Sugestão de Leitura | 30 e Poucos Anos e Uma Máquina do Tempo, de Mo Daviau
Um dos meus temas preferidos é viagem no tempo. Desde pequena, sou fascinada pelo conceito e, por isso, estou sempre buscando por livros e filmes que abordem o assunto de forma original e coerente. Este mês, a sugestão de leitura vem com este tema em "30 e Poucos Anos e Uma Máquina do Tempo" de Mo Daviau.
Mo Daviau é uma comediante de stand-up norteamericana que resolveu se aventurar na literatura. Depois de fazer parte de cinco trupes itinerantes de improvisação de humor, ela passou a escrever peças de teatro e, também, o livro desta resenha. Sua característica de humor permeia todo o livro, com piadas inteligentes, sarcasmo e situações irreverentes sem serem clichê ou exageradas.
A pergunta inicial do livro e o fio condutor da obra em "30 e Poucos Anos e Uma Máquina do Tempo" é: Se você pudesse voltar no tempo para assistir uma banda, qual (e quando) seria? Karl Bender era guitarrista de uma banda indie semifamosa, chamada Axis, nos anos 90. Agora quarentão, sedentário de dono de um bar meio falido, Karl começa a ter uma crise de meia idade e se vê sem grandes objetivos para o futuro. Seu único consolo é conversar com seu amigo Wayne, que comparece diariamente ao bar para discussões nostálgicas sobre como o passado era melhor que o presente. Karl ainda se ressente com o fim do relacionamento com Meredith, há 14 anos, o que o deixa ainda mais preso ao anos 90.
Um dia, no seu armário, Karl descobre um buraco de minhoca que o transporta pelo tempo. Com a ajuda de Wayne, diplomado pelo MIT, eles criam uma máquina do tempo. O único ponto fraco deste livro, para mim, foi a simplicidade com que a tal máquina do tempo é construída e, pior, reproduzida por Lena mais tarde na estória.
Por um erro de digitação, Karl manda Wayne para 980, em vez de 1980 como era seu desejo. Wayne não sabe como resgatá-lo deste ano, uma vez que não havia eletricidade, e procura ajuda na Universidade de Física local. Pelo site da universidade, ele encontra Lena Geduldig usando uma camiseta de uma de suas bandas preferidas. Assim, eles começam um relacionamento conturbado quando Karl a contrata para resgatar Wayne.
Assim como Karl, Lena está presa ao passado. A morte da mãe, uma madrasta cruel, um estupro e uma traição acadêmica a tornaram amarga e cínica. Karl, ao contrário, é carente e sensível, e deseja salvar Lena dela mesma, embora ela não queira (nem precise) ser salva. A moral e a ética envolvendo o uso da máquina do tempo causa conflitos na relação, pois Karl só quer usá-la para ver shows de bandas de rock, enquanto Lena quer mudar todo o seu passado e se reconstruir. Tanto Lena quanto Karl são ótimos personagens, que trazem dinamismo e originalidade à narrativa e tem um relacionamento amoroso longe dos clichês.
Embora o livro seja uma ficção-científica, pelo tema de viagem no tempo, Mo Daviau escreveu uma estória mais filosófica do que científica. A autora não se preocupa se as leis da Físicas explicadas na trama fazem sentido, tampouco se propõe a aprofundar as possibilidades da viagem do tempo. O principal tema deste livro é a reflexão: Você mudaria o seu passado e, se sim, quem você seria agora? Você seria a mesma pessoa ou seria alguém completamente diferente? Estas perguntas que a estória sucinta me lembraram a Trilogia Firebird de Claudia Gray.
Mo Daviau também desenvolveu várias atmosferas: 980 onde Wayne está, mostrando como era a Humanidade e seus costumes numa época completamente selvagem e sem tecnologia; os saudosos anos 90 e o futuro de 2029 (que não posso contar sua função no enredo porque seria um grande spoiler).
Foi uma leitura que transcorreu com muita fluidez e que prendeu minha atenção. Gostei sobretudo no final da estória que foi, ao mesmo tempo, inteligente, coerente e emotivo.
Bônus: nesta playlist do Spotify, tem todas as músicas mencionadas ao longo do livro.
Bônus ²: Eu voltaria no tempo para ver 1) o Acústico do Nirvana na MTV; 2) um show da Alanis Morissete na época de Jagged Little Pill; 3) um show do Smashing Pumpkins com a formação original (saudades, Darcy) e 4) o Woodstock.
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