um jeito diferente e interessante. Acompanhe minha opinião sobre "As Primeiras Quinze Vidas de Harry August", escrito por Claire North.
Claire North é o pseudônimo de Catherine Webb, criado especialmente para suas obras de ficção-científica que, até o momento, são três. Ela também se vale do pseudônimo Kate Griffin quando escreve fantasias para o público adulto e seu nome de batismo é reservado aos romances YA. Filha de um editor e escritor, Catherine publicou seu primeiro livro aos quatorze anos.
Publicado em 2014, o título de "As Primeiras Quinze Vidas de Harry August" é bastante autoexplicativo: narra a estória das quinze primeiras vidas de Harry August. Harry nasce em 1919, na estação de trem Berwick-upon-Tweed e, quando morre, volta a nascer neste mesmo dia, ano e lugar, começando sua vida outra vez. Pessoas como Harry são chamadas de kalachakras (um termo budista que significa "a eterna roda do tempo") ou ouroboranos (símbolo da serpente que come o próprio rabo, representando o tempo cíclico). Mas a principal diferença entre Harry e seus semelhantes é que ele renasce se lembrando de tudo o que aconteceu nas vidas anteriores, cada detalhe e cada evento, enquanto os demais kalachakras se esquecem de tudo.
Por isso, Harry sabe que alguns eventos se repetem em todas as suas vidas, de forma fixa e praticamente imutável: a morte da mãe biológica no parto na estação de trem, a adoção feita por Harriett e Patrick August, a descoberta de que ele é filho do patrão da mãe através de um estupro, a morte da mãe adotiva e a consequente depressão do pai adotivo. Entediado, Harry é forçado a passar por todos esses eventos a cada renascimento.
Em uma de suas vidas (a segunda, se não me engano), ele descobre o Clube Cronus, que reúne e organiza os kalachakras de todos os lugares e épocas, através de Virgínia. Membro do Clube, ela salva Harry de uma sessão de tortura particularmente horrível. No entanto, Harry logo descobre que não concorda com a premissa do clube em que os kalachakras não podem intervir nos acontecimentos do mundo. Quando uma amiga sua é assassinada e esquartejada, Harry se vê na obrigação de impedir que isto se repita nas próximas vidas e decide não apenas matar o assassino da amiga, como também decide que não seguirá a premissa do Clube.
Ao longo de suas vidas, Harry vai acumulando conhecimento nas mais diversas áreas, beneficiando-se do fato de não esquecer tudo ao renascer. Assim, ele é médico, físico, químico, militar e professor e logo chama a atenção de Vincent Rankis, que vê em Harry a peça que faltava para a construção de um espelho quântico. Em paralelo, os kalachakras do futuro vão passando uma mensagem em direção ao passado, de geração para geração, avisando que o mundo está acabando, e cada vez mais rápido.
Minha leitura teve altos e baixos. No início, fiquei bastante empolgada com a estória. As idas e vindas de Harry August pelo tempo foram bastante interessantes e Claire North trazia um ponto-de-vista novo a cada repetição dos eventos da vida de Harry, mostrando como ele estava mudando e evoluindo em seus ciclos de renascimento e morte.
Depois, mais ou menos na metade do livro, minha atenção vacilou. Esperava mais ação e mais conflito com o Clube Cronus, que acabou tornando-se coadjuvante na trama com o surgimento de Vincent. Além disso, a escrita de Claire North tornou-se confusa e achei que ela deixou a desejar no desenvolvimento dos conceitos de ficção-científica que ela mesma criou.
Perto do final, voltei a gostar do livro, embora não no mesmo nível que eu estava gostando no começo. Vincent é um excelente antagonista e tem uma dinâmica muito interessante com Harry, mas esperava mais foco no "fim do mundo que chega cada vez mais rápido" e menos no relacionamento dos dois. Além disso, Claire não se decidia se eles eram um par romântico ou não, e isso me incomodou também.
Em relação à narrativa, alguns trechos pareciam forçados, como se o editor de Claire tivesse feito uma anotação em seu manuscrito dizendo para ela inserir explicações e descrições. Alguns parágrafos e sentenças não tinha conexão entre si, tornando o ritmo de leitura fragmentado e pouco fluido. Talvez fosse uma tentativa de corrigir a falha que mencionei acima, sobre o desenvolvimento dos conceitos de ficção-científica, mas que não deu certo.
De forma geral, o livro é bom, mas não me impressionou. No fundo, é a estória da rivalidade entre dois gênios mal compreendidos, ambos acreditando que estão fazendo o Bem para o mundo quando, na realidade, estão cometendo atos dúbios e imorais. As viagens no tempo e os renascimentos acabam sendo, apenas, um pano de fundo. Por isso, achei que Claire North aproveitou mal os elementos de sua ficção-científica, deixando-a pobrinha e imatura.
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