Assim, meio às pressas, decido que agora é a melhor hora de ir embora. E, aproveitando o impulso que pula aqui de dentro, viro minhas costas, fecho a porta e esqueço de você. Porque você, mundo, me cansou.
Me enchi desse blá-blá-blá vazio e sem sentido, de gente que fala demais sem dizer nada-com-nada, como se a palavra não fosse uma ferramenta secreta e precisa - me enchi de vê-la sendo desperdiçada.
Cansei de quem é de mentira, fazendo pose e intriga, vendendo uma imagem que não existe. Cansei de todos comprando esta superficialidade. Cansei de ver foto besta, de reflexão pela metade, de reclamação e de mente pequena. E me pergunto em que ponto das coisas tudo ficou assim tão mesquinho.
Então pego minhas coisas e vou embora, levando comigo só o que importa e o que faz sentido. Coloquei na minha mala o que preciso para construir o meu próprio mundo.
Tem um pouco de tinta porque gosto de mão suja de aquarela.
Tem meia dúzia de lápis de cor para suportar os dias cinzas.
Tem um pedaço que roubei do Sol na última vez que me senti feliz. Tem também uma lasquinha prateada da Lua e um punhadinho de estrelas, para espantar a escuridão.
Tem palavras cruzadas para driblar o tédio. Bicho de pelúcia para me fazer companhia. Papel e caneta, que são como uma parte do meu sangue.
E tem também um globo, porque preciso saber por onde estou andando e para onde ainda posso ir.
Fecho a porta e nem olho para trás.
Não vou sentir nenhuma saudade de você.
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