Até alguns meses atrás, ainda não tinha lido nenhum livro de Dan Brown e nem assistido aos filmes adaptados de suas obras. Finalmente, assisti aos três filmes lançados e, depois de Inferno, fiquei muito curiosa para saber como seriam as estórias detalhadas dos livros. Gostei muito do filme, mas quando conversei com pessoas que já tinham lido o livro, quase apanhei - e agora entendo porquê.
Assim como em outras três obras de Dan Brown, o protagonista deste livro é Robert Langdon, professor de iconografia religiosa e simbologia na Universidade de Harvard. Ele desperta em uma cama de hospital, gravemente ferido na cabeça por um tiro de raspão e com sua memória de curto prazo completamente afetada. Assim, quando uma mulher tenta matá-lo (de novo) no hospital e ele precisa fugir com a médica Sienna, ele não entende absolutamente nada do que está acontecendo.
Langdon, então, percebe que está em Florença, na Itália, e também descobre que está em posse de um mini-projetor que contém o Mapa do Inferno de Botticelli. Com a ajuda de Sienna, ele começa a desvendar vários códigos que foram colocados propositalmente no Mapa do Inferno, e estes códigos os levam por todos os pontos turísticos e artísticos de Florença. (Estive lá em 2011 e, para mim, estas cenas foram uma delícia de ler, pois me lembrei de cada detalhe e de cada passeio que fiz no período em que fiquei por lá. Senti muita saudade de Florença).
Em paralelo a isso, Langdon e Sienna fogem de várias pessoas que tentam ou matá-los ou prendê-los, e mesmo o leitor não entende quem são estas pessoas ou porque Langdon está sendo perseguido. Desta forma, como personagens coadjuvantes, temos: Elizabeth, líder da Organização Mundial da Saúde (OMS); Diretor, chefe de uma organização secreta chamada Consórcio e sua assassina Vayentha; e Jonathan Ferris, um agente duplo. Como as motivações de cada um aparecem aos poucos na narrativa, o leitor permanece preso à ação e ao mistério envolvendo Langdon.
O antagonista principal, o milionário e gênio Bertrand, morre no prólogo do livro. Assim, estamos diante de uma ameaça mundial que ele planejou cuidadosamente antes de cometer suicídio na abertura da estória. Bertrand é a força motriz do livro, semeando discórdia, reflexão e movimento. Tanto Langdon como as demais personagens da estória tentam ou impedir os planos de Bertrand ou colocá-los em prática. Todas as justificativas de Bertrand são pautadas na obra de Dante, Inferno.
A característica de Dan Brown de explicar obras de arte, religião, história e arquitetura continua muito presente em Inferno. Para quem gosta destes assuntos, a leitura é uma verdadeira aula (e eu adoro isso).
O filme, lançado em 2016, trouxe novamente Tom Hanks como Robert Langdon. Hanks é um dos poucos méritos do filme, pois ele conseguiu transportar o professor de Harvard perfeitamente para as telas. É impossível ler os livros sem imaginar Hanks na pele do protagonista,. O segundo (e último) mérito do filme foram as locações em Florença, dando vida aos lugares que Brown precisou descrever detalhadamente para que o leitor pudesse compreender a atmosfera artística da Itália.
Porém, daí em diante, o filme parece ser uma obra completamente desconectada do livro que o originou. Primeiro, as personagens são fisicamente diferentes do que as descritas no livro, o que causa uma estranheza inicial (louras viraram morenas, homens viraram mulheres e vice-versa, entre outros detalhes do tipo). Depois, alteraram as premissas e o relacionamento em si de Langdon com Elizabeth, pois no filme eles aparentam ter uma relação mal resolvida no passado, enquanto no livro eles são completamente desconhecidos um ao outro.
Algumas personagens coadjuvantes mais relevantes foram excluídas do filme, enquanto outras que não possuem tanto peso no livro ganharam uma importância maior do que, de fato, tinham. E, para finalizar, a própria Sienna tem atitudes bastante distintas entre uma obra e outra, pois no livro dá-se mais ênfase à sua infância difícil (incluindo estupro!) e ao fato dela ser superdotada.
O livro ou filme? O livro, sem dúvidas. Além de todas as mudanças que mencionei acima, o diretor e os produtores do filme excluíram a linha teórica principal da estória, o transumanismo, que explica todas as ações de Bertrand, do Consórcio e dos aliados poderosos que eles tiveram ao longo do caminho. O transumismo pressupõe que o ser humano deve mudar geneticamente a si mesmo para tornar-se uma espécie melhor, mais forte e mais adaptável ao futuro da Terra, o que implica que mais de metade da população do planeta deveria morrer. Acredito que eles acharam que esta teoria era "forte" demais para ser levada ao grande público.
Recomendo muito a leitura de Inferno, pois mistura História da Arte, suspense, mistério, crimes e um pouco de ficção especulativa. Já o filme, assista só se não tiver a intenção de ler o livro pois, do contrário, você vai se frustrar.
3 Comments
Sempre tive a maior birra infundada com o Dan Brown, admito. Nem sei dizer de onde surgiu isso hahaha Mas hoje em dia eu penso que preciso ler algum livro dele, pra saber exatamente como é. O máximo que cheguei perto de algo dele foi com o filme O Código Da Vinci e nem lembro se gostei, acho que não muito. De fato é interessante que ele cria histórias de mistério relacionadas a obras de arte e eu adoro tudo isso, então acho que preciso dar uma chance. Será que Inferno pode ser meu primeiro? Não sei exatamente qual a relação entre os livros, além do protagonista ser o mesmo.
ResponderExcluirOi Aline,
ExcluirNão existe nenhuma relação entre os livros, só o protagonista que é o mesmo. E "Inferno" é bem legal, porque mistura História, História da Arte e Literatura, então é mais abrangente. Eu gostei muito, acho que vale a pena superar a birra (que eu também tinha).
Só li esse livro do autor e não gostei, acho que Dan Brown não é para mim, a narrativa dele me irrita, ele dá tudo mastigadinho demais, parece que acha que nós leitores somos burros, seilá, não me agradou não hahaha
ResponderExcluirToca da Lebre