Já comentei aqui no blog que estou numa saga pessoal dedicada a ler todas (ou quase) distopias disponíveis atualmente no mercado editorial. Até agora, infelizmente, esta saga me proporcionou mais decepções do que alegrias e, no post de hoje, falarei sobre mais um livro que entrou para esta triste lista - Temporada dos Ossos, de Samantha Shannon.
"Temporada dos Ossos" é uma distopia diferente, e este mérito darei a Shannon, porque é uma ficção sobrenatural. O componente de distopia envolve uma sociedade que expulsou de seu núcleo todas as pessoas que podem acessar o éter (chamadas de desnaturais) e, a partir dele, interagir com espíritos, o que confere a parte sobrenatural da trama. Quando li a sinopse fiquei intrigada em saber como essa dinâmica possível e agora, depois de tantas páginas, sei que não é.
A protagonista da história é Paige Mahoney, uma andarilha onírica que faz parte de um sindicato criminoso, controlado por Jaxon Hall. Jax gosta de colecionar os desnaturais mais poderosos e empregá-los em atividades ilegais, e este grupo especial sob seu comando é denominado Sete Selos. Andarilhos oníricos são extremamente raros e Jax explora bastante Paige, que não só acessa a aura de outras pessoas como também consegue "invadir" seus espaços oníricos, controlando aquela pessoa numa espécie de possessão.
Depois de matar dois guardas numa intervenção policial, Paige é drogada e sequestrada e acorda em uma prisão em Oxford. Lá, ela descobre que os Rephaites recrutam e escravizam desnaturais, formando uma colônia penal que visa proteger o mundo da ameaça dos Enim.
Se você está confuso sobre o que (ou quem) são Rephaites e Enim, você não está sozinho, e esse é o primeiro ponto negativo da leitura para mim. Shannon jorra elementos fantásticos e não se esforça muito em explicá-los ou contextualizá-los. Talvez ela tenha acreditado que isso daria um toque de mistério à trama mas, para mim, só deixou tudo confuso e bagunçado. Mas, em linhas gerais, os Rephaites são criaturas humanóides feitas a partir do éter e os Enim são uma espécie de zumbis.
Paige recebe um mestre, Warden, ao mesmo tempo em que descobre a estrutura de castas daquela colônia penal, bem como os horríveis testes pelos quais tem que passar para ganhar a confiança dos Rephaite e obter algum tipo de dignidade enquanto vive ali (como, por exemplo, comida, abrigo e remédios). E como Paige é a protagonista de uma distopia, é claro que ela começa a pensar numa revolução contra os Rephaite.
São tantas as coisas que me incomodaram na leitura que achei mais fácil organizá-las numa lista:
- Se tirarmos os componentes sobrenaturais da história, ficamos com uma narrativa absurdamente clichê e requentada: a heroína que injustiçada que se apaixona pelo inimigo. Não há nenhum evento em particular que tenha me despertado interesse ou atenção, pois o desenrolar da trama é bastante previsível.
- O universo fantástico de Shannon é ridiculamente confuso e complicado. Logo de cara eu me assustei pois, antes mesmo da leitura começar, o livro te apresenta organogramas (!) das categorias dos desnaturais. São muitos nomes e conceitos sem pé nem cabeça e, conforme o leitor avança na leitura, precisa voltar nos organogramas para entender o que Shannon está narrando. Pareceu muito mais um estudo de TCC do que uma leitura. Além disso, me perguntei porquê Shannon se deu ao trabalho de inventar tantos nomes/conceitos se, no final das contas, usa menos da metade deles na história em si. Só serve para confundir.
- Shannon descreve um monte de coisas, mas não as coisas que realmente interessam, e mais da metade do livro é pura exposição inútil.
- Uma das piores partes da história é quando Paige se apaixona por Warden e eles transam. Não tinha nada, absolutamente nada, nada nada nada mesmo, que fizesse isso ter sentido (ou mesmo relevância) na trama. Sem contar que o tom sexual aparece de repente, totalmente incoerente com o restante do tom de Shannon, e mais incomoda do que excita. E, para piorar, Paige tem 19 anos e Warden mais de 200. Me lembrou um outro livro (que também detestei) chamado "Enraizados" de Naomi Novik.
- Não me conectei com nenhum personagem, e muito menos com Paige. Nenhum deles é memorável ou carismático o suficiente para sustentar um vínculo com o leitor.
- Segui na leitura esperando que o núcleo fantástico envolvendo os Rephaite e os Enim fosse ser desenvolvido, e de fato foi, mas deixou tudo ainda pior - o que parecia impossível. Conforme Warden explica as coisas para Paige, tudo soa tão bobo e foi um baita anti-clímax.
Eu tentei, juro, mas não encontrei nada positivo neste livro.
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