Tem dias que acordo não querendo ser um adulto. A agenda de compromissos do dia, as responsabilidades e contas para pagar, os conflitos de relacionamentos e tantas outras coisas da vida adulta parecem um fardo grande demais para ser carregado. Em dias como esses, me refugio em pequenos hobbies que resgatam alguns prazeres que eu tinha quando era criança: desenhar, pintar, ler, passear no parque, entre outros. Refletindo sobre esta tática de escapismo da realidade, percebi que o lúdico é importante para nos mantermos sãos e salvos do mundo ao nosso redor.
Na faculdade de Psicologia, estudamos bastante sobre a importância do lúdico do desenvolvimento de crianças e adolescentes. As atividades ajudam não só na parte de coordenação motora, como também no desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da capacidade de solucionar problemas. Porém, conforme vamos crescendo, parece que a sociedade nos corta as asas e brincar se torna algo exclusivo da infância.
O lúdico, na vida adulta, pode se manifestar em qualquer atividade que seja vista como hobby, que não esteja relacionada ao trabalho e vida profissional e que seja feita com prazer nas horas vagas. Assim, pode ser pintar um quadro, desenhar, colorir, bordar, cozinhar, praticar um esporte, jogar video-game, tocar um instrumento musical, e assim por diante. Também é fundamental que a atividade, para ser considerada como lúdica, mexa com a imaginação de quem a pratica.
O lúdico é importante pois nos lembra do espírito livre que tínhamos na infância. Não nos preocupávamos com performance, popularidade, dinheiro, metas ou resultados: na hora da brincadeira, estávamos 100% presentes naquele momento, sem expectativas e sem pensar no futuro, apenas "sendo". Com a vida adulta, perdemos esta capacidade de "ser" livremente, pois estamos sempre sujeitos às expectativas e realidades que o mundo nos coloca.
Além disso, muitos psicólogos definem as atividades lúdicas como "a linguagem do espontâneo". É uma forma, além da verbal, que temos de nos comunicar com as pessoas ao nosso redor e com o mundo, onde podemos manifestar nossos anseios, desejos e temores, sem restrições e sem "certo e errado". Esta espontaneidade é imprescindível para mantermos nossa mente e nossas emoções em ordem quando nos tornamos adultos. Novamente, estamos inseridos em um contexto em que nos dizem como devemos agir, pensar e sentir, e a atividade lúdica é uma ótima válvula de escape para esta pressão.
Por fim, uma outra vantagem do lúdico é que ele ajuda a pensar diferente. As atividades lúdicas estimulam partes do nosso cérebro que, de outra forma, não seriam acionadas pela rotina automática que levamos. Com isso, o lúdico aciona o cérebro a pensar.
Brincar não é ser infantil ou imaturo. Brincar é saudável e expande a alma.
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