O mar e a Lua


Aquela esmagadora sensação de estar à deriva. Dia após dia, quando não há saída diante da imensidão de um mar escuro. Um pouco de mar na sola dos seus pés é bem-vindo, e ela até sorri, mas quando ele vem tomando conta, afunda. Quando a angústia aparece de vez em quando, sua beleza é certa, mesmo que trágica, e sua poesia é clara - mas quando ela se torna um hábito, devasta.

Se ela se sente perdida, é porque não se vê capaz de nadar através de tanta água. Há a correnteza, a maré, os animais, o frio, as ondas - tanto que a assusta! Mesmo que ela reunisse em si toda a força nos braços, e mesmo que aprendesse a nadar, e mesmo que entendesse o mar, ainda assim - ah, ainda assim! - existe a possibilidade iminente de que ela tão somente se afogue. Apesar da luta.

Quando ela abraça os joelhos e enterra a cabeça entre as mãos, ela não está sendo fraca: só precisando de ar. De incentivo. De abraço. A pupila acostuma rápido à escuridão, e a luz às vezes causa um desconforto físico. Mas que se enfie a lanterna em seus olhos, com força - com amor. E se ela chora, e as lágrimas vão parar no mar, ela só precisa lembrar que não vai ser destruída.

Não, não, não. Dessa vez não.

Uma ponta fria cutuca a parte de cima de sua cabeça. Uma ponta áspera, como se feita de um vidro mal processado, rígida, parecendo um grande pedaço de gelo. E brilha, uma luz amarela incandescente, uma luz contínua. Até que ela conseguisse sair de dentro da melancolia - sempre muito espessa - a ponta a cutucou novamente, no mesmo lugar, o que fez com que ela olhasse para cima com uma certa irritação.

- Você pode, por favor, me deixar silenciosa enquanto tenho medo do mar?
- Fica olhando o mar e esquece de olhar para cima. Você não está tentando se salvar do jeito mais produtivo.

A Lua falava com ela do alto de um céu escuro e profundo, e pontilhado de pequenas estrelas. Pontinhos brancos fracos e piscantes, que pareciam lutar contra o breu da noite tanto quanto ela estava ali, lutando com o breu do mar - a vida era uma luta para todos, afinal de contas, sem exceção. Tanto tempo passou processando aquela angústia, que nunca havia pensado em olhar o que havia além: além havia um lindo e limpo céu, cheio de promessas, cheio de caminhos.

A Lua a encarava com olhos sinceros e relevantes, e isso a desconcertou. Estava ali perto, e ela sentia o calor que emanava - discreto, mas poderoso - da luz amarela.

- Vem aqui que eu te mostro o jeito certo. - disse a Lua.

Ela passou uma perna ao redor da Lua, e sentou-se na curva que ela fazia no céu. Era uma Lua bonita, minguante, dessas de cartão-postal. Encostou suas costas na curvatura oposta, como uma cadeira, e ali ficou com as pontas dos pés balançando devagar, e a pontinha do dedo encostando na água do mar:

- A água nem é tão gelada assim. E as ondas não são tão grandes como eu achava. - pensou a menina.

Então ela entendeu que, olhando de outro ângulo, havia felicidade. Sim, havia.
E esperança.
E amor.

E cada gotinha das lágrimas douradas que chorou se misturou à luz da Lua, deixando-a ainda mais amarela e mais bonita.

"Use the darkness to shine much more than before."

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