De vez em quando, embora meu gênero literário favorito seja (Alta) Fantasia, gosto de me arriscar em obras de ficção-científica, principalmente em épocas que estou com um espírito, digamos, mais filosófico sobre a Humanidade e o futuro. E, neste espírito, o livro "As Fontes do Paraíso", de Arthur C. Clark, combinou perfeitamente.
Primeiro, um pouco sobre o genial Arthur C. Clark. Quando criança, ele construiu seu próprio telescópio e, desde cedo, se interessou por Astronomia. Mais tarde, foi especialista em radares da Força Aérea Real Birtânica e, anos depois, foi condecorado Sir pelas suas contribuições tecnológicas. E, no fim da vida, mudou-se para o Sri Lanka, lugar que inspirou o cenário de "As Fontes do Paraíso". E enquanto realizava tudo isso, ele escreveu 33 livros, incluindo o famoso "2001: Uma Odisséia no Espaço".
Publicado em 1979, Clark imaginou em "As Fontes do Paraíso" que no século 22 (um só depois do que estamos) o homem já teria compreendido todo o Universo, seríamos aliados de Marte e de sua população e a Lua serviria como nosso "armazém" de satélites, lixo e tecnologia. Neste contexto, o visionário engenheiro Vannevar Morgan planeja construir um elevador espacial, com o objetivo de substituir os foguetes. Neste futuro, o uso dos foguetes é algo comum (como são os aviões, atualmente) e geram muita poluição sonora na atmosfera da Terra, bem como queimam muito combustível, tornando-se um transporte caríssimo. Seu elevador, no entanto, seria barato e acessível para as massas, popularizando ainda mais as viagens espaciais.
Para que seu projeto seja viável, ele precisa da montanha de Taprobane, o ponto mais alto e estável da Terra. Porém, ali vivem monges budistas que não querem ceder seu monte sagrado. Aqui, ficam claras as influências do Sri Lanka em Clark, pois a geografia, os nomes e os costumes da Terra são todos extrapolações do país onde ele passou os últimos anos de vida. Estes termos e conceitos orientais soam estranhos em meio à tecnologia e futurismo do livro, mas logo o leitor se acostuma com esta ambientação.
O livro permeia vários temas sobre a conquista espacial do Homem: a genialidade de inventores que superam as barreiras de sua época (como o próprio protagonista), como estes gênios não levam o crédito por suas obras, a troca de mensagens misteriosas com uma raça alienígena, as fraquezas e furos na Lógica que esta raça aponta que nós temos, as superstições místicas que ainda acompanham a Humanidade (a despeito do extremo avanço tecnológico) e o impacto psicológico que os avanços tem na massa. Analisando com calma, parece que Clark quer deixar uma mensagem: não importa quanto a Humanidade evolua, ainda somos seres humanos frágeis e cheios de lacunas.
Porém, para chegar nestas camadas do livro, o leitor precisa persistir - a não ser que você seja um engenheiro ou ratinho de Tecnologia. Explico: Clark, até pela sua formação e história de vida, explica cada detalhe técnico de cada engenhoca espacial da estória. Sou de Humanas risos, então, em alguns momentos, essas descrições foram muito cansativas para mim e tornaram a minha leitura um pouco arrasatada. Continuei o livro mesmo assim, esperando pelo desenvolvimento destas camadas que mencionei no parágrafo anterior.
Além disso, senti que Clark poderia ter explorado mais as personalidades das outras personagens, pois havia potencial nelas para um maior aprofundamento das questões humanas diante de um futuro de domínio espacial. Por outro lado, imagino que isto se deve à personalidade do próprio Clark, mais exato e menos emotivo.
Sugiro que o leitor preste atenção a dois pontos que, na minha opinião, são os principais desta obra. Primeiro, às respostas que a raça alienígena fornece para as questões que a Terra apresenta a eles, como religião, comportamento, música e cultura, pois são reflexões muito contundentes de Clark sobre nós. E, segundo, o final, extremamente irônico e sarcástico, com nuances que podem passar desapercebidas.
Em suma, recomendo a leitura, sem dúvidas.
0 Comments