Recentemente, li um guia chamado O Livro do Feminismo (série "As Grandes Idéias de Todos os Tempos" #14 da Editora Globo Livros) e ele foi tremendamente inspirador. O guia traz obras e mulheres inspiradores desde o séc XV até os dias atuais e aprendi muitíssimo com ele. Por isso, separei seis obras que contribuíram para a história e a evolução do Feminismo ao longo dos anos que eu faço questão que você conheça. Hoje, falarei de "O Feminismo é Para Todos" de bell hooks.
bell hooks foca seus trabalhos na interseccionalidade (ou seja, convergência) entre raça, classe e gênero, mostrando que vários aspectos sociais, políticos e econômicos, quando combinados, foram os padrões de discriminação e preconceito.
Quando criança, bell hooks estudou em escolas segregacionistas no sul dos Estados Unidos, em uma época em que era aceitável e legal (de lei) separar brancos e negros, não só nas escolas, mas também no transporte público, nos banheiros, restaurantes, etc. Vinda da classe operária e com cinco irmãos para ajudar a cuidar, a luta de bell hooks pela igualdade de classe e gênero começou cedo, e se estende até os dias hoje. Ela tem mais de trinta livros publicados e, neste post, vamos focar em uma de suas obras mais conhecidas.
Quando criança, bell hooks estudou em escolas segregacionistas no sul dos Estados Unidos, em uma época em que era aceitável e legal (de lei) separar brancos e negros, não só nas escolas, mas também no transporte público, nos banheiros, restaurantes, etc. Vinda da classe operária e com cinco irmãos para ajudar a cuidar, a luta de bell hooks pela igualdade de classe e gênero começou cedo, e se estende até os dias hoje. Ela tem mais de trinta livros publicados e, neste post, vamos focar em uma de suas obras mais conhecidas.
"O Feminismo é Para Todos" foi publicado em 2000. bell hooks diz que buscava um livro que explicasse o feminismo de forma simples e acessível, sobretudo para os homens, e, quando não encontrou nenhum livro assim, decidiu escrever um ela mesma.
Há um pouco sobre tudo ao longo do livro: maternidade e paternidade, direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, luta de classes, sexualidade, dentre outros.
Infelizmente, encontrei algumas inconsistências dentro do discurso de hooks e elas me incomodaram. Vou tentar resumi-las nesta resenha.
- hooks fala sobre as mulheres terem o direito de escolher fazer um aborto ou não, em vez da sociedade/governo determinarem quais são as opções disponíveis. Até aí tudo bem. Porém, alguns parágrafos depois, ela diz que condena o aborto, que nunca faria um e dá a entender que acha suas amigas que já o fizeram "vagabundas".
Há um pouco sobre tudo ao longo do livro: maternidade e paternidade, direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, luta de classes, sexualidade, dentre outros.
Infelizmente, encontrei algumas inconsistências dentro do discurso de hooks e elas me incomodaram. Vou tentar resumi-las nesta resenha.
- hooks fala sobre as mulheres terem o direito de escolher fazer um aborto ou não, em vez da sociedade/governo determinarem quais são as opções disponíveis. Até aí tudo bem. Porém, alguns parágrafos depois, ela diz que condena o aborto, que nunca faria um e dá a entender que acha suas amigas que já o fizeram "vagabundas".
- na sessão sobre paternidade e maternidade, pensei que hooks falaria sobre os papéis de gênero na nossa sociedade, ou mesmo como o governo dificulta a vida das mulheres quando não oferece políticas públicas de qualidade para as mães e para os pais. Mas ela não falou nada disso, apenas que a violência doméstica também é causada pela própria mulher (!). Quase larguei o livro nesse ponto. Sério mesmo, hooks? Serião que você pensa isso?
- embora fale de sororidade, ela compete com outras mulheres pela posição de "melhor feminista" e duvida que mulheres jovens e bonitas possam ser feministas "de verdade".
- e, coroando a série de frases que tive que ler duas vezes para entender direito, ela diz que homossexuais fazem a escolha de sê-los (e, consequentemente, poderiam escolher a heterossexualidade).
Outra coisa que me incomodou é que, sendo este livro para leigos (como ela mesma diz), há pouco embasamento histórico que promova a educação destas pessoas que sabem pouco sobre feminismo. Há também quase nada de pensamento crítico ou fatos/exemplos reais da sociedade que demonstrem os pontos apresentados ao longo da leitura. Se hooks quer realmente aproximar o público do feminismo, eu não acho que ela tenha conseguido. Ela meramente depositou suas opiniões pessoais no papel e as diz como se fossem verdades não-passíveis de reflexão ou discussão.
Sobre o livro em si, tenho que dizer que a escrita de bell hooks não me inspirou como imaginei que faria. Embora exista uma divisão de temas/capítulos, a sensação que tive foi a de que hooks repetiu as mesmas idéias o tempo todo, apenas mudando a ordem das palavras ou das frases.
Lendo algumas resenhas desta obra, encontrei com frequência a opinião de que a escrita de hooks, nos últimos tempos, decaiu em qualidade, o que me fez pensar que talvez eu não tenha escolhido o livro certo dela como introdução à sua obra.
Lendo algumas resenhas desta obra, encontrei com frequência a opinião de que a escrita de hooks, nos últimos tempos, decaiu em qualidade, o que me fez pensar que talvez eu não tenha escolhido o livro certo dela como introdução à sua obra.
A coisa toda foi uma tremenda decepção. Fiquei pensando nas pessoas que não entendem sobre feminismo, estavam dispostas a se educar - o que é maravilhoso - e talvez tenham escolhido este livro pelo título acolhedor. É uma pena que ele não cumpra seu objetivo e não entregue o que devia.
Para ninguém dizer que não me esforcei em encontrar algo positivo, pelo menos acredito que o livro leve à discussão e ao debate. Apontar as incoerências de hooks é um bom jeito de aprofundar o entendimento sobre o feminismo e trazer temas importantes à tona. Mas, ainda assim, não é uma leitura que eu recomendo.
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