"Não estou enxergando nada" - eis o único pensamento que era capaz de estruturar na minha cabeça. Ouvia o som dos meus passos como se eles pertencessem a outra pessoa e não sentia que me mexia, embora me movesse. Como um daqueles sonhos esquisitos que nos acordam de madrugada e depois esquecemos completamente, pois não fazia sentido o suficiente para se fixar na memória.
Andar pela escuridão que construí ao meu redor era meio isso: meio pesadelo, meio história de filme alternativo. Meio coração partido, meio pessimismo. E no meio da escuridão, depois de algum tempo, perde-se a noção e os sentidos, e não se sabe mais o que é teto e o que é chão, o que é real e o que foi inventado, o que deve ser ouvido e o que não deve.
(Quanto maior a escuridão, mais altas são as vozes.)
"Não estou enxergando nada, mas já me acostumei" - este foi o segundo pensamento, que só veio depois de um certo tempo. Logo eu, que me achava corajosa e meio revolucionária, me prendi em preconceitos que criei para mim mesma. E ali fiquei, amarrada em fracassos, erros cometidos e uma culpa do tamanho de um mundo inteiro.
O meu medo da escuridão me fazia viver dentro dela.
"E se, saindo desta escuridão, eu encontrar uma ainda pior?"
"Não estou enxergando nada, mas já me acostumei".
Do lado de fora, um dia, abriram uma porta e entrou um pouco de luz. Também escutei uma música bonita e vozes doces - nenhuma delas dizia os absurdos que as outras vozes falavam. Gostei daquilo. Cada vez mais, fui gostando daquilo. Quando a porta não abria, eu esperava. E esperava, e esperava.
Até que um dia descobri o caminho sozinha. Quando as vozes ficavam altas demais, abria a porta e pedia ajuda. Ela sempre vinha - às vezes não como eu esperava, mas sempre vinha. E fui ficando forte, a cada dia, com aquelas frestas de sol acendendo meu coração.
Hoje decidi quebrar as paredes para que o sol entre por todos os lados. Uma porta era só uma porta, e eu quero a luz de dez sóis. Quero compensar o frio que senti. Quero compensar a dor e a tristeza. Quero o que todos querem: ser feliz. Ter meu próprio sol saindo do coração.
Precisei me levantar e lutar, e esta foi a melhor parte - e provavelmente a mais difícil.
Não quero mais viver nas sombras.
Quero sorrir olhando para o céu bonito.
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