Embrulha um pouquinho de silêncio em um pacote bem bonito para mim, por favor. Quero nestes papéis de presente laminados, que fazem reflexos bonitos e coloridos na parede, dependendo da luz. Será bom permitir que minha mente passeie por esses reflexos, me distraindo nos formatos que a cor pode ter, e deixando um pedacinho de mim vagando por ali.
Mas, olha, eu quero um tipo específico de silêncio, e talvez seja necessário procurar um pouco mais por ele. O silêncio que eu quero não é o de fora - aceito bem músicas, conversas interessantes, barulho da vida acontecendo ali na rua: tudo isso podemos manter nessa festa de aniversário improvisada.
O silêncio que eu quero de presente também não é o da minha mente. Ela é assim mesmo: meio conturbada e feroz, de vez em quando soa amarga - mas é só excesso de análise, é um pouco caótica - mas desse caos nasce minha imaginação, e da angústia vem o que crio (ou não). Deixa assim do jeito que é, que eu gosto dessa bagunça e dessa desordem. Daqui eu me renasço todos os dias, porque junto pedacinhos diferentes para montar nossas versões do que posso ser. É confuso, eu sei. Mas é meu.
Eu quero o silêncio do coração.
Ele se debate tentando encontrar razões que justifiquem ser assim tão sonhador. Ele se condena, diariamente, por viver em um mundo assim meio só dele, meio próprio, onde cria castelozinhos tão ingênuos. Não, eu não vejo mal nenhum nisso, acredite, mas ele vê. E precisamos, com uma certa urgência, que as idéias que ele emite sejam reformuladas. Aliás, também seria bom amarrar as mãos dele para ele parar de arrancar as asinhas que nascem, mas isso é outra história - e não é o que estou pedindo de aniversário.
Faz uns anos, três ou quatro aniversários atrás, escrevi:
"...o sonho de ser uma grande e linda borboleta laranja.
Borboleta que olha para frente.
Há flores logo ali adiante."
Borboleta que olha para frente.
Há flores logo ali adiante."
Se você me perguntar onde este sonho de borboleta foi parar, te direi: que não faz a menor diferença. Esta é a minha liberdade, de um jeito puro e inocente - eu simplesmente não quero saber onde meu sonho em forma de borboleta foi parar dentro de mim. O que me faz alegre, hoje, é saber que de fato havia flores me esperando adiante, e fui o que eu deveria ter sido (forte ou fraca, não sei dizer) para chegar até elas. Depois disso, nada mais importou.
Sabe o que importa mesmo? Esse tal de silêncio, que estou pedindo de presente.
Tenho procurado por ele a vida toda. Será que é tarde demais para encontrá-lo?
Ou será cedo?
De qualquer forma, embrulha ele bem bonito. E não esquece do papel que brilha.
1 Comments
Amei!
ResponderExcluirE esse presente... bem, acho que ficará p/ a próxima, afinal seu coração é tão bonito fazendo castelinhos. Fala pra ele parar de ser bobo e aceitar esses castelinhos, uns podem ruir e ele sentir q vai morrer por causa de todo o trabalho perdido, mas não vai.
E fazer esses castelinhos o torna tão único e tão terno que seria uma pena perder isso.