10 coisas que odiei na adaptação cinematográfica de A Torre Negra, de Stephen King
Antes de mais nada, é bom esclarecer que sou uma grande fã da saga A Torre Negra de Stephen King. Devorei os oito livros que compõem a saga e é a melhor série literária que já li - e olha que já li muita coisa. Por isso, quando anunciaram a adaptação cinematográfica, meu primeiro sentimento foi de empolgação. Porém, saí do cinema suando de raiva e este post é um desabafo sobre o assunto.
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1) A adaptação não foi fiel à essência da saga
Sei que o principal argumento destas batalhas livro x filme é o fato dos filmes serem adaptações e, por isso, não são cópias fiéis dos livros. Até aí tudo bem. Mas quando a adaptação rouba a essência da obra principal, acho o fim da picada - e, na minha opinião, foi exatamente isso o que aconteceu com o filme de A Torre Negra. O fato de terem feito um filme livre para todas as idades tirou muitos elementos que são cruciais para a saga, como a violência, a morte e a decadência das personagens. Estes elementos trazem uma atmosfera muito sombria à saga, tornando-a adulta e bastante profunda. O filme me pareceu uma aventura qualquer de Sessão da Tarde da Globo.
2) A mudança de objetivos de Roland, o protagonista
Roland, o protagonista dos oitos livros, é o melhor anti-herói já escrito, na minha opinião. Ele tem um objetivo muito claro, que é alcançar a Torre Negra e descobrir o começo/fim do Universo. O seu principal antagonista, o Homem de Preto/Walter/Marten é um dos diversos obstáculos que ele tem para chegar à Torre, mas Roland nunca se desvia do seu objetivo. No filme, inverteram os papéis: Roland foi "diminuído" a um sujeito que busca a vingança do assassinato do pai e seu único objetivo é matar Walter, esquecendo-se da Torre a todo momento. Esta modificação também alterou a essência da saga, me enchendo de desgosto.
3) A nova família de Jake Chambers
Dentre as diversas personagens secundárias da saga, escolheram Jake Chambers para o filme. De fato, é ele quem tem o apelo mais comercial, por ser criança, enquanto as demais personagens são drogadas, alcoólatras ou loucas. Mas o que me incomodou de fato foi a mudança significativa de sua personagem: na saga, Jake é uma criança completamente esquecida por pais ausentes e indiferentes à sua existência, o que interfere diretamente em sua personalidade (extremamente madura e racional para uma criança de doze anos) e no seu vínculo com Roland; no filme, apesar de ter uma família "desajustada", Jake conta com uma mãe amável e atenciosa. Talvez por isso, o Jake do filme não me cativou como o do livro, pois careceu de profundidade.
4) A Marvel-ização dos portais entre os mundos
Um dos elementos mais icônicos da saga são as portas que conectam os mundos. Stephen King as descreveu como portas comuns, sem batentes, apenas com dobradiças, que são visíveis apenas de frente e invisíveis de lado. As portas se camuflam no nosso mundo, passando desapercebidas pelas pessoas comuns. No filme, as portas foram transformadas em portais que parecem saídos de filmes dos Vingadores e destoou completamente do resto. Como disse meu namorado, enquanto assistíamos ao filme, parecia que o Thor iria surgir por um dos portais a qualquer momento.
5) A rápida menção aos Feixemotos e a ausência de explicação sobre as esferas
Na minha opinião, o grande fio condutor de A Torre Negra é a teoria de King sobre os mundos, e foi esta teoria que me fisgou de vez. Os mundos são conectados por Feixemotos, que são trajetórias de energia que tem como objetivo unir todas as realidades existentes. Para cada feixemoto, há uma esfera relacionada àquele mundo, por onde é possível vê-lo e controlá-lo. Ambos os elementos são comentados muito rapidamente em uma fala do Homem de Preto, sem maiores explicações ou aprofundamento.
6) A ausência das rosas vermelhas ao redor da Torre
Sei que é um detalhe meramente estético, mas a imagem da Torre rodeada de rosas é muito vívida na saga, sobretudo no final da mesma. Senti falta.
7) A mudança da dinâmica entre Roland e Jake
Caso você não queira spoilers sobre o primeiro livro da saga, "O Pistoleiro", sugiro pular este tópico. Jake e Roland se encontram no primeiro livro, quando Jake morre atropelado no nosso mundo e vai parar no Mundo Médio. Como mencionei anteriormente, Roland só quer saber de chegar na Torre e, por isso, não se vincula à Jake e acaba matando-o para atingir seu objetivo. Eles não viram amigos e saem para comer um cachorro-quente com Coca-Cola como aparece no filme.
8) A cafonice do Homem de Preto
O Homem de Preto é conhecido por muitos nomes na saga, pois aparece como Walter e Marten. Discípulo do Rei Rubro (que só é mencionado no filme por uma pixação em uma parede), ele precisa impedir que Roland chegue à Torre e, consequentemente, ao Rei Rubro. Na saga, o Homem de Preto é um antagonista incrível, à altura de Roland: carismático,imprevisível, sarcástico e bem humorado. O filme transformou um dos melhores vilões da literatura num cara cruel e muito cafona, desde o figurino até o gestual e o tom de voz. Isso sem falar na tintura de cabelo horrorosa que colocaram no Matthew McConaughey.
9) A base do Homem de Preto
De novo, rolou uma Marvel-ização da estória. A base do Homem de Preto também pareceu algo concebido para os Vingadores, destoando do tom original de faroeste-apocalipse da saga. A série Westworld (HBO) está mais próxima do cenário de A Torre Negra do que o próprio filme.
10) O final ridículo
Com todas estas modificações da essência da saga, não é de surpreender que o final tenha sido a coroação da frustração. Se você não quer spoilers sobre o fim do filme, sugiro pular este tópico. O final também pareceu um desfecho de filme de super-herói, quando o "mocinho" mata o "vilão". Primeiro, Roland não é um mocinho e esta é a graça principal dele. Segundo, o objetivo dele é a Torre e não o Homem de Preto. E, terceiro, o Homem de Preto não morreria assim tão facilmente. Foi o auge da minha raiva com esta adaptação que não recomendo ninguém assistir.
Mas, para ninguém dizer que fui apenas negativa, teve um aspecto que gostei: Idris Elba interpretando Roland. Muito se comentou pela escolha dele, pois Roland, no livro, é ruivo, alto e de olhos azuis, e as mudanças físicas propostas pelo filme não foram aceitas por alguns fãs da saga. Idris captou a personalidade de Roland e entregou uma ótima interpretação do protagonista e fiquei satisfeita com ele.
Depois de tudo isso, voltei a ler a saga desde o primeiro volume, pois senti que eu precisava me purificar e retomar o ka-tet do jeito que deve ser. Longos dias e belas noites.
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