Já Li #54 - A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery


Recentemente, li "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery e, apesar de não ter gostado tanto do livro, me interessei pelo estilo de escrita dela. Agora, li "A Vida dos Elfos" e este post é sobre ele.

Para ler a resenha de "A Elegância do Ouriço", clique aqui.

A estória do livro "A Vida dos Elfos" gira em torno de duas protagonistas, que se alternam nos capítulos: Maria e Clara. Em comum, elas tem o fato de serem órfãs e de presenciarem acontecimentos fantásticos desde o nascimento, atraindo a atenção de homens e mulheres dispostos a cuidarem delas, por julgarem que elas são especiais. 

O livro começa com Maria, que vive em uma pequena aldeia no interior da França. Ela consegue se comunicar com os animais do bosque e, um dia, recebe a visita de um javali fantástico, que a leva para um outro mundo, onde ela descobre que tem uma missão a cumprir - sem saber qual é esta missão nem quando ela irá aparecer. Maria some por alguns dias, o que mobiliza toda a aldeia para encontrá-la e, ao fazerem, percebem que a menina está diferente, crescida, com um brilho nos olhos que não existia antes. Além disso, a aldeia começa a prosperar nas colheitas e todos atribuem isso aos poderes mágicos de Maria.

"Porém, Maria convivia diariamente com a religião da poesia, quando subia nas árvores e escutava o canto dos galhos e folhas. Compreendera muito cedo que os outros se moviam no campo como cegos e surdos para quem as sinfonias que ela ouvia e os quadros que contemplava não passavam de ruídos da natureza e paisagens mudas." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)

Em paralelo, a estória mostra Clara, que vive em uma cidade interiorana da Itália e vê-se forçada a mudar para a cidade grande, onde tem dificuldades de adaptação. Seu tutor rapidamente descobre que Clara tem um dom natural para a música e ela toca piano com perfeição, sem nunca ter feito sequer uma aula. Assim, ela é levada ao Maestro, que tem com objetivo cuidar de Clara e de sua música. A garota acaba chamando a atenção dos poderosos locais, que querem tirar vantagens financeiras de seu dom.

"Não conheciam nenhum adulto que soubesse tocar assim aquele prelúdio, porque aquela criança tocava com uma tristeza e uma dor de criança mas uma lentidão e uma perfeição de homem maduro, quando ninguém, entre os adultos, conseguia mais alcançar o encantamento do que é jovem e velho ao mesmo tempo." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)

Conforme Clara é pressionada e encurralada pelo Governador, ela começa a ter algumas visões e, nelas, ela conhece Maria. O Maestro percebe estas visões da garota e decide levá-la ao encontro de Maria, saindo da Itália e viajando para a França. Em paralelo, alguns capítulos curtos e informativos são destinados ao Conselho dos Elfos, onde o leitor descobre que o Maestro (e outras personagens secundárias) são, na realidade, elfos enviados ao nosso mundo para protegerem as garotas. Elas tem uma grande responsabilidade na Guerra que está por vir entre a Humanidade e os Elfos. Por isso, Maria e Clara precisam se encontrar rapidamente, para evitar o desastre iminente.

Maria tem uma personalidade mais melancólica, ao passo que Clara é mais pragmática. Sobre Maria, Barbery diz:

"Some-se a isso uma ligeira tristeza, comum às almas cuja inteligência transborda a percepção e que, pelos indícios visíveis em todo canto, mesmo nos lugares protegidos, embora muito pobres, onde ela cresceu, já pressentem as tragédias do mundo." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)

O estilo de escrita truncado de Barbery prejudicou um pouco a minha experiência de conexão com as personagens mas, excetuando isso, gostei de acompanhar a jornada de encontro de Maria e Clara. Barbery exagera nas metáforas e nas descrições e isso torna a leitura cansativa, em alguns momentos, embora, em outros, transforme a narrativa em algo poético. 

Acredito que o leitor não possa esperar um desfecho revelador, tampouco ação: embora Barbey insira uma série de elementos fantásticos na narrativa, a sensação que tive foi de que o foco dela é o crescimento emocional das duas meninas, e não promover um fechamento da parte fantástica da estória. Por isso, o leitor precisa ter suas expectativas bem alinhadas antes de começar a leitura, para não se frustrar com o final do livro. 

"Depois teve um soluço miserável e, como fazem todas as meninas, mesmo as que falam com javalis fantásticos e cavalos de mercúrio, chorou com soluços desesperados, desses que aos doze anos se gastam sem contar, enquanto aos quarenta é tão difícil que eles cheguem." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)

Apesar de ter visto uma série de resenhas negativas sobre esta obra, apreciei a leitura. Alguns pontos de explicação sobre os elfos foram muito interessantes e os elementos surreais do enredo eram bonitos e fizeram minha imaginação voar, nem que fosse por alguns instantes. Maria é uma personagem amável e delicada, e Clara é um excelente contraponto. 

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

0 Comments