Recentemente, li "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery e, apesar de não ter gostado tanto do livro, me interessei pelo estilo de escrita dela. Agora, li "A Vida dos Elfos" e este post é sobre ele.
Para ler a resenha de "A Elegância do Ouriço", clique aqui.
A estória do livro "A Vida dos Elfos" gira em torno de duas protagonistas, que se alternam nos capítulos: Maria e Clara. Em comum, elas tem o fato de serem órfãs e de presenciarem acontecimentos fantásticos desde o nascimento, atraindo a atenção de homens e mulheres dispostos a cuidarem delas, por julgarem que elas são especiais.
O livro começa com Maria, que vive em uma pequena aldeia no interior da França. Ela consegue se comunicar com os animais do bosque e, um dia, recebe a visita de um javali fantástico, que a leva para um outro mundo, onde ela descobre que tem uma missão a cumprir - sem saber qual é esta missão nem quando ela irá aparecer. Maria some por alguns dias, o que mobiliza toda a aldeia para encontrá-la e, ao fazerem, percebem que a menina está diferente, crescida, com um brilho nos olhos que não existia antes. Além disso, a aldeia começa a prosperar nas colheitas e todos atribuem isso aos poderes mágicos de Maria.
"Porém, Maria convivia diariamente com a religião da poesia, quando subia nas árvores e escutava o canto dos galhos e folhas. Compreendera muito cedo que os outros se moviam no campo como cegos e surdos para quem as sinfonias que ela ouvia e os quadros que contemplava não passavam de ruídos da natureza e paisagens mudas." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)
Em paralelo, a estória mostra Clara, que vive em uma cidade interiorana da Itália e vê-se forçada a mudar para a cidade grande, onde tem dificuldades de adaptação. Seu tutor rapidamente descobre que Clara tem um dom natural para a música e ela toca piano com perfeição, sem nunca ter feito sequer uma aula. Assim, ela é levada ao Maestro, que tem com objetivo cuidar de Clara e de sua música. A garota acaba chamando a atenção dos poderosos locais, que querem tirar vantagens financeiras de seu dom.
"Não conheciam nenhum adulto que soubesse tocar assim aquele prelúdio, porque aquela criança tocava com uma tristeza e uma dor de criança mas uma lentidão e uma perfeição de homem maduro, quando ninguém, entre os adultos, conseguia mais alcançar o encantamento do que é jovem e velho ao mesmo tempo." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)
Conforme Clara é pressionada e encurralada pelo Governador, ela começa a ter algumas visões e, nelas, ela conhece Maria. O Maestro percebe estas visões da garota e decide levá-la ao encontro de Maria, saindo da Itália e viajando para a França. Em paralelo, alguns capítulos curtos e informativos são destinados ao Conselho dos Elfos, onde o leitor descobre que o Maestro (e outras personagens secundárias) são, na realidade, elfos enviados ao nosso mundo para protegerem as garotas. Elas tem uma grande responsabilidade na Guerra que está por vir entre a Humanidade e os Elfos. Por isso, Maria e Clara precisam se encontrar rapidamente, para evitar o desastre iminente.
Maria tem uma personalidade mais melancólica, ao passo que Clara é mais pragmática. Sobre Maria, Barbery diz:
"Some-se a isso uma ligeira tristeza, comum às almas cuja inteligência transborda a percepção e que, pelos indícios visíveis em todo canto, mesmo nos lugares protegidos, embora muito pobres, onde ela cresceu, já pressentem as tragédias do mundo." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)
O estilo de escrita truncado de Barbery prejudicou um pouco a minha experiência de conexão com as personagens mas, excetuando isso, gostei de acompanhar a jornada de encontro de Maria e Clara. Barbery exagera nas metáforas e nas descrições e isso torna a leitura cansativa, em alguns momentos, embora, em outros, transforme a narrativa em algo poético.
Acredito que o leitor não possa esperar um desfecho revelador, tampouco ação: embora Barbey insira uma série de elementos fantásticos na narrativa, a sensação que tive foi de que o foco dela é o crescimento emocional das duas meninas, e não promover um fechamento da parte fantástica da estória. Por isso, o leitor precisa ter suas expectativas bem alinhadas antes de começar a leitura, para não se frustrar com o final do livro.
"Depois teve um soluço miserável e, como fazem todas as meninas, mesmo as que falam com javalis fantásticos e cavalos de mercúrio, chorou com soluços desesperados, desses que aos doze anos se gastam sem contar, enquanto aos quarenta é tão difícil que eles cheguem." (A Vida dos Elfos, de Muriel Barbery)
Apesar de ter visto uma série de resenhas negativas sobre esta obra, apreciei a leitura. Alguns pontos de explicação sobre os elfos foram muito interessantes e os elementos surreais do enredo eram bonitos e fizeram minha imaginação voar, nem que fosse por alguns instantes. Maria é uma personagem amável e delicada, e Clara é um excelente contraponto.
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