Uma das melhores coisas da série Gilmore Girls era a Lorelai Gilmore, também conhecida como Rory. Inteligente, estudiosa, sem paciência para relacionamentos amorosos adolescentes e criada pela mãe solteira, Rory é uma daquelas personagens femininas que nos inspiram até os dias atuais. Ao longo da série, ela menciona 340 livros e este desafio é sobre ler todos eles. Para saber quais livros do desafio o Perplexidade e Silêncio já leu, clique aqui (alguns posts são feitos para outras sessões do blog, mas fazem parte da lista de livros da Rory).
O livro escolhido desta vez foi "O Som e a Fúria", de William Faulkner. Faulkner criou uma cidade imaginária, chamada Yoknapatawpha County (aquela cidade que Rory cita no seu discurso de oradora na formatura da Chilton) e grande parte de suas obras passa-se lá. Ele escreve, predominantemente, sobre os costumes e a vida dos sulistas dos EUA e suas tramas são centradas em questões raciais, políticas e de sexualidade.
"O Som e a Fúria" conta diversas estórias da família Compson, separadas em quatro partes, e, ao longo do livro, Faulkner alterna diversos estilos de narrativa, desde as mais lineares e tradicionais até fluxos de consciência no estilo Virgínia Woolf.
Na primeira parte, a rotina da família é contada do ponto-de-vista de Benjamin "Benjy" Compson, um autista de 33 anos de idade. Faulkner faz um ótimo trabalho ao imaginar como o mundo seria visto por um portador de doença mental, pois em nenhum momento estereotipa ou superficializa a personalidade de Benjamin. Além disso, Faulkner demonstra a dificuldade dos membros da família em lidar com a doença de Benjamin. Ele percebe o tratamento diferenciado que recebe de seus parentes, mas não consegue identificar os preconceitos vindos de sua própria família, apenas o leitor os nota.
A segunda parte é dedicada à Quentin Compson e foi, de longe, minha parte preferida, pois aqui aparecem os fluxos de consciência de Quentin. Porém, apesar de ter sido minha parte preferida, foi muito difícil entendê-la. Os acontecimentos da vida de Quentin não são contados em ordem cronológica e ele alterna, o tempo todo, fluxos de consciência com relatos, o que torna a narrativa muito confusa. Ele é o filho mais inteligente e, por isso, se incomoda bastante com a simplicidade de seus parentes, bem como com o estilo provinciano de vida de sua família. Ele também se preocupa demais com a virgindade e pureza de sua irmã Caddy e entra numa briga com o suposto namorado dela quando ela engravida.
Meu trecho preferido é este: "Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo."
A terceira parte é dedicada a Jason Compson, declaradamente o filho favorito da família. Jason é o membro que possui os objetivos e pensamentos mais práticos e utilitários do grupo, pois a estrutura financeira da família depende dele, depois da morte do pai. Com o passar do tempo, o peso desta responsabilidade o torna amargo e frio, quando no começo do livro (na parte de Benjy) ele era extrovertido e amigável. Achei este trecho muito chato, pois Jason não é uma personagem interessante e o enredo foi narrado de forma linear.
Por fim, a última parte é narrada do ponto-de-vista de Dilsey, a negra chefe dos servos da família Compson. Ao longo do livro, o leitor percebe que a família é branca e rica e tem servos negros, que ajudam nas tarefas da casa. Porém, somente no final Faulkner dá voz a eles. Ela leva toda a família para a "Igreja dos Negros", para que eles conheçam mais sobre sua crença e seus hábitos. Nesta parte, vários conflitos não resolvidos das partes anteriores são concluídos.
Ler Faulkner foi uma experiência com altos e baixos. As estórias de Benjy e Quentin são mais sensíveis e profundas e, por isso, gostei delas. No entanto, não gostei da terceira e quarta partes, pois achei que Faulkner se perdeu um pouco na narrativa. "O Som e a Fúria" não é uma leitura que recomendo, mesmo compreendendo o valor que ela possui.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio:
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