O livro ou o filme? | O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick


No debate "o livro ou o filme?" de hoje, a obra escolhida foi "O Lado Bom da Vida", de Matthew Quick. Desta vez, a resenha é da convidada especial Deborah Mundin.

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Deborah Mundin é convidada especial do blog e, de vez em quando, nos escreve resenhas com jeitão de conversa. Ela também mantém o blog Constantemente Inconstante.

Olá,

O livro em questão, "O Lado Bom da Vida", foi o debut do escritor Matthew Quick. Lançado em 2008 (já com seus direitos vendidos para a realização do filme), "O Lado Bom da Vida" alcançou um grande público em suas duas mídias e foi elogiadíssimo, ganhando prêmios como a menção honrosa no PEN/Hemingway Award for Debut Fiction e, claro, o Oscar de Melhor Atriz para Jenniffer Lawrence em 2013.

A estória, no livro, é narrada em primeira pessoa pela personagem de Pat, interpretado na adaptação cinematográfica por Bradley Cooper. Ele acabou de sair de um hospital psiquiátrico após um colapso mental causado por grande stress. Pat acredita que devemos sempre olhar para o lado bom da vida e que ele conseguirá reconstruir sua própria vida. Tudo isso é uma ótima ideia e uma excelente perspectiva de futuro se seu único objetivo não fosse reconquistar a ex-esposa. E ele é MUITO obcecado nisso. MUITO. 
E esse pra mim é um dos grandes problemas nessa estória. 

No livro, o leitor demora muito tempo para descobrir o que aconteceu no passado de Pat, já que a estória é contada por ele e ele reluta em reviver o episódio traumático que o levou ao hospital psiquiátrico. Muita expectativa é criada no leitor, por conta de todo o “pisar em ovos” das personagens que o rodeiam, e isso torna a revelação um pouco decepcionante. O filme tem a vantagem de, logo de cara, contar o que aconteceu e poupar o expectador de tanta "enrolação". 

OK, aí você segura firme no livro e sobrevive à obsessão de reatar com a ex-mulher e segue em frente. Eis que surge, a meu ver, o segundo problema dessa estória: Tiffany (interpretada pela Jenniffer Lawrence no filme). Você tem um amigo que acabou de sair do hospital psiquiátrico, está pisando em ovos nesta relação por não saber como reagir, sabe que ele atormentou a ex-mulher, e o que você faz? Convida ele para um jantar e o apresenta à sua cunhada que, olha, também teve um passado problemático e está se recuperando.  A. CARA. DO. ERRO. 

E Tiffany não é uma pessoa que está passando pela fase difícil de maneira melancólica - nãão, Tiffany é o tipo de mulher “expansiva”, poderia até categoriza-la no tipo Manic Pixie Dream Girl*. Como ela precisa dele para alcançar seu objetivo (ele será seu par para que ela possa ganhar um concurso de dança), ela acaba por chantageá-lo até conseguir.   
*Manic Pixie Dream Girl: é uma personagem feminina machista disfarçada de garota ideal. Caso queira saber mais sobre este estereótipo, clique aqui.

No final, tudo se ajeita. E temos aí uma estória que tinha tudo para ser diferente (meio comédia, meio drama) mas que seguiu para um caminho clássico sem grandes surpresas.

O livro ou o filme? Na verdade, sinceramente, nenhum. Mas o filme é menos pior.

"O Lado Bom da Vida" desse livro, para mim, foi quando ele acabou. A ideia é uma estória de superação e crescimento, mas o desenrolar moroso e algumas situações difíceis de acreditar (ou criar empatia) tornam esta leitura bem entediante.
O filme não poderia ir muito além, já que o enredo se baseia no livro. Porém, o desenvolvimento do enredo é mais rápido e as atuações de Cooper e Lawrence o tornam mais tragável.
(Façamos um minuto de silêncio por Robert De Niro, que tem Don Corleone no currículo e faz o papel do pai de Pat nesse filme). 
Por isso, meu voto, desta vez, vai para o filme. 


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