Já Li #133 - Artemis, de Andy Weir

 

A resenha de hoje é uma ficção-científica interessante a respeito da colonização da Lua pela humanidade. Depois de ler "Perdido em Marte", estava curiosa por "Artemis", o segundo livro de Andy Weir

Antes de seguir adiante no post, dê uma olhadinha nesse aqui também: O livro ou o filme? | Perdido em Marte, de Andy Weir

O livro é narrado em primeira pessoa por Jazz Bashara, que aos seis anos de idade se mudou da Arábia para a primeira cidade na Lua, chamada Artemis. A colonização da Lua já aconteceu há cerca de vinte anos, então vemos uma sociedade politica e economicamente estabelecida. Jazz brigou com o pai e, para se sustentar, faz serviços de contrabandista de mercadorias, mas o que ganha é pouco para os custos de vida de Artemis. Assim, quando um de seus clientes oferece muito dinheiro por um trabalho super arriscado, Jazz aceita, mas não imagina que vai descobrir segredos de Artemis e nem que vai se meter com a máfia (brasileira, aliás).

Vamos começar falando de Jazz. Não gostei dela e coloco a culpa disso em Andy. Muitas das características dessa protagonista a fazem quase uma cópia de Mark Watney, de "Perdido em Marte". Minha impressão foi a de que Andy utilizou a mesma fôrma, mudou o gênero de masculino para feminino, e seguiu adiante. Mesmo que eu não conhecesse Mark, ainda assim não gostaria de Jazz. Para mim ficou claro que Andy não sabe como escrever uma personagem feminina e se ateve a uma zona de conforto que não trouxe nada especial à sua protagonista, e Jazz acabou soando como um adolescente de 15 anos e não uma mulher de 26. E, uma vez que o livro é narrado em primeira pessoa, houve momentos que perdi o interesse pela história porque eu não tinha conseguido me conectar com Jazz. O humor dela não funciona, as gírias deixam os diálogos meio sofríveis e mesmo a inteligência de Jazz parece forçada. Enfim, não rolou.

Agora falando sobre a ciência por trás do enredo, tive altos e baixos. Em "Perdido em Marte", eu gostava quando Andy escrevia sobre ciência porque 1) Mark fazia esse assunto ser interessante com o senso de humor maravilhoso que ele tinha e 2) a ciência era crucial para a sobrevivência de Mark e, como eu me importava com ele, me importava com a ciência como consequência. Era leve, divertido e revelante. Aqui em "Artemis", a ciência é focada em Química (as reações envolvendo os gases e materiais na Lua, as consequências dessas reações e como Artemis as usa em sua economia) e solda de metais. Os altos vieram da Química, principalmente porque fiquei pensando o quanto de pesquisa Andy teve que fazer para não escrever besteira. Os baixos vieram das soldas, o ramo de trabalho da família de Jazz e onde ela descobre seus pontos fortes.

Por outro lado, eu adorei o mundo de Artemis. Achei que tudo fez sentido dentro da colônia da Lua, com suas regras, moeda, funcionamento da sociedade, classes sociais, trabalhos disponíveis e todos os extrapolamentos que Andy fez ao longo da trama. De longe, foi a parte que mais gostei do livro, sem dúvida.

Em relação à plot de sabotagem, não prendeu minha atenção mas achei o lance da fibra ótica (que não faço idéia se é realista ou não) inspirado. O meu problema foi com os outros personagens que ajudam Jazz a desvendar o mistério envolvendo o ZAFO e a máfia brasileira. Por exemplo, na parte final do livro, quando Jazz reúne algumas pessoas que vão ajudá-la, eu não me lembro de ninguém. E percebi isso enquanto escrevia essa resenha. Os personagens são mal construídos, carecem de identidade e de desenvolvimento de seus objetivos - até mesmo o pai de Jazz, que tinha potencial para ser um co-protagonista, é apagado. Todos eles são apagados, na verdade, e houve momentos que sequer consegui fixar quais eram seus nomes. (Bob, quem é Bob mesmo?). 
E como a sabotagem e sua resolução dependem, basicamente, dos personagens envolvidos, senti que tudo ficou meio "aguado", sem graça, e continuei lendo mais por causa da ciência mesmo. 

Assim, se eu for resumir minha opinião em uma frase, ela seria: Andy, aprenda a desenvolver personagens. Converse com Brandon Sanderson, pegue umas dicas com o Rei, observe mais o ser humano e compreenda a complexidade que existe nas pessoas do mundo real. Só assim seus próximos livros serão tão bons quanto o primeiro.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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