Desafio Livros pelo Mundo | Islândia: Moonstone, de Sjón


O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura de países fora do eixo EUA-Inglaterra, para mostrar a diversidade de culturas e de estórias que existem. Quatorze países já passaram pelo Desafio e hoje é a vez da Islândia.


Recentemente, estivemos viajando pela Islândia. Na época, fiz um breve post sobre esta viagem que pode ser lido aqui. Passeando pelas livrarias de Reykjavik, encontrei o livro "Moonstone - The Boy Who Never Was" do autor Sjòn

Sjòn ficou mais conhecido por ter trabalhado com a cantora Björk em diversas composições musicais. Atualmente com 55 anos, ele se candidatou ao projeto Future Library junto com minha musa Margaret Atwood.

O protagonista da estória é Máni Steinn. O parágrafo de abertura do livro mostra Máni fazendo sexo oral em um homem muito mais velho que ele, nas ruas escuras e frias de Reykjavik, no ano de 1918. Máni tem relações sexuais com homens em troca de dinheiro, já que Máni não consegue emprego na estrutura econômica escassa da Islândia da época. O protagonista não demonstra nenhum tipo de emoção ao fazer estes atos, por isso, é difícil saber se ele é um homossexual ou se suas relações sexuais são puramente mecânicas.

Em paralelo, Sjòn mostra como a Islândia ficou ainda mais isolada do resto do mundo durante a epidemia de febre espanhola, que assolou a Europa na época. As notícias chegam à população islandesa de forma esparsa e incompleta, favorecendo uma atmosfera melancólica e sombria.

Dentro deste contexto, a única diversão - e possibilidade de fuga da realidade - de Máni é ir ao cinema recém-aberto em Reykjavik. O cinema exibe apenas um filme de cada vez e dois filmes por mês, que Máni assiste à exaustão, até que tenha decorado todas as falas. Também são apenas nestes momentos que o protagonista demonstra algum tipo de sentimento na estória pois, via de regra, Máni é apático e solitário, não agindo e nem reagindo ao seu ambiente.

Máni se perde, eventualmente, em devaneios com uma garota, Sóla G., com quem tem um amor platônico, mas não chega a fazer nada a respeito.

Sjòn escreve de um jeito único: ele mistura poesia, surrealismo, trechos documentais, outros que não fazem o menor sentido e frases sensíveis e profundas. É uma leitura bastante difícil, que realça a inadequação de Máni em uma sociedade prestes a confrontar uma Guerra que nem sequer compreende. Máni não encontra seu lugar na comunidade onde vive, da mesma forma que a Islândia não encontra seu papel no mundo. Estes paralelos não são dados de bandeja ao leitor e é preciso refletir - bastante - a cada capítulo para compreender a mensagem de Sjòn.

Sjòn, no entanto, tem o mérito de centralizar sua estória em um protagonista silencioso e isolado e, mesmo assim, tornar o enredo interessante e autêntico. O contexto da Islândia é opressor e a forma como Máni (não) lida com os seus próprios conflitos pessoais torna a estória ainda mais pesada.

Ler este livro foi uma experiência completamente diferente e eu, com certeza, pretendo conhecer mais profundamente a literatura islandesa.

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