Já Li #80 - Chamas do Império, vol. 1: O Teatro da Ira, de Diego Guerra


O post de hoje é dedicado à literatura brasileira e traz a resenha do primeiro volume da série Chamas do Império, entitulado "O Teatro da Ira" e escrito por Diego Guerra.

O clima do enredo é de guerra iminente. Os homens do norte e do sul trocam ameaças e reúnem forças, sobretudo ao redor da cidade de Karis. Para quem gosta de Bernard Cornwell, é uma leitura que segue o mesmo estilo. Diego Guerra fez um excelente trabalho criando o universo de seu livro, com povos, crenças, História e cronologia interessantes e bem amarradinhas.

Os pontos-de-vista dos capítulos se alternam entre Jhomm Krulgar e Thalla. Krulgar busca vingança pela morte de seu amor adolescente, Liliah, e ele tem uma conexão especial com os cães selvagens. Thalla, filha de um mercador, namora o príncipe do sul e vê na vingança de Krulgar uma maneira de atingir os próprios objetivos.

Thalla tem uma característica fantástica (literalmente) que me agradou. Ela sonha com eventos do passado e do futuro e consegue manipular as pessoas dentro de seus sonhos. Isso me lembrou alguns elementos da saga A Roda do Tempo, de Robert Jordan, sobretudo o Vol. 5: As Chamas do Paraíso. Lá, há Tel'aran'rhiod, o Mundo dos Sonhos, onde as mulheres se encontram para fazer o mesmo que Thalla faz neste livro de Diego Guerra.

Os elementos fantásticos da trama são sutis e, ao mesmo tempo, encantadores. Neste sentido, o que mais gostei foram as canções entoadas pelo povo dhäeni. Este povo acredita que faz parte da Grande Canção do mundo e, dependendo da situação, eles se valem de uma determinada música para alterar a realidade ao seu redor. Os dhäeni também podem promover a cura e a prosperidade através destas canções. Achei um toque poético muito bonito e que me lembrou A Crônica do Matador do Rei, de Patrick Rothfuss.

Como antagonistas, temos a figura dos Magistrados, que utilizam de seu poder e autoridade para manipular a guerra conforme suas conveniências. Representados por uma pena preta, eles postulam que uma mente sem pecados é uma mente leve mas que ninguém, nem mesmo eles próprios, estão livres do peso dos pecados. Estes elementos e os símbolos adotados para cada parte do Império (norte e sul, Leão Vermelho e Aranha Púrpura) parecem ter referência na saga Guerra dos Tronos. Ainda no quesito de antagonistas, Diego Guerra incorpora trolls ao longo da trama, o que confere à estória uma atmosfera medieval muito interessante.

Como ponto positivo, destaco as cenas de ação, que percorrem toda a trama e foram muito bem desenvolvidas. Além de trazerem emoção e conflito para o enredo, elas servem como uma ótima forma de mostrar as personalidades das personagens e suas principais motivações. Além disso, Diego Guerra tem um estilo de escrita maduro e sólido, que rapidamente envolve o leitor.

Minha única ressalva é em relação ao peso das referências - Cornwell, Rothfuss, George R. R. Martin, e assim por diante. Embora a estória de Diego Guerra seja original e bem desenvolvida, alguns trechos e elementos soaram familiares demais (principalmente para mim, que consumo literatura fantástica tanto quanto consumo café, ou seja, o tempo todo), atrapalhando o envolvimento com a leitura.

É uma leitura que recomendo. Tenho certeza que este livro calará muitas bocas que dizem que a literatura brasileira não tem nada de bom.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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