6 Livros do Feminismo | 6/6 O Feminismo é Para Todos, de bell hooks

 


Recentemente, li um guia chamado O Livro do Feminismo (série "As Grandes Idéias de Todos os Tempos" #14 da Editora Globo Livros) e ele foi tremendamente inspirador. O guia traz obras e mulheres inspiradores desde o séc XV até os dias atuais e aprendi muitíssimo com ele. Por isso, separei seis obras que contribuíram para a história e a evolução do Feminismo ao longo dos anos que eu faço questão que você conheça. Hoje, falarei de "O Feminismo é Para Todos" de bell hooks.

Quem é bell hooks?
bell hooks foca seus trabalhos na interseccionalidade (ou seja, convergência) entre raça, classe e gênero, mostrando que vários aspectos sociais, políticos e econômicos, quando combinados, foram os padrões de discriminação e preconceito. 
Quando criança, bell hooks estudou em escolas segregacionistas no sul dos Estados Unidos, em uma época em que era aceitável e legal (de lei) separar brancos e negros, não só nas escolas, mas também no transporte público, nos banheiros, restaurantes, etc. Vinda da classe operária e com cinco irmãos para ajudar a cuidar, a luta de bell hooks pela igualdade de classe e gênero começou cedo, e se estende até os dias hoje. Ela tem mais de trinta livros publicados e, neste post, vamos focar em uma de suas obras mais conhecidas.

"O Feminismo é Para Todos" foi publicado em 2000. bell hooks diz que buscava um livro que explicasse o feminismo de forma simples e acessível, sobretudo para os homens, e, quando não encontrou nenhum livro assim, decidiu escrever um ela mesma. 
Há um pouco sobre tudo ao longo do livro: maternidade e paternidade, direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, luta de classes, sexualidade, dentre outros. 

Infelizmente, encontrei algumas inconsistências dentro do discurso de hooks e elas me incomodaram. Vou tentar resumi-las nesta resenha.
- hooks fala sobre as mulheres terem o direito de escolher fazer um aborto ou não, em vez da sociedade/governo determinarem quais são as opções disponíveis. Até aí tudo bem. Porém, alguns parágrafos depois, ela diz que condena o aborto, que nunca faria um e dá a entender que acha suas amigas que já o fizeram "vagabundas".
- na sessão sobre paternidade e maternidade, pensei que hooks falaria sobre os papéis de gênero na nossa sociedade, ou mesmo como o governo dificulta a vida das mulheres quando não oferece políticas públicas de qualidade para as mães e para os pais. Mas ela não falou nada disso, apenas que a violência doméstica também é causada pela própria mulher (!). Quase larguei o livro nesse ponto. Sério mesmo, hooks? Serião que você pensa isso?
- embora fale de sororidade, ela compete com outras mulheres pela posição de "melhor feminista" e duvida que mulheres jovens e bonitas possam ser feministas "de verdade". 
- e, coroando a série de frases que tive que ler duas vezes para entender direito, ela diz que homossexuais fazem a escolha de sê-los (e, consequentemente, poderiam escolher a heterossexualidade).

Outra coisa que me incomodou é que, sendo este livro para leigos (como ela mesma diz), há pouco embasamento histórico que promova a educação destas pessoas que sabem pouco sobre feminismo. Há também quase nada de pensamento crítico ou fatos/exemplos reais da sociedade que demonstrem os pontos apresentados ao longo da leitura. Se hooks quer realmente aproximar o público do feminismo, eu não acho que ela tenha conseguido. Ela meramente depositou suas opiniões pessoais no papel e as diz como se fossem verdades não-passíveis de reflexão ou discussão.

Sobre o livro em si, tenho que dizer que a escrita de bell hooks não me inspirou como imaginei que faria. Embora exista uma divisão de temas/capítulos, a sensação que tive foi a de que hooks repetiu as mesmas idéias o tempo todo, apenas mudando a ordem das palavras ou das frases. 
Lendo algumas resenhas desta obra, encontrei com frequência a opinião de que a escrita de hooks, nos últimos tempos, decaiu em qualidade, o que me fez pensar que talvez eu não tenha escolhido o livro certo dela como introdução à sua obra.

A coisa toda foi uma tremenda decepção. Fiquei pensando nas pessoas que não entendem sobre feminismo, estavam dispostas a se educar - o que é maravilhoso - e talvez tenham escolhido este livro pelo título acolhedor. É uma pena que ele não cumpra seu objetivo e não entregue o que devia. 
Para ninguém dizer que não me esforcei em encontrar algo positivo, pelo menos acredito que o livro leve à discussão e ao debate. Apontar as incoerências de hooks é um bom jeito de aprofundar o entendimento sobre o feminismo e trazer temas importantes à tona. Mas, ainda assim, não é uma leitura que eu recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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