Rory Gilmore Book Challenge | Memórias de uma Moça Bem Comportada, de Simone de Beauvoir


Este livro faz parte do Rory Gilmore Book Challenge. Para quem não sabe do que se trata, o desafio consiste em ler todos os livros que Rory, a personagem mais legal da série Gilmore Girls, menciona na série. São 340 livros e aqui você pode ver quais o Perplexidade e Silêncio já leu (alguns posts são feitos para outras sessões do blog, mas fazem parte da lista de livros da Rory).

É a segunda vez que Simone de Beauvoir aparece no Rory Gilmore Book Challenge. O outro livro dela, participante do desafio, é o "Segundo Sexo", cuja resenha pode ser lida aqui.

"Memórias de uma Moça Bem Comportada" é um livro autobiográfico de Simone, dividido em três partes: infância, adolescência e vida adulta. O tom de crítica à sociedade burguesa e aos valores impostos às mulheres começa logo no título, pois a "moça bem comportada" é exatamente o que Simone não conseguiu ser.

Na primeira parte da autobiografia, o leitor se aproxima da infância de Simone, vinda de uma família rica e influente da França. Ela conta que, quando criança, era bastante temperamental e sensível, chorando e reclamando ao menor sinal de adversidade. Naquela época, no entanto, sua família se desdobrava em atender aos seus caprichos, coisa que parou de acontecer quando ela entrou na adolescência. Simone também descreve a proximidade de sua mãe e de sua irmã, mas a ausência de seu pai. Ela se esforçava em atender as expectativas de sua família.

"Eu me metamorfoseara definitivamente em menina bem-com-portada. No início, criara artificialmente a personagem: valera-me tantos elogios, de que tirei tão grandes satisfações, que acabei me identificando com ela: tornou-se minha única verdade." (Memórias de uma Moça Bem Comportada, de Simone de Beauvoir)

Simone estudou em uma escola católica exclusiva para meninas, que pregava que as meninas serviam para casar ou para ir a um convento. Não tardou para que Simone começasse a questionar estes valores e tal questionamento foi sufocado pela sua mãe, que acreditava nestes mesmos paradigmas. Assim, Simone voltou-se para Zsa Zsa, amiga de infância que a acompanhou no início da adolescência e, diz-se, foi seu primeiro amor. Na vida adulta, Simone teve diversas relações com mulheres, com o consentimento de seu então amante Jean-Paul Sartre

Na segunda parte do livro, Simone começa a relatar diversos pensamentos e acontecimentos que a tornaram a filósofa feminista que hoje conhecemos. Tudo parece começar com o afastamento forçoso de Zsa Zsa, tanto pela sua família como pela escola, que consideraram Zsa Zsa - geniosa e de opiniões fortes - uma péssima influência ao caráter de Simone. Ela também começa a perceber uma série de falhas na sua família, falhas estas que ela não percebia quando criança, e que a fazem se afastar de sua mãe e irmã. Sozinha, Simone busca conforto no estudo e na leitura de livros "proibidos a moças comportadas" - sobretudo Filosofia.

"No presente e no futuro, eu me gabava assim de reinar sozinha sobre minha própria vida. Entretanto, a religião, a história, as mitologias sugeriam-me outro papel. Imaginava muitas vezes que era Maria Madalena e enxugava os pés de Cristo com meus cabelos compridos. A maior parte das heroínas reais ou lendárias — Santa Blandina, Joana D’Arc na fogueira, Grisélidis, Geneviève de Brabant — só alcançavam a glória e a felicidade, neste mundo ou no outro, através de provações dolorosas infligidas pelos homens." (Memórias de uma Moça Bem Comportada, de Simone de Beauvoir)

Na última parte, que relata o início de sua vida adulta, Simone justifica suas escolhas por estudar Línguas, Matemática e Filosofia. Ela opta, predominantemente, por campos de atuação que irão "ferir" os valores de sua família, por serem contrários aos paradigmas de "uma moça bem comportada". Estes ataques à família e à sociedade burguesa alternam-se em inconscientes e propositais. 

"Se a burrice vencesse, não teríamos mais o direito de pensar, de zombar, de sentir desejos autênticos, prazeres verdadeiros. Era preciso combatê-la, ou renunciar a viver." (Memórias de uma Moça Bem Comportada, de Simone de Beauvoir)

Comparando este livro ao "Segundo Sexo", prefiro este último. A autobiografia de Simone não me foi tão interessante como eu imaginava que seria, tanto pela forma arrastada e parcial que ela conta os eventos, quanto pela falta de aprofundamento nas questões pessoais realmente relevantes de sua vida. Acredito que este livro seja uma leitura interessante para admiradores de Simone que já estejam familiarizados com suas idéias e suas outras obras mas, para quem acabou de conhecê-la e deseja saber mais sobre sua filosofia, não é um livro recomendado.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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