Sugestão de Leitura | A Mulher do Viajante no Tempo, de Audrey Niffenegger



Viagem no tempo é um tema que sempre gostei e a leitura deste livro, "A Mulher do Viajante no Tempo" de Audrey Niffenegger, foi uma agradável surpresa. Mistura de drama e ficção-científica, é a sugestão de leitura deste mês.

Este post também faz parte do Rory Gilmore Book Challenge.

Audrey Niffenegger começou sua carreira escrevendo HQs. Depois, partiu para estórias de ficção envolvendo mistérios e fantasmas. Ela alcançou popularidade com o livro "A Mulher do Viajante no Tempo", publicado em 2003. Atualmente, ela é professora de Escrita Criativa na Universidade de Columbia.

"A Mulher do Viajante no Tempo" é narrado pelo ponto-de-vista de duas personagens: Henry deTamble, o viajante do tempo, e Clare, sua esposa. Quando Henry narra, ele dá maiores explicações de como funcionam as viagens no tempo, enquanto Clare traz a perspectiva de quem vive esperando o marido retornar destas insólitas viagens. 

Henry tem uma doença genética que permite que ele viaje pelo tempo. É um gene extra no seu DNA, ainda não identificado. Suas viagens no tempo costumam acontecer quando ele está nervoso, estressado ou triste, e ele não tem nenhum controle para onde ou quando irá viajar. De forma geral, ele retorna para o passado, revivendo momentos-chave de sua vida. O livro começa com uma visita de Henry à Clare, quando esta ainda tinha seis anos de idade. Ele deixa escapar que será o futuro marido dela e lhe dá de presente um caderno com as datas que irá aparecer em sua vida, para ela esperá-lo.

"— Conheci Clare pela primeira vez em outubro de 1991. Ela me conheceu pela primeira vez em setembro de 1977; Clare tinha 6 anos, eu tinha os 38 que ainda vou fazer. Ela me conhece a vida inteira. Em 1991, acabo de conhecer Clare. Aliás, você devia perguntar isso tudo a Clare. Ela te conta." ("A Mulher do Viajante no Tempo", de Audrey Niffenegger)

Enquanto não conhece Clare, Henry é a perfeita encarnação do anti-herói: usa drogas, é alcoólatra, promíscuo, viciado em sexo e extremamente egoísta, mas tem um espírito amoroso, leal e bondoso. Para manter-se vivo, ele precisa roubar, invadir propriedades, fugir de policiais, etc, já que não pode ter um emprego normal. Ele tem uma namorada, Ingrid, que acaba cometendo suicídio por causa do estilo de vida de Henry. Ele não fala com o pai desde a morte da mãe em um acidente de carro. Quando ele, finalmente, conhece Clare, Clare já o conhece desde criança. Como ela sempre conversou com o Henry do futuro, mais velho e mais maduro, ela tem dificuldades de aceitar o Henry do presente.

"— Bom, pense. Você vai para o futuro, faz alguma coisa e volta ao presente. Aí, o que você fez é parte do seu passado. Então, provavelmente também é inevitável."  ("A Mulher do Viajante no Tempo", de Audrey Niffenegger)

Clare, desde o começo, sabe que terá uma vida conjugal muito difícil. Henry some de repente, por causa das viagens no tempo, e aparece de volta igualmente de repente. Porém, ele pode aparecer ferido, espancado, nu, esfomeado ou triste, dependendo de qual ponto do tempo ele foi parar. Clare parece a Penélope, do mito da Odisséia de Homero, que vive para esperar o marido e lamentar. Por isso, Clare é uma personagem muito chata. Não gostei dos trechos narrados por ela, além de ela ser linear no enredo, sem nenhum tipo de evolução. Para preencher o vazio que Henry deixa, Clare cisma em engravidar dele, o que gera seis abortos espontâneos agressivos e totalmente desnecessários.

O que manteve minha leitura foi Henry. Ele lida com todas as questões morais e éticas envolvendo suas viagens no tempo de forma leve e descompromissada, ao mesmo tempo que traz as devidas explicações aos leitores. Ele é carismático e envolvente e, por isso, entendemos porque Clare insiste em permanecer ao lado dele, mesmo depois de tudo o que eles passam.

Para compreender o livro, é imprescindível prestar atenção às notas que iniciam cada capítulo. Nelas, Niffenegger diz em qual ano se passa aquele trecho e quantos anos Henry e Clare têm. Assim, o leitor consegue se situar em qual ponto da estória eles estão, uma vez que há muitas idas e vindas ao passado e ao futuro. 

Predominantemente, este livro é uma estória de amor. Há várias passagens de sexo e vida a dois, entremeadas com dramas familiares e algumas cenas um tanto apelativas - sem dar muitos spoilers, tem até amputação de pés. Achei que estes trechos mais violentos estavam um pouco fora do tom do restante do enredo, mas, de certa forma, trouxeram maior profundidade à estória. Em muitos aspectos, a leitura me lembrou "Série Outlander - Vol 1: A Viajante no Tempo", de Diana Gabaldon.

Para quem gosta do assunto de viagem no tempo mas prefere uma abordagem mais científica, não recomendo a leitura deste livro. Os trechos de ficção-científica são breves, resumindo-se às explicações genéticas da doença de Henry e seu tratamento. Caso você prefira esta abordagem, recomendo ler a coletânea "As Melhores Histórias de Viagem no Tempo" (Diversos Autores).

Foi uma leitura que me prendeu do começo ao fim. Henry diz, no início da estória, que nunca conseguiu viajar para o futuro além dos seus 43 anos de idade. Ele não sabe se é porque encontraram a cura para sua doença ou se é porque ele morreu. Este mistério permeia todo o eenredo, e Niffenegger conseguiu manter bem o clima de suspense. Também foi uma leitura que me emocionou muito e que me deixou com a cabeça presa na estória, pensando e repensando sobre as viagens de Henry. Recomendo bastante este livro!

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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