O Jardim Secreto


O mais difícil foi encontrar meu esconderijo. Todos os lugares que conhecia não me ofereciam o nível de silêncio e de solidão que eu precisava. Foram anos e mais anos de busca, mas eu sabia que este lugar existiria e me abrigaria, cedo ou tarde. Meu esconderijo é rodeado por árvores e arbustos, confundindo a visão dos caminhos de terra que ele abriga, é algo intermediário entre um labirinto e uma armadilha.

Ali, tenho meu canto. Sento sob um arco cheio de flores, cutuco com a ponta do pé um fruto, respiro ar limpo e - finalmente - me encontro. O silêncio faz meus ouvidos zunirem e toma conta de mim. Folhinhas fracas e cansadas caem, se enroscam no meu cabelo, e ali ficam.

Quando chove, não me escondo. Me integro por inteiro naquela natureza e me sinto fazendo parte daquele segredo. Quando escurece, enfrento os demônios que saem de mim e ofereço a eles um pequeno buquê de flores. A maioria deles é inofensiva quando olho mais de perto. E, quando sai o sol, vem sempre um passarinho me dar bom dia.

- Prrrrrrrriii! - ele me cumprimenta.
- Bom dia para você também. - eu respondo.

E então ele se aproxima ansioso pela frutinha que seguro. Um carinho nas plumas leves e ele voa de volta para seu mundo de céu. Eu fico, pois o meu mundo é de terra.
Gosto da proteção das plantas, como se elas fossem tão antigas quanto o próprio mundo e sentissem que sua missão é esta. Tão confortáveis naqueles galhos e folhas, pólen e flores. E o recado delas, as flores, é de que a vida é tão... viva! Gosto do som da água que vem do rio, da firmeza das pedras aguentando a correnteza, dos pequenos animais que vão ali matar a sede.

No meu jardim secreto, não há ninguém me dizendo o que fazer - nem minha própria consciência. Não preciso conversar. Não preciso de nada. Só estar ali, no estado temporário de todas as coisas.

É onde me regenero e reconstruo. E nem vou me desculpar por nunca ter te levado até lá - sinceramente, não irei mesmo. É um lugar preservado, onde espalho pelo chão minha essência, como sementes. Não correrei o risco de alguém pisar nelas e esmagá-las. Posso, no máximo, te descrever como é este meu jardim, mas, se você puder evitar fazer perguntas sobre ele, eu agradeço.

Não devemos falar do que é sagrado. Ssshh!
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Posts relacionados: Já falei sobre a fotógrafa Monia Merlo (foto acima) na Galeria de Fotos: Ofelia, de Shakespeare e no artigo da obvious Sobre a expressão da melancolia.

0 Comments